PUBLICIDADE

Turquia vive o 'Big Brother' de Orwell com nova lei de internet

6 fev 2014 - 15h29
Compartilhar

A Turquia está prestes a se transformar em um buraco negro dentro do mapa mundial da internet, temem os internautas, depois que foi aprovada, na noite desta quarta-feira, uma nova lei de controle de conteúdos que não desmerece o "Big Brother" imaginado por George Orwell.

Isto não era o que se esperava o ativista Gürkan Özturan quando, no final de 2010, o governo turco, o mesmo que agora aprovou a lei que põe o país no mesmo patamar de China ou Irã, levantou a proibição do YouTube e renunciou uma lei de controle de conteúdos após amplos protestos.

"Pensamos que com os protestos pacíficos tínhamos conseguido ampliar as liberdades", lembra Özturan em conversa com à Agência Efe, "mas agora será muito pior".

Agora, já não será preciso uma ordem judicial para bloquear uma página na internet, como antes: "qualquer alto funcionário pode eliminar em quatro horas qualquer conteúdo que lhe agrade. Basta avisar à Direção de Telecomunicações (TIB)", diz o ativista, membro do Partido Pirata da Turquia. As técnicas utilizadas para interceptar os conteúdos indesejáveis para o governo também sofreram alteração.

Quando os ativistas pediam, em 2010, "Liberdade para YouTube", o popular canal de vídeos era o quarto mais visto na Turquia, apesar de estar proibido.

A nova lei de controle foi aprovada ontem em forma de 16 artigos inseridos em um pacote legal de 125 pontos, e foi apresentada como medida para "proteger à família, às crianças e à juventude de elementos na internet que incitam à dependência às drogas, o abuso sexual e o suicídio", resume o jornal "Hürriyet".

Mas a oposição acredita que o que realmente preocupa o Executivo é que internet se transformou em uma plataforma para divulgar gravações policiais de altos funcionários relacionadas com acusações de corrupção que já forçaram a demissão de quatro ministros em dezembro.

Isso é o que acredita Aykut Erdogdu, deputado do opositor Partido Republicano do Povo, CHP, afirma que a nova lei pretende censurar a informação incômoda.

"O primeiro-ministro nunca se preocupou com a privacidade, até agora, quando atingiu seus ministros, seus filhos e a ele próprio em um caso de corrupção", assegurou Erdogdu.

Quem respalda essa visão é o deputado do partido no governo, Mustafa Elitas que afirma que a lei era necessária para evitar que uma rede infiltrada nas instituições estatais começasse a interceptar gravações de escutas telefônicas.

Um exemplo desta atitude aconteceu na semana passada, quando a TIB exigiu que um deputado da oposição, Umut Oran, apagasse do seu site pessoal uma pergunta parlamentar centrada nas acusações de corrupção contra o Executivo.

O aviso, retirado pela TIB e declarado como "erro administrativo" após ser publicado na imprensa, chamou atenção porque a mesma pergunta constava no site oficial do Parlamento.

Não é apenas a censura que preocupa, já que "o governo está iniciando uma vigilância digital em massa com esta lei, que permite manter muitos dados pessoais de navegação durante muito tempo", diz o professor Erkan Saka.

"Os provedores de internet serão obrigados a manter os dados durante dois anos. A internet será mais lenta e mais cara, mas, acima de tudo, as pessoas começarão a aplicar a autocensura. O governo quer instaurar o império do medo", denúncia o ativista Özturan.

O jornal online "Bianet" informa que a lei fortalece um centralismo autoritário, já que o diretor da TIB será nomeado pelos serviços secretos turcos, MIT, por sua vez submetidos unicamente ao controle do primeiro-ministro.

O presidente, Abdullah Gül, ainda tem que assinar a lei para que entre em vigor. Contudo, ainda que recentemente ele tenha ressaltado sua postura "liberal" em assuntos de internet, analistas turcos acreditam que ele não irá vetar.

EFE   
Compartilhar
TAGS
Publicidade