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Nova tecnologia reinventa a digitação em celulares, de novo

22 jun 2010 - 16h13
(atualizado às 16h21)
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Jenna Wortham

Na década de 90, digitar a palavra "hello" na maioria dos celulares requeria exaustivas 13 teclas no teclado numérico: 44-33-555-666.Mas isso foi antes que o inventor Cliff Kushler, de Seattle, e um sócio criassem um software conhecido como T9, que possibilitou reduzir o número de teclas acionadas a apenas três, porque "adivinhava" a palavra que o usuário está tentando digitar.

A tecnologia Swype permitirá que o usuário deslize o dedo sobre um teclado virtual de maneira a formar palavras
A tecnologia Swype permitirá que o usuário deslize o dedo sobre um teclado virtual de maneira a formar palavras
Foto: Stuart Isett / The New York Times

Agora, digitar nos celulares apresenta um novo desafio. Número cada vez maior de aparelhos vêm equipados apenas com teclados virtuais, em uma tela de toque, em substituição aos botões físicos. Mas digitar uma mensagem sobre uma pequena área de vidro não é assim tão fácil, e isso vem fazendo com que erros ortográficos se tornem mais e mais comuns.

Kushler acredita que tenha chegado a uma solução para o problema, uma vez mais. A nova tecnologia, que ele desenvolveu em colaboração com o cientista e pesquisador Randy Marsden, leva o nome de Swype e permitirá que o usuário deslize o dedo sobre um teclado virtual de maneira a formar palavras, em lugar de digitar letra a letra.

Embora muitos dos celulares inteligentes à venda no mercado dos Estados Unidos contenham recursos que completam a digitação de palavras, corrigem erros de ortografia e acrescentam pontuação de forma instantânea, a ideia de Kushler é levar a digitação a um novo patamar.

"Nós comprimimos um computador de mesa, completo com mouse e teclado, e o reduzimos a algo que pode ser carregado no bolso. A largura de banda da informação mudou muito", afirma o pesquisador. "Eu imaginei que, se fosse possível descobrir uma maneira nova de inserir essas informações, o método seria algo que poderia realmente decolar".

Kushler diz que o Swype representa um imenso avanço e que pode beneficiar bilhões de pessoas. E, na verdade, ele não está sendo tão exageradamente ambicioso com essa declaração quanto poderia parecer. Até o momento, a tecnologia T9 já foi instalada em quatro bilhões de aparelhos usados em todo o mundo. Em 1999, os criadores do método o venderam à America Online, por valor estimado em US$ 350 milhões; as patentes sobre o sistema estão hoje sob o controle da Nuance, uma empresa que desenvolve tecnologias de reconhecimento de voz.

O software da Swype detecta o ponto em que o dedo faz uma pausa e muda de direção enquanto traça o padrão de uma palavra na tela. Os movimentos não precisam ser acurados, porque o software calcula que palavras o usuário está mais provavelmente tentando digitar.

As maiúsculas e as letras duplas podem ser indicadas por uma pausa ou ligeira torção do dedo, enquanto espaçamento e pontuação são automáticos. Kushler, vice-presidente de tecnologia da Swype, estima que o software seja capaz de tornar pelo menos 20% ou 30% mais rápidos até mesmo os mais ágeis dos sistemas de digitação em celulares.

O Swype já está em uso em sete modelos de celulares inteligentes nos Estados Unidos, em todas as grandes operadoras de telefonia móvel; entre os modelos em que ele opera estão o HTC HD2 e o Samsung Omnia II. Pelo final do ano, a companhia afirma que seu software estará disponível em mais de 50 modelos em todo o mundo.

A Swype não tem acordo com a Apple, a rainha dos celulares dotados de telas de toque, mas está mexendo com programas destinados ao iPhone e ao iPad, e espera poder exibi-los à Apple em breve.

Para faturar, a Swype cobra dos fabricantes de celulares que selecionam seu software uma taxa de licenciamento sobre cada aparelho vendido. A empresa também considera que recursos adicionais possam oferecer renda extra.

