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Vietnã é a "nova China" para as empresas de tecnologia

17 jun 2010 - 16h39
(atualizado em 23/7/2018 às 09h41)
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Alexandre Rodrigues

Dois episódios:

Na semana passada, ao anunciar um aumento para os funcionários de suas fábricas na China, a indústria de eletrônicos Foxconn, que produz aparelhos para várias empresas, como iPhones e iPad para a Apple e impressoras para a HP, anunciou também que está transferindo parte de sua produção para o Vietnã.

Em abril, o Google anunciou que e-mails e outras informações sobre militantes políticos foram hackeados a partir do mesmo Vietnã, denunciando o governo local como responsável pelo ataque.

O que os dois casos têm em comum? Revelam algo que já é uma realidade no mundo da tecnologia: o Vietnã começa a ganhar evidência. Seja nos investimentos, na tranferência de fábricas de outros países asiáticos ou na maneira como o governo censura a internet, o Vietnã cada vez mais se afirma como a "nova China".

A combinação de salários baixos, trabalhadores qualificados, sindicalismo inexistente e controle do governo da vida política está na base do imenso sucesso econômico da China, aponta a revista de negócios . O Vietnã segue o mesmo caminho. É um país socialista, cujo regime, como o chinês, sobreviveu ao fim da União Soviética e do comunismo, nos anos 90. Tem uma população estimada de 84 milhões.

Trabalhadores baratos, mas condições melhores

Como na China em seus primórdios, o regime vietnamita usa a mão-de-obra barata para atrair empresas. Nisso, compete com a própria China, cujos salários, após duas décadas de desenvolvimento, finalmente vem deixando de ser "competitivos". A lógica do capitalismo é procurar novos locais com custos menores e no processo o país vem conseguindo atrair investimentos, graças, pricipal e ironicamente, aos Estados Unidos, inimigo na Guerra do Vietnã, encerrada em 1975. Assim como no restante da economia, é das empresas americanas a maior parte do dinheiro aplicado no setor de tecnologia vietnamita.

A Intel investiu US$ 300 milhões em uma fábrica de chips e peças de computadores, ainda em construção. É atualmente o principal investimento estrangeiro em pesquisa de alta tecnologia no país, informa a empresa. Já a Foxconn, de Taiwan, mantém desde 2007 duas fábricas de chips - próximas à capital, Hanói - no país. Um investimento de uS$ 5 bilhões que produz eletrônicos e acessórios para computadores.

Katolec, uma empresa japonesa, fabrica chips no país. A francesa Alcatel-Lucent há 20 anos investe no setor de telefonia - embora a maior empresa do país no setor seja a local Mobifone. Ainda que o setor de tecnologia corresponda a menos de 1% da economia, está crescendo.

Mas ao contrário do que é visto na China, onde as condições de trabalho são duras - trabalhadores, por exemplo, são obrigados a morar nas fábricas, o que teria contribuído para uma onda de suicídios na Foxconn que já matou 12 empregados este ano -, no Vietnã são consideradas melhores. Os alojamentos ficam distantes do trabalho e o principál parque industrial do país, em Hanói, não está localizado em uma região remota. Multinacionais e organizações locais costumam monitorar a exploração do trabalho local, exigindo das empresas .

Tecnologia espacial

Em 2007, o Vietnã também entrou na lista dos - poucos - países que desenvolvem tecnologia espacial. Desde os anos 80 mantém um programa de exploração do espaço. Começou como parceiro da União Soviética, mas a partir dos anos 90 se voltou para os Estados Unidos. Mesmo com a inauguração, em 2007, do Instituto de Tecnologia Espacial (a versão local da Nasa ou, no caso do Brasil, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o programa ainda é o mais modesto entre os países asiáticos, admite Nguyen Khoa Son, vice-presidente. No entanto, vem mostrando algum progresso na área de telecomunicações. Desde 2006 a empresa americana Lockheed Martin desenvolve o primeiro satélite vietnamita.

O principal centro de formação de cientistas e programadores é a Universidade de Hanói. Tem cerca de 40 mil alunos, submetidos ao processo de entrada considerado o mais difícil no Vietnã. A universidade também faz parceria com dezenas de instituições estrangeiras.

Calcanhar-de-Aquiles

Apesar do avanço, o país também enfrenta percalços. Não faltam computadores vietnamitas, com hardware e software locais, mas os impostos altos no país levam os fabricantes a exportar primeiro e depois importar as mesmas para montar as máquinas. É uma prática comum, segundo a Forbes.

A repressão política é outro fator a inibir investimentos. Este ano ativistas e blogueiros foram presos e condenados à prisão antes do Congresso do Partido Comunista. O governo também impede a liberdade religiosa, perseguindo igualmente budistas e católicos, inclusive com o confisco de igrejas e templos.

A censura à internet também provoca conflitos com as empresas estrangeiras. Depois da denúncia de que e-mails foram hackeados, o Google ameaçou seguir o caminho adotado na China, encerrando as operações no país. A imprensa vive sob censura e é comum o fechamento de jornais. Ainda assim não é raro que publiquem denúncias de corrupção contra o governo, o que não ocorre, por exemplo na China.

Fonte: Redação Terra
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