PUBLICIDADE

Na era dos celulares inteligentes, impressoras ganham e-mail

8 jun 2010 - 09h41
Compartilhar
Ashlee Vance

Vyomesh Joshi, o comandante da divisão de impressoras da Hewlett-Packard, um império com vendas anuais de US$ 24 bilhões, relaxa por meio de longas caminhadas nas praias próximas à sua casa, aqui em San Diego. E houve um momento em que parecia que ele teria mais tempo para curtir a areia do que para comandar as vendas de impressoras e cartuchos de tinta.

Mecânico da HP checa a qualidade de impressão em uma fábrica da companhia em San Diego. A empresa está lançando impressoras conectadas à web com seu próprio endereço de e-mail e telas de toque
Mecânico da HP checa a qualidade de impressão em uma fábrica da companhia em San Diego. A empresa está lançando impressoras conectadas à web com seu próprio endereço de e-mail e telas de toque
Foto: Sandy Huffaker / The New York Times

Os negócios de impressoras da HP se contraíram nos dias mais sombrios da recessão, e isso resultou em grande número de fofocas sobre a demissão de Joshi ¿ quer voluntária, quer forçada pela empresa. Mas as vendas começaram a se recuperar, e Joshi, que é conhecido na empresa e no mercado como V. J., continua firme e em forma. E comandou nesta segunda-feira um evento que serviu para a anunciar a mais recente incursão da HP no mercado de impressão ¿ cujo foco serão impressoras criadas para a era do iPhone.

"Nós ouvimos alguns dos rumores sobre V. J.", disse Ben Reitzes, analista da Barclays Capital. "Mas parece que ele se revigorou e agora existem novos produtos e as coisas começam a melhorar no seu ramo de negócios".

Joshi dedicou anos a contestar a impressão de que as pessoas passarão a imprimir menos documentos à medida que começarem a usar seus aparelhos portáteis para proporção maior de suas tarefas. Esta semana, ele vê suas ideias em ação com o lançamento pela HP de uma nova linha de impressoras com acesso direto à web e dotadas de endereços próprios de e-mail e de telas com controle de toque.

Os novos produtos devem abrir caminho para que os usuários imprimam páginas diretamente de serviços da web como o Google Docs, ou de aparelhos portáteis como os celulares inteligentes e computadores tablet exemplificados pelo Apple iPad.

Joshi está recuando às suas raízes como engenheiro - quando começou na HP, ainda jovem, ele trabalhava como pesquisador e ganhou destaque ao descobrir como conseguir que cartuchos de tinta disparassem 45 milhões de gotículas - e pretende ganhar mercado com base em novas tecnologias, e não em recursos sofisticados de marketing. Mas ele ainda assim terá de provar que os clientes estarão dispostos a mudar de comportamento e imprimir mais caso disponham das ferramentas corretas.

Isso, na interpretação de Reizes, é essencial para determinar o modo pelo qual investidores avaliarão as perspectivas da companhia em longo prazo. "Os investidores estão preocupados quanto ao futuro das impressoras", afirmou o analista. "É realmente importante que a companhia tome o caminho certo agora".

Como maior companhia mundial de tecnologia, a HP vende ampla variedade de produtos, mas obtém boa parte de seus lucros com as impressoras e seus dispendiosos cartuchos de reabastecimento. Mais recentemente, a companhia começou a montar uma grande divisão de serviços tecnológicos, o que a ajudou a complementar seus negócios. Mas a divisão de impressoras responde por cerca de um quinto do faturamento do grupo, e por um terço de seus lucros.

As novas impressoras, que tomarão por base uma experiência semelhante conduzida em pequena escala no ano passado, variarão em preço dos US$ 99 a por volta de US$ 400. Todas elas estarão equipadas com o que executivos da HP descrevem como recurso "revolucionário": um endereço próprio de e-mail.

Os engenheiros da empresa conceberam a ideia de usar endereços de e-mail como um modo simples e já familiar para que os usuários enviem trabalhos de impressão a máquinas dotadas de conexão à web. O usuário poderia, por exemplo, tirar uma foto com o celular, enviá-la ao endereço de e-mail da impressora e encontrar a imagem impressa e à sua espera, quando chegar em casa. Isso significa que uma pessoa poderia comprar uma impressora dotada de conexão à web como presente para uma avó, por exemplo, o que permitiria que ela imprimisse fotos dos netos sem que precisasse se esforçar demais (se desconsiderarmos a necessidade de comprar os dispendiosos cartuchos de tinta).

