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Futuro da tecnologia depende de ideias 'malucas', diz CEO do Google

18 jan 2013 - 17h36
(atualizado às 17h36)
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O lema dele é "10 vezes", de 10 vezes mais. Para Larry Page, cofundador e hoje CEO do Google, não basta crescer apenas 10%, isso significa que a empresa não está indo mal, mas não representa um grande crescimento. Para Page, os funcionários devem criar produtos 10 vezes melhor que os que já existem.

Larry Page, cocriador do buscador mais usado da web, critica Facebook e Apple e fala sobre mercado de tecnologia
Larry Page, cocriador do buscador mais usado da web, critica Facebook e Apple e fala sobre mercado de tecnologia
Foto: AFP

Infográfico: Quanto viaja uma busca? Veja 10 curiosidades sobre o Google

A inspiração para criar o que hoje é o maior site de buscas da web surgiu quando ainda era graduando na Universidade de Michigan, em um seminário de liderança, em que ouviu dizer que era preciso ter "um desprezo saudável pelo impossível". Depois, já na Universidade de Stanford, o hoje CEO transformou a ideia de uma ferramenta para indexar a web no Google.

Em entrevista à Wired, Page fala sobre o mercado de tecnologia, em que pouco há de realmente inovador, e inclui a Motorola - aquisição recente do gigante de buscas - como um dos braços de novidades de Mountain View. O CEO explica como a divisão de "maluquices" Google X se encaixa na visão da companhia de desenvolvimento do setor, critica o Facebook e a Apple, e comenta sobre o sucesso do Android.

Rumos do setor

"Acho que algo de muito errado aconteceu com a forma como tocamos empresas de tecnologia", começa Page, citando a cobertura da mídia especializada como prova de que, aparentemente, o setor funciona a partir da superação da concorrência. "Qual estímulo você tem de ir trabalhar se o melhor que você pode fazer é perseguir outra companhia que faz praticamente a mesma coisa?", questiona.

Para o executivo, é na falta de inovação que está a explicação para a derrocada de determinados serviços na web. Para manter os funcionários motivados, é preciso lembrá-los que podem criar algo realmente novo. "Uma grande parte do meu trabalho é manter as pessoas focadas em coisas que não são apenas melhorias", afirma, citando o Gmail como exemplo. "Éramos uma companhia de buscas, foi uma reviravolta ter um produto de e-mails, ainda mais um que oferecia 100 vezes mais armazenamento do que qualquer outro. Isso não é algo que poderíamos fazer acontecer se estivéssemos só pensando em melhorias", explica.

Mas, é claro, é necessário aperfeiçoar os serviços sempre mais. "Mas a cada n anos você deveria trabalhar em algo completamente novo e que você acha que é realmente maravilhoso", diz Page.

Divisão de "maluquices"

É por causa dessa visão que ele criou a divisão Google X, voltada a produtos "mirabolantes", como o carro que dirige sozinho e o óculos de realidade aumentada. "Você talvez diga que a Apple só faz uma quantidade muito, muito pequena de coisas, e que isso está funcionando muito bem para eles. Mas acho isso insatisfatório. Acho que existem muitas possibilidades no mundo para usar a tecnologia de modo a fazer a vida das pessoas melhores", justifica, estimando que todas as empresas do setor dão conta de apenas 1% das oportunidades. "Isso significa que há 99% de território virgem", indica.

Sobre os investidores, que se preocupam com os altos valores investidos em "maluquices", Page é direto: "se você não está fazendo algo maluco, vocês está fazendo as coisas erradas". Por outro lado, ele lembra que é preciso pensar em como ganhar dinheiro com as invenções, garantindo a sustentabilidade dos negócios. "Quando eu era criança queria ser inventor, mas então percebi que há muitas histórias tristes sobre inventores como Nikola Tesla (engenheiro que criou o sistema de abastecimento elétrico por corrente alternada), pessoas incríveis que não tiveram muito impacto porque não transformaram seus inventos em negócios", aponta.

O CEO do Google acredita que a falta de mais pessoas dispostas a desenvolver projetos "mirabolantes" vem da falta de formação e de estímulo para isso. "Não é fácil criar esses projetos", diz, citando conhecimentos em programação, administração e empreendedorismo como necessários aos que desejam tentar. Além disso, ele fala sobre ideias que amadurecem. "Eu queria fazer (carros autônomos) desde que estava em Stanford. Isso foi há 14 anos. A única coisa que mudou é que agora temos a coragem para tirar isso do papel", exemplifica.

