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Rede "anti-Facebook" cresceu mas ainda precisa melhorar

4 dez 2011 - 12h01
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No momento em que muitos usuários estavam indignados com as mudanças do Facebook quanto a configurações de privacidade, em 2009, quatro estudantes norte-americanos apareceram com a ideia de criar uma rede social em que o usuário tivesse total controle sobre seus dados. A ideia ganhou dos criadores o nome de Diaspora, em abril de 2010, e da mídia especializada o apelido de rede "anti-Facebook".

Diaspora homenageia, na página inicial, um de seus cofundadores, Ilya Zhitomirskiy, que morreu em 14 de novembro
Diaspora homenageia, na página inicial, um de seus cofundadores, Ilya Zhitomirskiy, que morreu em 14 de novembro
Foto: joindiaspora.com / Reprodução

Em 39 dias, os alunos da Universidade de Nova York arrecadaram US$ 200 mil pelo Kickstarter - site em que é possível doar dinheiro para que projetos saiam do papel. Foram mais de 6,5 mil colaboradores, entre eles o próprio Mark Zuckerberg, que com US$ 5 ou US$ 2 mil ajudaram o Diaspora a começar.

A proposta de Dan Grippi, Ilya Zhitomirskiy, Max Salzberg e Raphael Sofaer era criar uma rede social de código-fonte aberto, descentralizada e em que os usuários controlassem suas informações. Este último objetivo, que atraiu as atenções na época em que o Facebook era alvejado de questionamentos sobre suas políticas, é atingido basicamente de duas formas: pela possibilidade de exportar os dados do perfil a qualquer momento, e pela descentralização. A rede social tem diversas URLs e cada usuário pode instalá-la em seu próprio servidor, como se fosse um programa de computador. Com isso, os dados ficam nas mãos do usuário, e não nos servidores centralizados do provedor do serviço, como no caso do Facebook e do Google+.

A história do Diaspora teve alguns episódios marcantes recentemente. No último mês, a rede social anti-Facebook sofreu outro golpe: um dos cofundadores, Ilya Zhitomirskiy, de 22 anos, morreu. Segundo a polícia, existe a suspeita de suicídio, mas apenas uma autópsia - que terá o resultado divulgado em algumas semanas - poderá confirmar ou descartar a hipótese.

Além disso, em outubro, quando os desenvolvedores começaram a pedir doações de "US$ 25 dólares ou o quanto não for fazer falta" aos usuários, para seguir com o projeto, o PayPal bloqueou a conta do grupo. Segundo o Business Insider, "após vários tweets e e-mails dos adeptos do Diaspora, a PayPal descongelou a conta".

Mesmo com os US$ 200 mil inicialmente levantados em mãos - a maior arrecadação do Kickstarter, segundo o TechCrunch -, os estudantes acabaram atrasando a entrega da rede. Mas, ainda que tarde, em setembro do ano passado o código-fonte foi disponibilizado. Baseado em Ruby on Rails e MongoDB, o sistema recebeu muitas críticas, segundo o Mashable.

O site reúne principalmente opiniões de desenvolvedores que olharam o material divulgado no Github e manifestaram preocupação com a segurança dos dados. Os criadores do Diaspora, por outro lado, admitiram que havia muitos bugs nesse sentido, e se apoiaram nos olhos críticos da comunidade interessada no código aberto para conseguir "preencher as lacunas".

Diaspora vs. Facebook e Google+
"Ainda há um longo caminho até o Diaspora se tornar, de verdade, uma rede social capaz de ser chamada de 'anti-Facebook'", avalia o ReadWriteWeb. De fato, outros sites especializados levantam a questão da validade de uma rede social onde não há pessoas o bastante - e logo, não há interação social.

O grande apoio que o Diaspora recebeu dos investidores no Kickstarter parece ter diminuído, o que o Business Insider atribui principalmente a dois fatores. Em primeiro lugar, o Facebook melhorou consideravelmente suas configurações de privacidade, o que teria apaziguado os usuários que em abril de 2010 afirmavam que precisavam de uma rede social alternativa. Além disso, o Google+ entrou em cena em junho e introduziu o conceito dos círculos.

Aliás, o agrupamento dos amigos não é a única semelhança entre Diaspora e Plus. Embora os estudantes de Nova York afirmem que criaram o conceito de "aspectos" antes, foi pelas mãos do gigante de buscas que os usuários o conheceram. Apesar de funcionarem de formas semelhantes, o Gizmag dá pontos extras ao site dos jovens, porque permite filtrar posts cruzando aspectos, enquanto que os círculos só podem ser filtrados um por vez.

As redes também são parecidas por causa do layout em três colunas, que aparece, segundo o Gizmag, até nas medidas de largura, dos espaços em branco e das fontes usados por Diaspora e Google+. A situação sobre quem criou o layout primeiro parece cercada da mesma controvérsia que o conceito dos aspectos/círculos. O desenho aparece como prévia em um post de maio dos alunos norte-americanos, mas foi o Google quem primeiro o ofereceu ao usuário final.