A HP também está formando parcerias para um site, o ePrint Center, que a companhia pretende transformar em uma espécie de loja para aplicativos, como as que a Apple, Google e outros operam para usuários de seus celulares inteligentes. A ideia é de que os parceiros ¿ e a HP está planejando assinar com 40 deles até o momento - criem software e serviços para as impressoras conectadas à web.

A HP planeja oferecer pequeno número dessas novas impressoras a consumidores, ao longo deste mês, e em setembro começará a distribui-las, também em pequeno número, a pequenas empresas. A expectativa da companhia é vender mais de 15 milhões de impressoras conectáveis à web no ano que vem.

A parte mais difícil do processo talvez venha a ser convencer os usuários a mudar de comportamento e adotar as novas ferramentas. Pessoas que no passado imprimiam instruções sobre chegar a algum lugar agora contam com aparelhos de navegação, e coisas como passes de embarque e ingressos começam a dar lugar a versões digitais equivalentes em celulares inteligentes. Os analistas acrescentam que recessões tendem a condicionar as pessoas a imprimir menos.

Ainda assim, Joshi está otimista. "Acreditamos que, até o ano que vem, mais impressão será realizada da web do que com processadores de texto", afirmou.

O uso do endereço de e-mail como recurso de direcionamento remove uma das grandes barreiras ao uso de impressoras na era da comunicação móvel: a necessidade de um cabo, bem como a de instalar softwares muitas vezes complicados para permitir que impressora e computador funcionem juntos.Esse tipo de tecnologia pode facilitar também a localização e uso de uma impressora em um aeroporto, hotel ou escritório.

A abordagem da HP atraiu a atenção do Google, e as duas empresas formaram uma parceria de modo a que usuários possam enviar tarefas de programas como o Google Docs ou o Google Calendar para a impressora HP.

Além das impressoras caseiras e empresariais, a HP conseguiu identificar alguns campos de uso interessantes para expansão no segmento das máquinas industriais de impressão digital ¿ algumas das quais do tamanho de uma sala e capazes de imprimir todo tipo de material, de outdoors a livros e rótulos personalizados para garrafas de cerveja Heineken.

Empresas como a Nickelodeon e a Dr. Seuss Enterprises em breve oferecerão papéis de paredes personalizados, via HP e companhias parceiras. O usuário poderá ir a um site, inserir as dimensões de um aposento e depois encaixar as imagens de seus personagens prediletos de maneira que ocupe bem aquele espaço. Depois apanham os papeis de parede especialmente impressos na loja mais próxima e os instalam com água e uma esponja.

A Tiny Prints produz cartões personalizados de visitas e festas, bem como papel timbrado, usando máquinas industriais da HP, e elevou suas vendas em 100% em 2008 e 50% em 2009 a despeito da recessão, diz Ed Han, presidente-executivo da empresa.

A HP também antecipa que terá sete mil quiosques de impressão em lojas de varejo até o final do ano, para imprimir fotos, livros e brochuras. E, nos últimos anos, a empresa desenvolveu suas operações de gestão de impressão para companhias, um segmento que agora fatura US$ 6 bilhões ao ano. "Isso a contar literalmente do zero", diz Mark Hurd, presidente-executivo da HP.

Historicamente, a empresa investiu vastas somas em pesquisa e desenvolvimento de produtos de impressão e imagem, para garantir vantagem sobre os concorrentes. Mas na gestão de Hurd, a divisão, como todo o restante da empresa, se viu forçada a conter custos.

"Nossos orçamentos e recursos sofreram impacto? Com certeza", diz Glen Hopkins, vice-presidente do grupo de pesquisa e desenvolvimento de impressoras da HP. Joshi também se esforçou por reduzir os custos industriais da divisão. "Creio que a divisão tenha avançado muito", disse Hurd. "Ao mesmo tempo, aproveitou a oportunidade de se tornar mais eficiente".

Joshi, que muita gente via como futuro presidente-executivo da companhia, disse que prefere desconsiderar as especulações quanto ao seu futuro na HP. "Em outubro, completarei 30 anos na empresa", disse. "Amo a companhia e em minha opinião as impressoras continuam a ser parte significativa da HP".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
Compartilhar
Publicidade