Android, Apple e Facebook

Page também comenta sobre o sucesso do Android, o sistema operacional mobile do Google, que disputa mercado com o iOS da Apple. Questionado sobre se o SO se manterá líder do segmento, ele responde apenas que o sistema tem sido bem sucedido e que isso excita a companhia. E quanto à ameaça que Steve Jobs, ex-CEO da Apple, fez de que lutaria até o fim para derrubar o Android, ideia que ele dizia ser roubada da Maçã, o executivo-chefe do Google apenas ironiza: "e como estão indo essas coisas?".

Para o cocriador da gigante de tecnologia, a compra da empresa que criou as bases do Android, em 2005, não significou um ato tão louvável de visão empresarial. "Quando compramos o Android era muito óbvio que os sistemas operacionais mobile da época eram terríveis. Não dava para criar softwares para eles. Compare com o temos agora. Só o que precisamos (na época) foi ter a convicção para fazer um investimento a longo prazo e acreditar que as coisas podiam ser muito melhores", avalia.

Sobre litígios em geral, também é breve, alegando que nenhuma empresa estagnou por causa de um litígio ou de concorrentes. "As companhias falham porque fazem coisas erradas, ou (porque) não são ambiciosas", resume.

Voltando ao assunto das concorrências, Page é enfático ao discordar que o Google+ esteja correndo atrás do Facebook. "Sim, eles são uma grande companhia no setor, mas eles também estão fazendo um péssimo trabalho com o produto deles. Para que a gente tenha sucesso, é preciso que alguma outra companhia falhe? Não. Na verdade, estamos fazendo algo diferente", afirma, completando que é "é indignante dizer que só há espaço para uma companhia no setor". Reforçando o argumento, lembra que quando o Google começou nas buscas, previu-se seu fracasso, porque já havia cinco outras ferramentas semelhantes no ar. "Dissemos, 'somos uma empresa de busca, mas estamos fazendo algo diferente'", relata.

Segundo Page, a companhia de Mountain View tem feito "muitas coisas legais, muitas das quais foram até copiadas pela concorrência", o que seria sinal de aprovação. E falando em concorrência e mercados compartilhados, o CEO do Google comenta a decisão da Apple de lançar uma ferramenta própria de mapas como nativa do iOS 6, sistema operacional do iPhone 5. "Trabalhamos há muito tempo com o Mapas, e é legal ver as pessoas se darem conta de quanto esforço foi investido nisso, estão valorizando mais agora", diz. O assunto também levanta a oposição entre sistemas abertos (como o Google vê o Android), e os fechados, como o da Apple. Para o executivo, a diversidade de sistemas, com cada empresa "tentando cercar tudo" o que é proprietário, diminui o ritmo da inovação.

Motorola e hardware

O CEO do Google também rebate a ideia de que a companhia de buscas comprou a Motorola Mobility por US$ 12,5 bilhões em 2011 para ter acesso ao portfólio de patentes. "Estamos tocando (a Motorola) de forma independente. Há muito espaço para inovação em hardware", aponta, usando como exemplo o vidro que recobre as telas dos smartphones atuais, com altos riscos de quebra em caso de queda. "Em cinco ou 10 anos não via mais ser assim, vai haver muita mudança", garante.

Rotina de inovação

O executivo afirma que passa a maior parte do seu tempo "garantindo que o usuário tenha uma experiência consistente nos produtos principais" da empresa, o que inclui interface e usabilidade, por exemplo. "Não é uma boa experiência se existem 50 formas diferentes de compartilhar uma coisa", exemplifica. E como é implementar mudanças sendo uma companhia tão grande? O executivo diz que é mais difícil, mas que no lado positivo há um bilhão de usuários dos serviços de Mountain View.

Em relação aos funcionários da empresa, o trabalho é mantê-los estimulados para criar grandes inovações. E como fazer isso em uma empresa tão grande? Para Page, em termos de número de funcionários o Google é médio. Além disso, se a empresa chegar à casa dos milhões de colaboradores, haverá um jeito. "Tudo é escalonável", resume o executivo, afirmando que sim, gostaria de ser maior.

"Poderíamos contratar pessoas e ainda assim ser realmente inovadores. Isso seria ótimo para nós. Somos uma das maiores companhias do mundo, e eu gostaria de nos ver fazendo mais coisas - não só o que alguém mais já fez, mas algo novo", conclui Larry Page.

Fonte: Terra
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