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No fisl12, lixo eletrônico vira robô, carro e até obra de arte

2 jul 2011 - 18h18
(atualizado às 18h32)
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Emily Canto Nunes e Pedro Faustini
Direto de Porto Alegre

O francês Antoine Laurent de Lavoisier (1743 - 1794), considerado pai da química moderna, não devia entender nada de software, muito menos livre, mas foi autor de uma das frases mais utilizadas fora de contexto, e inclusive no fisl12: "nada se cria, tudo se transforma". Foi o que fizeram os alunos das oficinas de robótica do Colégio Marista Assunção, de Porto Alegre, e dos alunos da Escola Marista Santa Marta, em Santa Maria, também no Rio Grande do Sul e da mesma rede.

Lucas Simões, na 6ª série da instituição da capital gaúcha, apresentou a mão robótica exposta no estande do colégio. A MD2 é uma mão articulada que foi feita a partir de uma lâmpada que acende quando há movimento, um motor, e demais materiais encontrados no lixo, como elástico e fios. O desenvolvimento da mão, segundo o professor Marcos Aranda, acabou dando início a outra ação do grupo, de distribuir mudas de árvores no Fórum Internacional Software Livre. "O projeto chama 'Dando uma mãozinha para o meio ambiente'", afirmou.

Outra criação do grupo de alunos de Porto Alegre é um computador com mãos que faz uma representação do tema deste ano, a neutralidade na web. Feito de lixo eletrônico, o robô toca uma música indígena e é "impedido" de teclar pelo computador. Conforme explicou Aranda, os alunos resolveram fazer um paralelo com a situação dos índios, que perderam suas florestas e seu espaço na Amazônia, com a situação deles, do que seria perder a liberdade na internet. Todas as criações dos alunos são feitas extra-classe, ou seja, só participa o aluno que se interessar. Além de montar robôs e de customizá-los, as oficinas introduzem algumas noções de robótica e de programação a partir de programas específicos para crianças e adolescentes, como Easy C.

A Escola Marista Santa Marta, de Santa Maria, no interior do Estado, levou para a fisl12 um carro feito com lixo eletrônico que pode tanto ser dirigido da maneira "tradicional" - isto é, dentro dele com o auxílio de um notebook que serve como "direção" - como remotamente (por meio de um controle do videogame Nintendo Wii). O projeto, chamado CMID Car, foi feito pelos alunos do Centro Marista de Inclusão Digital (CMID).

De acordo com o coordenador do CMID, Algir Facco da Silva, o veículo foi finalizado em outubro de 2010 e levou apenas dois meses para ficar pronto. Participaram do projeto cerca de 20 alunos com idades entre 13 e 17 anos. O carro é feito de lixo eletrônico e faz parte dos projetos do CMID, que atende não só alunos da Escola Marista Santa Marta, como também de pessoas da comunidade.

"Em Santa Maria, a gente atende alunos e comunidade. As pessoas se inscrevem em programas que incluem cursos de informática, robótica e outros. Não basta deixar o espaço aberto, temos que oferecer cursos", disse. No projeto de robótica, "os alunos vão tendo noções básicas e depois são instigados a construir". O coordenador disse que frequentemente o centro é "solicitado a indicar jovens pelo mercado de trabalho", contou Facco.

Entre os materiais empregados no carro, está uma máquina fotocopiadora que se transformou no motor. A bateria, que já pertenceu a um carro, é capaz de suportar até quatro horas de atividade. De acordo com Facco, o CMID "desenvolve os projetos através de doações de produtos em desuso". Mesmo aquelas peças que não podem ser aproveitadas em projetos como o CMID Car, há a possibilidade de se tornarem obras de arte tecnológicas. Além do fisl12, o CMID esteve presente na Lationoware (PR), Campus Party (SP) e eventos locais no centro do Rio Grande do Sul. E as participações não param por aí. Segundo Facco, recentemente eles receberam um convite para participar de um evento no Rio de Janeiro.

Caça-níqueis

Outra tarefa dos alunos maristas interessados em robótica, computação e afins é restaurar computadores de caça-níqueis. A iniciativa chama-se Projeto Alquimia e tem apoio do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Máquinas caça-níqueis apreendidas em operações do MP-RS, da Brigada Militar, da Polícia Civil e da Receita Federal vão parar nas mãos dos alunos do Centro Social Marista (Cesmar), em Porto Alegre, e no CDMI, em Santa Maria. Além das peças que são utilizadas nas oficinas de robótica livre, também a carcaça dos caça-níqueis são utilizadas em oficinais de marcenaria e serralheria.

No caso de uma peça, componente eletrônico ou mesmo outro material não puder ser reutilizado em algo novo, como um robô, há ainda uma terceira opção. É o que André Dall'Agnol, que trabalha na Escola Marista Santa Marta, chamou de meta-arte. Com restos de computador, do tal lixo eletrônico, alunos do CDMI fazem esculturas e até utensílios para a casa, como fruteiras e porta-lápis, por exemplo. O "trombolhoscópio", feito pelos alunos com os mais diversificados materiais e muito fio de cobre era uma das obras de arte presentes no fisl12.

Estudantes de Santa Maria (RS) desenvolveram uma mão eletrônica com resto de lixo tecnológico
Estudantes de Santa Maria (RS) desenvolveram uma mão eletrônica com resto de lixo tecnológico
Foto: Nabor Goulart/Ag Freelancer / Especial para Terra
Fonte: Terra
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