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Especialistas contestam perda de usuários do Facebook

21 jun 2011 - 08h11
(atualizado às 09h25)
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Uma série de dados sobre o uso do Facebook divulgados desde a semana passada vem provocando um intenso debate sobre a possível perda de usuários pela rede social em mercados mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha..

A anunciada perda de usuários pode significar apenas o ponto de saturação em alguns mercados
A anunciada perda de usuários pode significar apenas o ponto de saturação em alguns mercados
Foto: AFP

Especialistas consultados pela BBC Brasil, no entanto, divergem sobre a realidade do site e muitos veem as eventuais oscilações no uso da rede como um sintoma da forte penetração do Facebook nos mercados mais desenvolvidos, onde já atinge quase 50% de toda a população.

Os dados divulgados na semana passada pela consultoria Inside Facebook Gold (IFG), que se dedica a monitorar o uso da rede social, indicavam uma possível perda de 5,8 milhões de usuários nos Estados Unidos e de 100 mil na Grã-Bretanha em maio, apesar de um crescimento global de 11,8 milhões, graças ao crescimento em países emergentes como Brasil, Índia, México e Indonésia.

Segundo o IFG, o Facebook tem um total de 687 milhões de usuários no mundo todo, com 149 milhões somente nos Estados Unidos, país com uma população de 313 milhões. No Brasil, os usuários de Facebook teriam chegado a 19 milhões, pouco menos de 10% dos 200 milhões de habitantes.

Vários analistas e órgãos de mídia do mundo todo se apressaram em analisar a razão da possível perda de usuários, com explicações que iam desde saturação, preocupações com privacidade e competição de outros sites.

Mas dados divulgados nos dias seguintes por outras consultorias especializadas em medição de tráfego na internet - entre elas comScore, Nielsen, Compete e Quantcast - indicavam crescimento de usuários do Facebook nos Estados Unidos em maio, contradizendo os números da IFG.

Metodologia confiável

Para o analista Adrian Drury, da consultoria internacional de mídia Ovum, não existe nenhuma metodologia confiável para avaliar com exatidão os números do Facebook. Segundo ele, apenas os próprios administradores do site têm esses dados exatos, que não são divulgados.

"Fiquei espantado com a rapidez com que a imprensa não técnica correu para prever a decadência e o fim do Facebook com base em apenas um dado de um mês de uma única fonte", observa.

Drury também comenta, como outros analistas, que com a proporção de usuários do Facebook chegando a 50% de toda a população nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, novos ganhos se tornam mais difíceis e aumenta a chance de haver oscilação nos números.

"Uma vez que o Facebook atinja uma penetração de 50% em certos mercados, como nos Estados Unidos, isso significa que chegaram ao topo da curva de adoção, a partir do qual ainda há potencial de crescimento, mas numa velocidade menor", observa o analista de mídias sociais Steven Van Belleghem, da consultoria belga InSites.

"Como qualquer nova tecnologia, o Facebook está passando pela tradicional curva de adoção (com um crescimento acelerado até atingir uma certa massa crítica, a partir da qual a continuidade do aumento é reduzida de maneira inversa ao crescimento da penetração total - quanto maior a penetração total, mais difícil se torna ganhar novos usuários)", afirma.

Para o blogueiro australiano Jeff Bullas, especialista em mídias sociais, "com números conflitantes de fontes tão confiáveis, é difícil saber onde está a verdade". "Talvez tenhamos que esperar os dados dos próximos meses, mas é possível que os Estados Unidos e outros países de língua inglesa estejam perto do ponto de saturação", afirma.

Trajetória de queda

O indiano Bhupendra Khamal, diretor-executivo da consultoria InRev Systems, tem uma visão diferente e crê que o Facebook pode de fato estar iniciando uma trajetória de queda. "Coisas legais que crescem rápido também podem cair rápido. Provavelmente o crescimento do Facebook já começou a estancar nos mercados mais maduros", afirma.

Segundo ele, isso pode ser consequência de "mudanças de mercado, preocupações com segurança, mudanças frequentes no site e a ausência de controle de spams".

Ainda assim, ele observa que "a Índia e outras nações emergentes estão crescendo rapidamente em número de usuários do Facebook". "A maior razão para isso parece ser a falta de alternativas. Muitos dos meus amigos sentem que usam o Facebook porque outras redes sociais como Twiter, Foursquare, MySpace e Orkut não reagiram às necessidades dos usuários como o Facebook reagiu", diz.

O analista Paul Harrison, diretor da empresa britânica Carve Consultation, diz ver sinais de uma possível onda de desembarque do Facebook por parte de grupos formadores de opinião. "Isso talvez seja um resultado do próprio sucesso do site. Todo mundo está conectado - a idade média dos usuários do Facebook é de 38 anos. Mas os jovens não querem mais viver publicamente num ambiente onde também estão seus pais", diz.

"Segundo os relatos que tenho ouvido, é a garotada descolada que está deixando o Facebook. Isso é perigoso para o site, porque são os formadores de opinião, os criadores de tendências", afirma.

Liderança

Os analistas consultados pela BBC Brasil também divergem sobre a possibilidade de o Facebook perder espaço ou até mesmo a liderança entre as redes sociais para novos sites.

Entre as redes emergentes, Paul Harrison aponta sites como o Path, que tenta ser uma rede restrita às pessoas mais próximas, com um limite de 50 amigos conectados para cada usuário.

Outro site que, segundo ele, pode despontar como grande força no futuro próximo é o Sassma, que se vende com a promessa de não ter "chatos, puritanos, chefes, marcas e absolutamente nada de Farmville (em referência ao aplicativo popular no Facebook)".

No radar de Harrison está também o Badoo, que diz ser a rede social que mais cresce atualmente. Um contador na página inicial do site indica quase 120 milhões de usuários cadastrados.

Mas outros analistas consideram que não há hoje nenhuma rede social alternativa que apresente uma ameaça real à liderança do Facebook entre os sites deste tipo. "Contanto que eles não tratem mal seus usuários, não vejo uma maneira possível de bater o Facebook", afirma Steven Van Belleghem.

"Algumas pessoas questionam se sites como o Twitter podem tomar o lugar do Facebook, mas eu não acho isso possível. Se você olhar as estatísticas do Twitter, é possível até pensar que ele vai permanecer em apenas um nicho de pessoas", avalia.

Para ele, os usuários do Twitter "podem ser influentes, mas ainda assim são parte de um pequeno nicho". "Há um grande paradoxo nos números do Twitter: o conhecimento do Twitter é enorme, mas o uso permanece bem pequeno", explica.

Para Adrian Drury, o que consolida a posição do Facebook como a rede social mais popular da internet é sua relação com outros sites e dispositivos, que levam o usuário a interagir com o Facebook mesmo sem acessar diretamente o site.

Ele considera difícil imaginar que qualquer outra rede de relacionamento social menor tenha a capacidade de sobreviver como negócio diante da grandiosidade do Facebook.

Um relatório divulgado nesta segunda-feira pela empresa de pesquisas eMarketer indica que o Facebook tomou o posto do Yahoo como a maior receita de publicidade online nos Estados Unidos, com uma previsão de receita de US$ 2,2 bilhões em 2011.

Como comparação, o Google, site mais acessado do mundo, deve ter uma receita total de US$ 1,15 bilhão, segundo o relatório.

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