"Podemos criar dicionários especializados para médicos ou advogados, por exemplo", disse Mike McSherry, o presidente-executivo da Swype.Os atrativos da Swipe vão bem além dos celulares, diz Won Park, diretor de aquisição de tecnologias norte-americanas na Samsung.

"O software pode se tornar o padrão prático de digitação dos computadores tablet, dos televisores de próxima geração ou dos controles remotos de próxima geração", disse Park. "O potencial é imenso". Os executivos da Swype também tendem a acreditar que os produtos da empresa possam ser adotados em quiosques públicos de informações, eletrodomésticos inteligentes, consoles de videogames e sistemas de navegação de bordo para automóveis.

Alguns métodos de inserção de informações em aparelhos móveis usados no passado recente incluíam um sistema de escrita, como o empregado pelo Palm Grafitti.

"Mas usar esse método era mais lento que a digitação e exigia que as pessoas aprendessem toda uma nova modalidade de escrita manual a fim de produzir resultados precisos", disse Gavin Lew, fundador da User Centric, uma consultoria que estuda as experiências de usuários com aparelhos móveis.

"Os aplicativos do tipo do Swype dependem de um layout conhecido, o do teclado pleno, padrão qwerty", disse. "Basta selecionar uma letra, em vez de aprender como escrevê-la".

À medida que os celulares ganham funções mais próximas às dos computadores pessoais, diz Lew, cresce a necessidade de inserir e localizar informações neles.

"Os aparelhos que existem hoje já não são apenas telefones, e é por isso que vemos a emergência de todas essas novas tecnologias", disse. "Quanto mais os usarmos em nossas vidas cotidianas, maior a necessidade de eficiência na inserção de informações".

Kushler começou a experimentar com métodos de inserção em 2001, orientado em parte pelo seu trabalho prévio em ajudar deficientes físicos a usar melhor a tecnologia. Ele reparou na popularidade de aparelhos como o Palm, que usavam uma espécie de caneta para inserção de textos, mas viu possibilidade de melhora. Por isso, começou a trabalhar com Marsden no aperfeiçoamento do software Swype, o que requereu laboriosos sete anos.

"A coisa mais importante era que o programa fosse capaz de adivinhar a palavra que a pessoa deseja escrever", disse Kushler. "Isso precisava funcionar sem erro".

A Swype não é a única companhia iniciante que antecipa lucrar com inovações nesse segmento. Muitas empresas tentam melhorar a maneira pela qual as pessoas digitam em telas de toque, uma tecnologia em rápida proliferação. O grupo de pesquisa Gartner estima que as vendas mundiais de aparelhos dotados de telas de toque atinjam os 326,7 milhões de unidades em 2010, 97% a mais que no ano passado.

A SlideIT, uma empresa com escritórios nos Estados Unidos e Israel, vende aplicativos para inserção de dados em telas de toque com uma caneta ou os dedos, para os celulares dotados de sistemas operacionais Symbian, Windows Mobile e Android. A empresa informou que de fevereiro para cá seu software foi baixado mais de 500 mil vezes.

A Nuance, uma empresa mais conhecida por seu software de reconhecimento de fala, adquiriu uma companhia iniciante chamada ShapeWriter, que equipara padrões de digitação em teclado de tela de toque aos de palavras comumente usadas. Ela está negociando com fabricantes de celulares para o uso desse software, o T9 Trace.

O Google está tentando permitir que as pessoas ignorem a tela, por meio de tecnologias de reconhecimento de voz e imagem. O aplicativo Goggles, por exemplo, pode analisar uma foto de um texto e traduzi-lo a idioma diferente ¿sem requerer digitação.

Enquanto isso, a Swype está seguindo em frente com seu recurso de reconhecimento de voz, que deve ser adicionado a celulares inteligentes nos próximos meses.

"Nosso objetivo é melhorar a maneira pela qual as pessoas inserem informações em seus celulares, seja digitando ou falando", disse McSherry.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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