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Concorrência faz acesso com PNBL ficar mais caro e lento

5 jul 2011 - 08h51
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Daniel Favero

A primeira cidade brasileira a receber o Plano Nacional de Banda Larga é considerada cidade dormitório de Brasília
A primeira cidade brasileira a receber o Plano Nacional de Banda Larga é considerada cidade dormitório de Brasília
Foto: Arquivo / Futura Press

Após o anúncio das 100 primeiras cidades que receberiam o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que prevê a popularização do acesso à internet com preços de R$ 35 por 1 Megabyte de velocidade, os valores cobrados pelas operadoras caiu e a velocidades aumentou a patamares melhores do que os anunciados pelo governo. Isso criou competição em setores da cadeia de acesso à internet que, até então, não existiam. É o que dizem a própria Telebrás, a Sadnet (primeira empresa a assinar o contrato do PNBL) e a Associação Brasileira de Internet (Abranet).

Para o presidente da Abranet, Eduardo Neger, o grande mérito do PNBL pode ser resumido em uma palavra: "competição". Na cadeia de acesso à rede mundial de computadores, os provedores são os responsáveis pelo acesso para o usuário final. No entanto, essa ligação é feita através de operadoras, que possuem os backbones (estrutura de servidor que distribui o sinal). Essas mesmas operadoras controlam a quantidade e velocidade do serviço, e dependendo do caso, competiam com as empresas para as quais vendem o acesso. "Você tem um fornecedor que ao mesmo tempo era o seu concorrente", exemplifica.

Neger diz que já existia concorrência entre as operadoras e provedores na "última milha", como é conhecido o acesso para usuário final, mas com o PNBL, o serviço que era oferecido apenas pelas operadoras sofreu queda de preços com a concorrência. Essa era uma das dificuldades enfrentadas pela Sadnet, provedor localizado na cidade de Santo Antônio do Descoberto (GO), a primeira receber o PNBL, segundo explica o gerente de redes da empresa, Bruno Santana.

"Você ficava na mão de duas operadoras e elas pensavam: 'o provedor é meu concorrente'... O consultor sempre nos dizia que não havia disponibilidade porque era muito distante, que não era economicamente viável. No dia seguinte ao da assinatura do contrato, recebi uma ligação de outro consultor dessa operadora nos oferecendo o dobro da velocidade que a Telebrás oferece, por um preço menor", diz. Ao perguntar sobre a mudança na política de preços, ouviu que se tratava de outro funcionário que não estava muito bem orientado. "Uma boa explicação", ironiza.

De acordo com a Telebrás, o preço do acesso à internet tem caído desde a participação da empresa no mercado e sofreu uma nova queda com o anúncio das 100 primeiras cidades que receberão o PNBL. O primeiro contrato foi assinado com valor abaixo dos R$ 230 estimados por Megabyte, sendo que cada um destes links comporta 10 usuários, a uma velocidade de 1 MB.

O PNBL
Para o presidente da Abranet, definir um padrão de velocidade e preço para todo o Brasil como prega o PNBL, é um erro por causa das grandes diferenças regionais. "Uma coisa é padronizar a banda larga e o preço na Coreia, que é um país pequeno. Outra coisa é fazer isso no Brasil. Se pegarmos o Brasil, de imediato, podemos segregar a região Norte, onde o contexto de instalação de banda larga é diferente de todo o resto do País", explica.

Segundo Neger, os primeiros cabos de fibra ótica só chegaram à cidade de Manaus (a sétima capital mais populosa do Brasil, com 1,8 milhão de habitantes) no final de 2010, até então todas as conexões ocorriam via satélite. "Por essa limitação técnica, a internet lá era mais lenta e mais cara".

Para ele, a situação é diferente no Sul, Sudeste e nas capitais nordestinas, onde o PNBL pode ser considerado obsoleto. "Para quem está em regiões remotas, a velocidade é considerada muito boa, mais do que o suficiente, o que, por outro lado, dificulta a implementação".

Custos
A Telebrás não proverá acesso para o usuário final, vai instalar a infraestrutura com backbones. A primeira empresa escolhida foi a Sadnet, que fornece acesso via rádio. Para que a pessoa possa acessar a internet é necessário que ela adquira um kit composto por antena e modem, cujo preço varia entre R$ 200 e R$ 250, valor considerado alto para as camadas C, D e E, público alvo do PNBL. No entanto, segundo Santana, a Sadnet estuda formas de oferecer parcelamentos para facilitar a compra dos equipamentos.

O presidente da Abranet defende a desoneração dos equipamentos e diz que existem linhas de crédito do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) que podem ser usadas pelos provedores para embutir o preço do equipamento na mensalidade. "O BNDES tem linhas de financiamento com juros de 1% ao mês, com parcelamentos de até 48 meses, para que o provedor possa adquirir o equipamento e dissipar esse calor na mensalidade. Seria uma forma de viabilizar para o assinante a compra do equipamento", explica.

Segundo o gerente de redes da Sadnet, o valor de R$ 35, por acesso de 1 MB, é menor do que o valor médio gasto por jovem nas lanhouses espalhadas pela cidade. "Se um jovem paga R$ 2 por hora de acesso e frequenta a lanhouse por mais de 20 dias em um mês, pode pagar pelo acesso livre de banda larga menos de R$ 35, mas se optar por conexão mais barata, encontra preços de R$ 29,90 por 100 kbps", argumenta.

A Sadnet diz que pretende marcar a implantação do PNBL, que deve começar a funcionar em meados de julho. A inauguração do plano será marcada por um ato organizado pela empresa que vai presentear uma família de baixa renda com um computador e acesso gratuito a internet por pelo menos um ano. Segundo Santana, o ato será um gesto simbólico para marcar o lançamento do plano.

Fonte: Terra
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