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Empreste o tempo ocioso do seu computador para pesquisas

27 nov 2012 - 08h04
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O compartilhamento de capacidade de processamento de computadores ao redor do mundo tem tornado viável a execução de diversas pesquisas científicas. A partir da computação distribuída (ou em grade), o tempo ocioso do computador - quando a máquina permanece ligada, mas o usuário não utiliza nenhuma função - pode ser empregado na realização de tarefas enviadas por um servidor por meio da nuvem. Assim, o aparelho contribui com a realização de cálculos matemáticos e a ordenação de informações para determinada investigação.

Tempo ocioso de computadores pode ser reaproveitado para processamento de pesquisas científicas
Tempo ocioso de computadores pode ser reaproveitado para processamento de pesquisas científicas
Foto: Shutterstock

No mundo, a existência de mais de um bilhão de computadores faz com que o nível de subutilização seja bastante alto. Para ceder o tempo ocioso da máquina a essas pesquisas, cada usuário é convidado a instalar um programa, que vai rodar na máquina sempre que, enquanto ligada, não estiver realizando nenhuma outra tarefa. É uma espécie de voluntariado. "O recurso ocioso sempre vai existir. Ninguém compra uma máquina para utilizar 100%", entende o Chief Information Officer (CIO) do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), Carlos Sampaio. Com o programa instalado, os computadores operam enviando e recebendo informações de tempos em tempos, sem diminuir o desempenho da máquina durante as atividades do usuário. Além disso, é possível estabelecer quando o software pode começar a funcionar, bem como configurar um limite de capacidade computacional a ser doada.

A lógica é a mesma dos softwares que estabelecem redes peer-to-peer (ponto a ponto) para compartilhamento de arquivos - a exemplo de aplicações como o antigo Napster ou gerenciadores de torrents. A diferença é que troca tarefas em vez de arquivos. "Tem toda uma arquitetura por trás. Cada computador é ao mesmo tempo cliente e servidor, e um módulo coordenador distribui as tarefas", explica Sampaio. A técnica não é exclusiva aos computadores. Há programas que rodam até em dispositivos como o PlayStation 3, que possui capacidade de processamento de grande número de bits nas placas de vídeo que o integram.

A adoção desse tipo de dinâmica reduz custos de infraestrutura, uma vez que o centro de pesquisa só precisará de servidores que coordenem o processo (seu poder computacional não é utilizado diretamente para efetuar os cálculos). Ao mesmo tempo, o papel dessas máquinas é de extrema importância para o funcionamento do sistema. "Se o servidor perde o nó de processamento, pode mandar um computador fazer algo que não vai servir pra nada", ressalta Sampaio.

Para garantir a segurança, o usuário deve se certificar da idoneidade do desenvolvedor antes de baixar o programa. Do contrário, o software instalado pode comandar a máquina não só para fazer cálculos, mas também para acessar determinados sites a fim de abrir uma porta de entrada para malwares. Sampaio destaca que esses projetos geralmente são gerenciados por universidades ou empresas voltadas para a área de tecnologia e pesquisa.

Grade impulsiona volume de processamento

A Universidade de Standford, por exemplo, coordena o projeto Folding@Home, que utiliza recursos obtidos por computação distribuída para simular diferentes de formações de proteínas. Sampaio destaca que a quantidade de resultados supera o volume que poderia ser processado caso esse poder computacional não estivesse reunido, contribuindo diretamente com a indústria farmacêutica.

No Brasil, os usuários não têm o costume de deixar o computador ligado em modo de espera. Por isso, a contribuição brasileira a essas pesquisas ainda é baixa. "É uma questão de cultura", analisa o CIO do C.E.S.A.R. Ainda assim, projetos como o Sprace, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), reúnem computadores em grade e fornecem poder computacional suficiente para analisar dados de diferentes fontes - no caso do Sprace, algumas dessas fontes são aceleradores de partículas mantidos por laboratórios especializados em física nos Estados Unidos e na Europa.

Iniciativa já contribuiu para comparação do genoma

Pesquisas humanitárias também podem ser o foco de projetos de computação distribuída. O World Community Grid (WCG), em funcionamento desde 2004, já serviu de suporte para experimentos que buscavam o aperfeiçoamento dos tratamentos para câncer, além de outros que pretendiam comparar o genoma humano ou criar remédios para a cura dengue - a investigação envolvendo o Genoma, com previsão original para ser realizada em 100 anos, foi finalizada em oito meses. Hoje, alguns desses projetos seguem na grade do WCG, juntamente com outros como o FightAIDS@Home, que busca novas soluções para o controle do vírus.

A diretora de Cidadania da IBM (empresa que lançou a iniciativa), Alcely Barroso, garante que o apoio a esses projetos seria inviável se uma única empresa tivesse que prover toda a estrutura. "Essas interpretações, sem a ajuda do grid (computação em grade), seriam quase impossíveis num prazo exequível de tempo", enfatiza. No início de novembro, o WCG contava com uma comunidade de mais de 600 mil membros. No total, mais de 2,1 milhões de dispositivos estavam conectados à rede e compartilhando sua capacidade de processamento. Os brasileiros somavam pouco mais de 11 mil membros e 37,5 mil máquinas. Com esses recursos, o projeto conseguiu processar dados, até aquele momento, num volume equivalente ao que seria executado em 666.123 anos. "Estima-se que as pessoas usam entre 5% e 10% da capacidade do computador. O resto fica ocioso. A conscientização das pessoas seria um benefício para o mundo todo", avalia Alcely.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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