EUA vê "porta aberta para censura" em proposta de controle da web
10 dez2012 - 14h59
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O governo americano classificou neste domingo como "impasse" a situação da Conferência Mundial em Telecomunicações (WCIT, na sigla em inglês), em Dubai, e ameaçou se retirar do encontro - que vai até sexta-feira. Tudo por causa da proposta apresentada pelos Emirados Árabes de estender o tratado da União Internacional de Telecomunicações (UTI) da ONU à regulamentação da internet, enquanto hoje a maior parte dos padrões se refere à infraestrutura de telecomunicações tradicionais. As informações são do The Telegrapho.
A proposta árabe é de que "governos, setor privado e sociedade civil" tenham um papel na regulação da internet. Há também intenção de que os 193 países-membros da ONU tenham papel equivalente na fiscalização do sistema DNS - que garante que os endereços da web funcionem, hoje controlado pela ICANN, que presta serviço ao governo americano. A coalizão que subscreve o texto tem 22 países, entre os quais Rússia, Arábia Saudita, Argélia e Sudão.
Para os Estados Unidos e seus aliados, a proposta é muito complexa para ser avaliada em tão pouco tempo, até o final da conferência. Fontes próximas ao assunto, por outro lado, acreditam que a preocupação americana é desnecessária, uma vez que a UTI já afirmou que o novo tratado deve ser aprovado por todas as partes.
Em um vídeo postado no domingo, o embaixador americano no WCIT, Terry Kramer, alegando que dar mais poder ao governo sobre as companhias de internet poderia prejudicar a liberdade de expressão. "Abre-se a porta para que haja revisão de conteúdo e censura potencial dessa forma, isso vai criar um ambiente apreensivo na internet", argumentou Kramer. "Exatamente agora parece que estamos num impasse por causa de diferenças filosóficas", completou.
Participantes ouvem discurso de Hamadoun Touré, secretário-geral da UIT, no primeiro dia da conferência em Dubai que pode mudar radicalmente a internet. Na abertura do seminário, Touré declarou que a liberdade da internet "não será coibida ou controlada" e afirmou que o argumento é uma forma "barata" de criticar a conferência
Foto: AP
"A verdade brutal é que a internet permanece sendo em grande parte um privilégio de ricos. Queremos mudar isso", disse Hamadoun Touré, secretário-geral da União Internacional de Telecomunicações (UIT), braço da ONU responsável pelo evento
Foto: EFE
O diretor da União Internacional de Telecomunicações (UIT), François Rancy, durante sessão plenária da conferência mundial. As origens da UIT remontam a 1865, antes mesmo da ONU
Foto: EFE
Hamadoun Touré rebateu as críticas: "Desafiaremos (os críticos) a trazer suas questões à discussão. A questão da governança da internet não terá lugar aqui. Achamos que o ambiente será completamente diferente do que eles esperam", afirmou o secretário-geral
Foto: AFP
O Google, que lidera campanha em oposição ao controle da web nas mãos da ONU, criticou o fato de "apenas governos terem voz na UIT. Engenheiros, empresas e as pessoas que construíram e usam a web não têm voto". A crítica foi rejeitada por Hamadoun Touré (foto), alegando que todos estão participando da conferência (que se estende até 14 de dezembro)
Foto: AFP
Funcionário fixa placa no banner principal da Conferência Mundial em Telecomunicações (Wcit, na sigla em inglês). Evento, que começou nesta segunda-feira em Dubai, discute padrões da web, mas enfrenta críticas de governos e empresas