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Hacker brasileiro diz que ataques no País foram "molecagem"

1 jul 2011 - 12h13
(atualizado às 14h29)
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Carlos Turdera

"Adeus perdedores. Vocês não se infiltraram em nada de interessante, ao contrário do Wikileaks. Qualquer idiota pode baixar o LOIC e executar o script kiddie em sua casa para fazer esse tipo de bloqueio. LoLz, que piada de mau gosto". Assim um usuário do The Pirate Bay saudava os membros do LulzSec, poucas horas depois da "tripulação dos seis", como descreveram a si mesmos, publicar no sábado passado sua carta de despedida - de redação clara e com um certo tom épico - depois de 50 dias provocando inquietação nas redes.

O software LOIC é conhecido como 'arma regulamentar' de todo hacker e tem sido o mais usado até agora
O software LOIC é conhecido como 'arma regulamentar' de todo hacker e tem sido o mais usado até agora
Foto: Reprodução

"São só travessuras de adolescentes. O que temos visto agora tem sido basicamente XSS e DDoS. Nada novo, são técnicas que remontam a 1997", disse ao Terra Daniel, um brasileiro que é referência no meio hacker e que começou a se destacar há mais de uma década por conta de seus talentos. Com 32 anos em 2011, seu trabalho atual consiste justamente em aplicar técnicas de hacking em sistemas de telecomunicações para identificar e corrigir eventuais vulnerabilidades.

O Brasil entrou na semana passada na lista dos países onde as ações dos hackers alcançaram grande repercussão na mídia. Pelo menos três grupos, um deles reivindicando associação com o LulzSec, assumiram a responsabilidade por uma série de interferências em páginas do governo e de empresas estatais. Depois do anúncio do fim das hostilidades dos Lulz, entraram em cena outros grupos que assumem novos ataques e prometem uma escalada.

Pixações eletrônicas

Daniel considera que os ciberataques dos últimos dias são mera 'pixação eletrônica' e prevê que esse tipo de ação aumentará. "Se mesclarmos a popularização das máquinas, o acesso à informação e essa ostentação naqueles que se sentem detentores de um conhecimento quase místico sobre computadores, é de se esperar que aumentem as demonstração", analisa.

Frente às suspeitas de que os ataques desses supostos adolescentes possam tornar-se mais sérios e comprometer a segurança das corporações ou até de entidades oficiais, o hacker rejeita a hipótese. Ele diz que a maioria daqueles que têm conhecimento suficiente para serem ciberpiratas está empregada como administrador de sistemas de empresas de maior ou menor porte.

"No âmbito corporativo, os ataques realmente perigosos são muito difíceis de executar se não houver a colaboração interna de algum empregado infiel porque em geral as redes são robustas e funcionam de maneira autônoma, sem conexão com redes externas, o que diminui muito a possibilidade de invasão", justifica Daniel, lembrando que as infitrações mais alardeadas em empresas brasileiras têm sido produto de vingança de empregados.

Identidade múltipla

No Peru, um grupo que se identificou como Anonymous anunciou a "Operação Los Andes" contra o governo, acusado de monitorar "indiscriminadamente" os usuários peruanos. Resultado: bloqueio de oito páginas do governo no último sábado.

No Chile, o resultado foi a desativação do site da Subsecretaria de Telecomunicações por meio de ataque DDoS.

Na Espanha, aplicaram também o DDoS em uma página da Movistar para denunciar "demissões massivas" e "censura". Mais uma vez, bloqueio, bloqueio, bloqueio....

No Brasil, os objetos de ataque foram as páginas da Presidência, do Senado, dos ministérios do Esporte e da Cultura, da Petrobras, da Infraero e do IBGE, entre outras. Fontes oficiais, no entanto, afirmam que em nenhum caso foi afetada informação que não estivesse já disponível para o público.

A Polícia Federal iniciou formalmente uma investigação, mas ainda que identifique os responsáveis no Brasil, não existe uma lei específica que julgue invasões online. As autoridades adiantaram à imprensa que, se forem pegos, os acusados seriam processados por "perturbação de serviços de utilidade pública", segundo informou a agência AFP.

Na fronteira do crime

Pode-se dizer que o que se tem visto é algo parecido com as marchas do mundo real em que os manifestantes escrevem nas paredes de um prédio público ou mostram imagens em seus cartazes. Ninguém tem entrado nos arquivos protegidos. Até agora. Se alguém entrasse e roubasse um documento, estaria comentendo um delito.

Mas mais que ver na cadeia estes 'ladrões', as grandes empresas preferem tê-los ao seu lado. As versões sobre a contratação por parte do Facebook de Geohot (conhecido por desbloquar o Playstation e o iPhone) é o mais recente exemplo disso, que se soma à estimativa de 2,6 mil hackers recrutados pelo FBI, segundo a CNN.

Explica-se: os danos que esse tipo de roubo vem provocando às grandes corporações podem acabar com elas. Tentando contrariar os efeitos negativos que teve sobre sua imagem, a Sony ofereceu um seguro de proteção a seus clientes de até US$ 1 milhão para enfrentar possíveis usos fraudulentos de seus números de contas bancárias e cartões de crédito, depois dos ataques de junho.

Acesso negado

A revelação de informações ocultas, justamente, é uma das reivindicações de grupos como o Anonymous, cujas ações fazem com quem fiquem próximos da ilegalidade ao mesmo tempo que viram heróis 'hacktivistas'. Daí surge a solidariedade espontânea com organizações mais institucionais, como o Wikileaks representado por Julian Assange, que militam pela universalidade do direito à informação.

A alusão ao Wikileaks leva a considerar a projeção política que poderiam ter as ações registradas nos últimos dias. Tem circulado a hipótese de que existem grupos políticos tradicionais interessados em capitalizar sobre estas intervenções adolescentes. Mas como não tem aparecido nenhuma revelação bombástica até agora, a situação realmente parece mais uma exaltação juvenil do que um incipiente 'hacktivismo'.

"Se vamos falar de hacktivismo, o único campo onde efetivamente há ações significativas é o código aberto e o caso mais claro é a construção do Linux", considera o nosso entrevistado, que observa esse movimento de uma perspectiva que lhe propicia conhecer bem a "velha escola brasileira de hackers", a geração que tem em torno de 40 anos e vive a tranquilidade comum desta idade.

"O resto é pura molecagem", insiste Daniel, que admite implicitamente ter atuado por muito tempo nessa área. "Provavelmente mudarão de nome várias vezes, porque a mídia agora está em volta deles e devem ter se assustado um pouco. A polícia e os serviços de inteligência já têm agentes especializados neste tipo de delito e quando não tem, nos pedem ajuda", conclui o expert.

Fonte: Terra
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