À parte essas questões, a rede de código aberto admite que se inspirou em funcionalidades já existentes nas concorrentes comerciais. Assim que o usuário se cadastra, por exemplo, é sugerido que crie uma pré-seleção de tópicos que os interessa, o que deve ser feito pelo uso de hashtags (as palavras precedidas de #, popularizadas pelo Twitter). O serviço também tem menções usando o nome do usuário precedido da arroba, assim como o recurso "re-compartilhar", uma mistura do retweet do microblog com o compartilhar do Facebook.

E quem supõe que a rede passaria o mais longe de sua "arqui-inimiga" se engana: é possível importar nome e foto de perfil do Facebook para o site dos garotos de Nova York. Além disso, pode-se compartilhar os posts e fotos do Diaspora diretamente no site de Zuckerberg, o que para alguns parece não fazer muito sentido.

Mas, para o TechCrunch, a integração é, ao contrário, uma forma coerente de os criadores da rede social alternativa se manterem firmes aos princípios de internet aberta e de controle total do conteúdo pelos usuários - ou seja, se é deles, podem compartilhar na rede em que quiserem. Além disso, a Wired explica um aspecto do funcionamento do Diaspora que colabora com o argumento do outro site. Segundo a revista, de dentro do serviço alternativo é possível atualizar as redes já existentes, mas quando um usuário da rede aberta inicia uma conversação com outra pessoa que está no Diaspora, as mensagens são encriptadas antes de chegar ao servidor de Zuckerberg. Na prática, então, mesmo com a integração os dados dos usuários são protegidos - e o objetivo dos meninos de Nova York é atingido.

Quanto às funcionalidades disponíveis a Gizmag pondera que os avanços foram significativos desde a primeira versão alfa, e que o Diaspora "virou uma rede social tremendamente utilizável e admiravelmente fundada sobre seus princípios". A lista de destaques do TechCrunch inclui também o aplicativo Cubbi.es, que permite que os usuários, a partir da instalação de plug-ins no Chrome e no Firefox, postem qualquer foto online diretamente em seus murais apenas segurando a tecla shift e clicando na imagem desejada - que entra como pública no stream.

Quanto a princípios, o ReadWriteWeb sugere que, em vez de pedir doações dos usuários, o Diaspora deveria "bater na porta" da Mozilla Foundation. O site enumera uma série de motivos pelos quais a criadora do Firefox deveria abrir essa porta, entre eles a compatibilidade de princípio de internet aberta compartilhado pelas duas iniciativas. "A Diaspora encaixa muito bem no Manifesto da Mozilla", resume um artigo, e acrescenta na sequência que o Thunderbird só mantido sob o argumento de que "é importante". "Argumentaria que ter um competidor de código aberto ao Facebook também é bem importante", conclui.

Por outro lado, pondera o ReadWriteWeb, instalar o código em um servidor próprio é muito dificil para quem não é especializado (ou "nerd", como os criadores da rede se definem). O TechCrunch vai mais longe e opina que projetos de código aberto "são muito bonitos no papel, mas raramente funcionam na prática".

Independente de instalar um pod próprio, uma vez que é possível utilizar a rede em outros servidores (como o diasp.org), o que parece ainda incomoda os usuários, por outro lado, é a lentidão da rede, em comparação com as concorrentes comercias, como aponta o TechCrunch. O site especializado ainda menciona que, para crescer, o Diaspora precisa melhorar a forma de buscar amigos, que ainda não permite encontrar os que já são contatos no Twitter ou no Facebook, por exemplo. A reclamação é ecoada pelo Mashable, que inclusive aponta esta como sendo a principal falha da rede social.

"Não há muito no Diaspora além do que já é oferecido pelo Google+ e pelo Facebook", opina Matt Lunley, do Business Insider. Para ele, não há mais espaço para redes sociais na internet, "independente do tipo de opções de privacidade a mais que o Diaspora oferecer". Mas, para o ReadWriteWeb, a rede social dos estudantes nova-iorquinos ainda tem como diferenciais o fato de ser aberta, descentralizada e distribuída.

O site ainda pondera que "US$ 200 mil não é nada comparado com o que o Google e o Facebook aplicam em desenvolvimento de seus produtos, e o Diaspora conseguiu avançar um longo caminho no último ano". O site ainda afirma há muito trabalho a ser feito se a intenção dos garotos é superar a maior rede social do mundo. "Como sei disso? Um motivo: fiquei sabendo da liberação da segunda leva de convites pelo Facebook", escreve o colunista Joe Brockmeier.

O TechCrunch avalia que "mesmo que não cresça a centenas de milhões de usuários, a alternativa funcional que é o Diaspora poderia influenciar o debate sobre o que uma rede social deveria ser, e inspirar Facebook e Google Plus a adotar algumas das flexibilidades oferecidas pelo Diaspora.

Fonte: Terra
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