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Acordo entre best-seller americano e Amazon assusta editoras

16 dez 2009 - 09h45
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Desde que os livros eletrônicos surgiram como um grande mercado em crescimento, a preocupação das principais editoras de Nova York tem sido a possibilidade dos grandes autores assinarem acordos diretamente com distribuidores de e-book ou outro empreendimento, passando inteiramente por cima de editoras tradicionais. Agora, um dos escritores mais vendidos nos Estados Unidos, está fazendo exatamente isso.

A Amazon é a criadora do popular leitor de e-books Kindle e uma das maiores vendedoras de livro dos EUA
A Amazon é a criadora do popular leitor de e-books Kindle e uma das maiores vendedoras de livro dos EUA
Foto: Divulgação

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Stephen R. Covey, um dos autores mais bem-sucedidos na seção de negócios das últimas duas décadas, retirou da sua editora impressa Simon & Schuster, uma divisão da CBS Corp., os direitos de e-books sobre dois de seus livros mais vendidos e os passou à Amazon.com por um ano.

A Amazon, criadora do popular leitor de livros eletrônicos Kindle e uma das maiores vendedoras de livro dos Estados Unidos, terá os direitos exclusivos para comercializar as edições eletrônicas de "Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes" e um trabalho mais recente, "Liderança Baseada em Princípios". Covey também planeja disponibilizar gradualmente outros e-books exclusivamente na Amazon, que vai promovê-los em seu site.

A iniciativa promete aumentar os já altos níveis de ansiedade das editoras sobre a lógica econômica da publicação digital e pode oferecer aos escritores uma maneira de lucrar mais com seus trabalhos do que conseguem na forma tradicional. Covey disponibiliza seus livros na Amazon através da RosettaBooks, uma editora eletrônica que comercializa principalmente obras mais antigas de escritores como Kurt Vonnegut e Virginia Woolf.

Arthur Klebanoff, chefe-executivo da RosettaBooks, disse que Covey receberá mais da metade do produto líquido que a editora eletrônica recebe da Amazon em suas vendas. Em contraste, as editoras tradicionais normalmente cedem aos escritores 25% do produto líquido. "Existem superestrelas, e superestrelas podem mais", disse Klebanoff.

Sean Covey, filho de Stephen R. Covey e chefe de inovação da Franklin Covey, uma firma de consultoria e capacitação que também publica livros de negócio, disse que a maior parcela nos direitos autorais foi "um fator" na decisão de optar pela Amazon. Stephen R. Covey também ficou particularmente atraído pelos planos da Amazon de promover intensamente as edições eletrônicas de "Sete Hábitos" e "Liderança Baseada em Princípios".

Sua decisão surge em um momento no qual as editoras ampliam seus esforços para manter os direitos digitais dos títulos ativos em seu catálogo - livros publicados muitos anos, se não décadas, atrás. Esses livros podem ser de vital importância para as editoras por serem reimpressos ano após ano e fornecerem um fluxo de renda garantida sem grande esforço de marketing. "Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes", publicado originalmente em 1989, é uma venda garantida para a Simon & Schuster. Apenas este ano, foram vendidas 136 mil cópias em brochura, de acordo com a Nielsen BookScan, que geralmente monitora 70% das vendas.

Muitos autores e agentes afirmam que, como os contratos dos livros antigos não citam explicitamente direitos eletrônicos, a escolha recai sobre o escritor. Grandes editoras argumentam que cláusulas como "na forma de livro" ou frases que proíbem "edições concorrentes" impedem os autores de publicar e-books através de terceiros.

Adam Rothberg, porta-voz da Simon & Schuster, se negou a comentar especificamente a respeito do caso de Covey, mas disse: "Nossa posição é que as edições eletrônicas de títulos do nosso catálogo pertencem à Simon & Schuster, e temos a intenção de proteger nossa participação nessas publicações". Outras editoras passaram a defender sua parcela sobre os direitos eletrônicos de títulos antigos. Na sexta-feira, a Random House enviou uma carta a dezenas de agentes literários declarando que detém sobre os livros de seu catálogo "o direito exclusivo de publicar em formatos de livro eletrônico".

Sean Covey disse que a decisão de publicar as edições eletrônicas de dois títulos antigos por meio da RosettaBooks e da Amazon não foi o resultado de alguma insatisfação com a Simon & Schuster. Ele observou que tanto ele quanto seu pai continuam a publicar livros pela Simon & Schuster e vão continuar a fazê-lo. Mas o jovem Covey apontou que a Franklin Covey também está experimentando a publicação própria de novos livros, uma outra maneira de excluir a editora impressa tradicional. Em agosto, a empresa publicou "Predictable Results in Unpredictable Times", de Stephen R. Covey, Bob Whitman e Breck England. Ela relançou uma edição eletrônica por meio da RosettaBooks e exclusivamente para o Kindle.

Sean Covey disse que seu pai era o coautor de outro livro, "Great Work, Great Career¿, que a Franklin Covey publicou sozinha. A Amazon está recebendo pré-encomendas. Esse livro será relançado em uma edição eletrônica exclusiva para o Kindle.

O embate sobre e-books faz parte de um jogo de xadrez multidimensional sendo disputado entre editoras, autores, agentes e livrarias. As grandes editoras detestam o preço único de US$ 9,99 dos livros eletrônicos que a Amazon e outros estabeleceram para os títulos mais novos. Embora as lojas estejam subsidiando esse valor, executivos das editoras afirmam acreditar que tal preço prejudica o mercado dos livros impressos, mais caros, e algumas delas reagiram anunciando que vão adiar a publicação de certos e-books em vários meses após o lançamento da versão em capa dura.

Na semana passada, a Simon & Schuster disse que atrasaria em quatro meses as versões eletrônicas de 35 títulos que serão publicados em capa dura entre janeiro e abril. Tanto Hachette Book Group, quanto HarperCollins Publishers Worldwide também indicaram que adiarão edições eletrônicas de seus livros. Reagindo ao anúncio, Drew Herdener, porta-voz da Amazon, criticou diretamente a Simon & Schuster e sua chefe-executiva Carolyn Reidy. "A Simon & Schuster está retrocedendo", disse Herdener. "Carolyn quer encurralar os leitores, forçá-los a comprar o que não comprariam se tivessem escolha. Não vai funcionar. A melhor atitude é abraçar a evolução do livro e dar aos consumidores o que eles querem. Editoras progressistas vão lucrar muito".

Rothberg, o porta-voz da Simon & Schuster, disse que sua companhia não quer prejudicar ninguém. "A noção de que fizemos qualquer coisa diferente de abraçar calorosamente a revolução digital, com e-books ou outros formatos, chegando aos nossos leitores onde quer que estejam, assim como toda oportunidade oferecida pela nova era digital, é obviamente absurda", disse. Ele acrescentou, porém, "nós entendemos que existe muito em jogo e queremos discutir mais com a Amazon sobre como ampliar esse negócio sem levar a discussão para o lado pessoal".

Mike Shatzkin, chefe-executivo da Idea Logical, que orienta editoras em estratégias digitais, disse que as editoras estão tentando minimizar a influência externa da Amazon no setor de livros e preservar a sua própria. "As editoras estão tentando arrebanhar a Amazon em um canto e deixá-la ali", disse ele. "Mas acredito que será uma situação muito difícil para as grandes editoras controlarem".

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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