Um levantamento feito pelo Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), mapeia o crescimento da participação de brasileiros no Twitter no debate sobre os protestos. A imagem acima mostra a quantidade de pessoas que estão retuitando (compartilhando posts alheios) com a palavra "tarifa", sobre a manifestação contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo no dia 13 de junho, minutos antes do conflito com a polícia. "O retrato dessa rede é a genealogia, o momento inicial do conflito no Brasil. Acho que é a partir daí que se multiplicam as hashtags e o conflito em outros estados", diz Fabio Malini, coordenador do Labic
Foto: Labic / BBC News Brasil
Assim que começa o conflito entre manifestantes e policiais, a atividade na rede se intensifica. "As pessoas começam a dar depoimentos sobre o que está acontecendo e a compartilhar depoimentos de outras", explica Malini. Os pontos no gráfico são os perfis ativos e as linhas vermelhas mostram as "relações" entre eles através do site. Os pontos que aparecem mais fortes e mais ao centro são perfis mais ativos na discussão, de pessoas que são consideradas "autoridades" na rede ou de grupos de mídia, de acordo com Malini
Foto: Labic / BBC News Brasil
Nos dias 16 e 17 de junho, quando as manifestações se espalharam por todo o país, o Labic passou a monitorar a palavra Dilma no Twitter. O gráfico acima mostra cerca de 49 mil "retweets" com o nome da presidente. "Para minha surpresa, encontrei três grandes grupos, que aparecem em cores diferentes.", explica Malini. "O primeiro grupo, azul, é de perfis mais vinculados à oposição, de crítica a Dilma. O grupo vermelho é o mais favorável e mobilizado na defesa da política do governo Federal. Os que aparecem em rosa são veículos de comunicação. Eles aparecem mais como difusores, porque os dois lados compartilham as notícias. A novidade é o grande conglomerado verde, que falam de pautas que os outros não falam. Por exemplo, a questão indígena e ps grandes projetos de desenvolvimento
Foto: Labic / BBC News Brasil
A imagem acima mostra as hashtags mais usadas durante os períodos. Quanto maior a palavra, maior o número de menções
Foto: Labic / BBC News Brasil
O gráfico acima mostra as palavras que mais apareceram nos tweets, além de protesto. "Os verbos de convocação como 'vai' e 'ir', demonstram que os conteúdos públicados possuem uma conotação de mobilização política. A demarcação do advérbio 'hoje' se relaciona com convocatórias de mobilização, de atos. É uma gramática da rua que a rede reflete", diz Malini. A palavra "globo", uma referência à Rede Globo, indica que os protestos "miram na estrutura tradicional de noticiar, e a Globo acaba por levar a culpa por toda a estrutura brasileira de mídia", de acordo com o pesquisador
Foto: Labic / BBC News Brasil
O grupo também distribuiu os tweets pelo país em um mapa. Somente 10% do total, no entanto, contém informações sobre a localização dos usuários. Malini chama a atenção para o fato de que o mapa de tweets tem uma configuração muito semelhante ao mapa do acesso à banda larga no país, criado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)."Os movimentos sociais aprenderam que a internet é estratégica para dar força de comoção às suas lutas. Em compensação, todo um conjunto de protestos foi eclipsado pela falta de acesso a banda larga e rede 3G de qualidade", disse
Foto: Labic / BBC News Brasil
O número de tweets com a palavra "protesto" atinge o ápice no dia 17 de junho, quando ultrapassa a marca de 300 mil. Nos dias subsequentes a menção à palavra cai dramaticamente
Foto: Labic / BBC News Brasil
Da mesma forma, o número de perfis de Twitter participando de discussões sobre os protestos foi maior entre os dias 16 e 19 de junho. A queda em ambos os gráficos, no entanto, mostra apenas que o foco do debate mudou após a diminuição dos protestos. "O universo vocabular tem mudado para (palavras como) assembleia, plebiscito, greve geral, etc.", explica Fabio Malini
Foto: Labic / BBC News Brasil
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Denise Paiero, jornalista, professora e autora da dissertação O protesto como mídia, na mídia e para a mídia: a visibilidade da reivindicação palestrou no primeiro dia do V Congresso de Crimes Eletrônicos e Formas de Proteção, realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e falou sobre a importância das redes sociais durante as manifestações que ocorreram no País no mês de junho.
"As redes sociais passaram a funcionar como agregadoras e organizadoras das manifestações. Elas foram fundamentais para que as coisas acontecessem. As mídias serviram para convocar os protestos e repercutir a participação de quem estava lá. Dava a sensação de pertencimento", analisou.
Felipe Altenfelder, um dos fundadores da Mídia NINJA - Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, movimento ligado ao Circuito Fora do Eixo também comentou o uso das redes sociais durante os protestos e aproveitou para explicar a finalidade da Mídia NINJA.
"A rede cresce no Brasil inteiro e, na hora que surgem ferramentas como o Twitter e o Facebook, resulta em um potencial de replicação bastante eficiente", analisou.
De acordo com Altenfelder, o movimento trabalha com base no desejo de elaborar as próprias narrativas sobre os fatos e tem nas redes sociais o principal meio de veiculação. Um dos resultados da proliferação via rede tem sido o surgimento de novos adeptos. "A Mídia NINJA vem sendo bastante pirateada e a gente fica muito feliz por isso", explicou.
Para ele, as redes sociais diminuíram a distância entre os manifestantes e as ruas, como no caso do Marco Civil da Internet. "Ele ficou aberto para consulta pública e é uma construção coletiva de fato. O que está sendo colocado para aprovação é um texto totalmente diferente. Nas ruas, as pessoas tiveram como debater como nunca, pesquisando na internet", assinalou.
O último dia do Congresso ocorre nesta terça, quando serão debatidos temas como Marco Civil da Internet, anteprojeto de proteção de dados pessoais, tendências do comércio eletrônico e de transações bancárias pela rede, além da palestra sobre a relação entre seres humanos e tecnologia da professora do curso de MBA em Marketing da HSM Educação e diretora da New Media Developers, Martha Gabriel.