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Estados Unidos

No Twitter, paródia vence a BP depois de vazamento de óleo

8 jun 2010 - 17h36
(atualizado às 17h44)
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Noam Cohen
Do The New York Times

Na manhã da quinta-feira passada, a British Petroleum tentou comunicar a seus quase 12 mil seguidores no Twitter que algo promissor pudesse ter ocorrido no Golfo do México, onde seu poço tem jorrado petróleo descontroladamente há mais de um mês: "O almirante Allen partilha as 'boas notícias' da perfuração bem-sucedida do riser LMRP e explica os próximos passos em @CNN".

O perfil falso faz piada com as desculpas da BP tragédia ecológica: acordo para "escurecer camarões"
O perfil falso faz piada com as desculpas da BP tragédia ecológica: acordo para "escurecer camarões"
Foto: Reprodução

Não exatamente uma peça ousada de relações públicas. Antes que possamos demonstrar nossa descrença com mais um grande avanço para interromper o vazamento, a BP nos dá sua própria versão das notícias. Além disso, a companhia deixa claro que só está reportando o que alguém (almirante Thad Allen, da Guarda Costeira, responsável pela resposta federal ao derramamento de petróleo) disse à CNN.

Se você praticamente consegue enxergar os estrategistas corporativos pouco se importando enquanto publicam a novidade em BP_America, isso talvez se deva pela BP estar ofuscada no Twitter por uma conta satírica muito mais popular, BPGlobalPR, que tem mais de 130 mil seguidores.A página de paródia é atualizada ao longo do dia, oferecendo uma combinação daquele papo de relações públicas no qual "tudo está acontecendo exatamente conforme planejado", humor macabro e episódios ocasionais de fúria genuína.

Ao longo da semana passada, o BPGlobalPR alardeou um acordo para "escurecer camarões" nas estações de gás da BP, associado a fotografias de pelicanos banhados no óleo com os dizeres incomuns "alerta: realmente comovente" e comentando como "nós modestamente fizemos mudanças modestas neste modesto golfo".

Além de seu seguidores, o BPGlobalPR conta com os Re-Tweets, aparecendo em outros feeds de Twitter. No sábado, uma cínica percepção ¿ "Segurança é nossa primeira preocupação. Bem, lucros, depois segurança. Ah, não, lucros, imagem, então segurança, mas, mesmo assim, prioridade" ¿ estava circulando na internet.

O Twitter tem sido elogiado por sua utilidade como microdifusor de notícias. Pessoas de qualquer atividade ¿ cabeleireiros, chefs, políticos ¿ usam o serviço para expressar todo pensamento e conquista profissional a seus seguidores.

Porém, quando você chega ao Twitter com uma marca, ou como a BP, com uma marca manchada, a experiência pode ser cruel ao extremo. Rodeios (se preferir, nuanças) são difíceis de fazer em 140 caracteres, mas tirar sarro é perfeito para o Twitter. A brevidade é a alma do zombeteiro.Em resposta a um pedido de entrevista com o criador do BPGlobal, alguém que se identificou como Leroy Stick explicou a lógica das atualizações, sem dar detalhes pessoais.

"A sátira por si só não consegue fazer atores ruins atuarem melhor, mas pode atrair atenção e direcionar as pessoas para esses atores e suas ações", escreveu Stick numa mensagem no sábado, uma das muitas trocas de e-mail que Stick tem tido com jornalistas. "Muita gente, especialmente no início, me enviou mensagens furiosas por pensar que a conta era legítima. Gosto de imaginar o momento em que eles perceberam que tudo era uma piada e precisaram pensar sobre o que realmente era a conta e o motivo dela existir".

Saber quem é quem no Twitter foi um desafio desde o início: a estrela do basquete Shaquille O¿Neal criou sua conta no Twitter com a insistente identificação The_Real_Shaq após alguém ter fingido ser ele. As imitações se tornaram tão problemáticas que o Twitter criou as "contas verificadas" no ano passado, assegurando os seguidores de que a pessoa no controle era a verdadeira.

O BP_America é uma das contas verificadas no Twitter. Talvez por isso ¿ e pelo humor acima da média do BPGlobalPR ¿ haja tão pouca confusão genuína entre os dois usuários. Até agora, a BP não registrou queixa conta o BPGlobalPR.

Uma porta-voz do Twitter escreveu via e-mail que a companhia favorece uma "troca aberta de informações e ideias entre indivíduos, organizações, corporações e líderes governamentais", incluindo a paródia, para a qual a empresa tem diretrizes. (Pode ser um pouco sem graça, porém, incluir uma nota "isto é uma paródia".) "Se uma marca ou organização sente que está sendo imitada ou que uma conta satírica não segue nossas diretrizes", escreveu, "nós respondemos em 24 horas".

Embora a sátira sempre tenha feito parte de nossa sociedade, certamente há mais tempo do que executivos de relações públicas, a internet está democratizando o processo, afirma Miriam Meckel, professora de comunicação na Suíça e bolsista do Centro Berkman para Internet e Sociedade da Universidade Harvard que estuda o impacto do Twitter e dos serviços de mídia social no jornalismo.

"O que a internet faz é nos dar um monte de maneiras para que pessoas comuns desafiem as grandes marcas", disse Meckel. "Você pode simplesmente ter sua página no Twitter e falar sobre a marca BP. Se você fizer de forma bem feita e sagaz, pode conseguir 100 mil seguidores".

De forma semelhante, explica, movimentos espontâneos no Twitter podem fortalecer marcas ¿ sejam produtos da Apple ou apresentadores de TV prejudicados.

O consenso rápido, o escrutínio imediato, a impaciência geral fazem parte do pacote.

A BP parecia saber disso quando ativou sua conta no Twitter, quase um ano antes da explosão da Deepwater Horizon. Aquele primeiro Tweet não era uma discussão de segurança da exploração costeira ou de conservação. Enviado em 13 de abril de 2009, a postagem era sobre as lojas de comida das estações de gás da BP, que iriam oferecer "cheesebúrger de graça" dois dias depois.

Nenhum camarão escuro foi mencionado.

Tradução: Amy Traduções

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The New York Times
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