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Presos se relacionam por "Facebook carcerário" nos EUA

3 out 2010 - 06h07
(atualizado às 23h04)
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O que sente um réu quando está a ponto de morrer executado? Como é viver toda uma vida atrás das grades? A resposta está em WriteAPrisoner.com, uma espécie de "Facebook carcerário", onde os presos recebem cartas de cidadãos anônimos dando início, às vezes, a uma amizade ou até a um pouco mais.

Na atualidade, 2,3 milhões de americanos estão presos, ou seja, mais de um em cada 100 adultos, conforme pesquisa recente do Pew Center.

O número saltou a partir de 500 mil em 1980, um aumento de 300%, o que representa a maior taxa atual de encarceramento mundial. A partir destes números não é de se estranhar que desde 2000 o portal WriteAPrisoner.com se encarregue de ajudar os presos, milhares deles, a receber cartas de quem vive fora dos presídios.

Para isso publicam na internet seus perfis pessoais, fotografias e informação de contato. O objetivo fundamental: ajudá-los a aguentar a extrema solidão.

Robert Garza, um jovem latino do Texas, apresenta-se assim: "Estou no corredor da morte desde dezembro de 2003. Confinado em uma cela de 2,4 por 3,6 m. Posso sair dela duas horas por dia, cinco dias por semana. Não tenho contato físico com ninguém e a comunicação com meus companheiros é limitada. Se queres ser meu amigo, por favor, escreva-me".

Uma simples busca na internet revela a existência de mais de 5,6 mil perfis. Deles, 1.971 são brancos, 1.937 são afro-americanos, 1.062 são hispânicos e 43 asiáticos. Também há nativos americanos e uma classificação multirracial. Só 8,4% dos perfis registrados correspondem a mulheres.

Entre os usuários há cerca de 800 condenados à prisão perpétua e mais de cem esperam por execução, entre eles, três mulheres. A foto de perfil de Kerry Lyn Dalton, uma loira californiana de 45 anos, poderia passar perfeitamente pela de qualquer mulher de meia idade no Facebook.

Risonha, sorriso imaculado e vontade de viver. Exceto que, como admite em seu perfil, está no corredor da morte desde 1992 acusada de assassinato e assalto à mão armada. "Tenho certeza de que isso pode assustar a alguns", reconhece.

Dalton sustenta que ela não foi culpada e que foi presa sem que as autoridades encontrassem o corpo, sem que a associassem à cena do crime ou existisse a arma do fato.

"Sou inteligente e bastante decente, capaz de manter conversas sérias. Fisicamente? Estou em boa forma. Sou bastante alta, meço 1,73 e danço em segredo. Adoro música. É minha forma de escape", descreve em seu perfil.

Qualquer pessoa pode ter acesso ao site e entrar em contato com os presos, seja através de carta ou e-mail. Os criadores garantem que, além de família e amigos dos réus, existem juízes, militares, advogados e, inclusive, membros de grupos religiosos que participam ativamente.

Existe a possibilidade de incluir uma fotografia própria para entrar em contato com os réus, que recebem correspondências duas vezes ao mês. Os encarregados, posteriormente, imprimem as fotos e as entregam junto ao texto enviado.

Uma vez em contato com o preso é preciso incluir um endereço real para manter correspondência pessoal e não através do site. Entre as regras está a de não enviar mais de cinco e-mails por mês e evitar linguagem inadequada, já que o conteúdo das mensagens é avaliado.

"Entendemos que a natureza deste site pode soar estranho para alguns", admitem os criadores do portal. "Mas não devemos esquecer que as pessoas vão à prisão como forma de castigo pelos crimes que cometeram. Dito isso, também são mandados para lá para se reabilitarem", acrescentam.

A pena de morte está presente em 38 dos 50 estados do país. Quando o castigo foi restabelecido em 1976, contava com o apoio de mais de 80% da população. Pelas últimas pesquisas, no entanto, o apoio reduziu a cerca de 60%.

Aproximadamente 90% dos presos que há nos EUA alcançarão possivelmente a liberdade. Os outros 10%, do qual Dalton faz parte, seguirão vivendo na sombra, imaginando uma vida fora das grades. "Como diria Axl Rose (cantor do Guns N' Roses), ainda posso sorrir", sustenta, impassível, Dalton em seu perfil.

EFE   
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