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Legendas ainda demoram a chegar nos vídeos online

22 jun 2010 - 16h50
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Brian Stelter

A atriz Marlee Matlin rebolou para o sucesso no programa "Dancing With the Stars" dois anos atrás, e em um momento memorável usou linguagem de sinais para recomendar aos telespectadores que "read my hips" "leiam meus quadris", em lugar de "read my lip", "leia meus lábios". Mas quando Matlin, que é surda, tentou assistir a um replay do programa no site ABC.com, não pôde, porque os vídeos que a rede oferece online não têm legendas.

Cena de Juicy Tuesday, um dos inúmeros vídeos que vêm sendo compartilhados no YouTubeLeia mais
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Foto: YouTube/Reprodução / The New York Times

Na televisão, o uso de legendas como opção para deficientes auditivos é obrigatório, mas o mesmo não se aplica à internet. E isso fez com que sites como o da ABC se tornem um campo de batalha para defensores da acessibilidade como Matlin, que protestam contra a falta de legendas em sites como a CNN.com e sites como a Netflix.

As empresas de mídia dizem estar trabalhando com afinco para tornar os vídeos online mais acessíveis. O YouTube, o maior serviço mundial de vídeos online por larga margem, agora oferece legendas quase sempre precisas, usando software de reconhecimento de voz. A ESPN está oferecendo legendas nas suas transmissões ao vivo de jogos da Copa do Mundo. E a ABC agora oferece em seu site as versões legendadas de "Dancing With the Stars".

No entanto, ainda restam muitos programas que não oferecem legendas, para desânimo dos usuários surdos da web. Episódios de séries disponíveis no CBS.com, vídeos de notícias na CNN.com e clipes de entretenimento no MSN.com não oferecem legendas, para mencionar apenas alguns exemplos.Outros sites, como o NBC.com, não mantêm normas coerentes sobre legendas, de modo que o programa "America's Got Talent" tem legendas mas "The Marriage Ref" não.

À medida que os vídeos online ganham popularidade, os espectadores surdos enfrentam a perspectiva de uma internet parcialmente inacessível.

"Não queremos ser deixados para trás, no processo de transição da televisão para a internet", disse Rosaline Crawford, diretora do centro legal e de defensoria da Associação Nacional dos Surdos dos Estados Unidos.

A Associação Americana de Deficiência Auditiva afirma que 36 milhões de norte-americanos sofrem de certo grau de perda de audição. Outros grupos, tais como as pessoas que estão tentando aprender inglês, também se beneficiam das legendas.

Organizações como a de Crawford dizem que estão simplesmente lutando para manter o acesso à televisão conquistado uma geração atrás, em 1990, quando o Congresso dos Estados Unidos determinou que todos os televisores tivessem tecnologia para exibir legendas de programas.

"Cada geração de tecnologia que surge parece sofrer de certo atraso em termos de acessibilidade", diz Larry Goldberg, diretor de acesso à mídia na WGBH, uma estação de TV da rede pública de televisão PBS.

Os defensores dos deficientes auditivos estão pressionando o Congresso para atualizar um projeto de lei que tornaria obrigatórias as legendas em qualquer vídeo online que também tivesse veiculação pela TV, como seriados de humor e dramáticos, e determinasse outras medidas que tornem mais acessíveis bens eletrônicos de consumo tais como controles remotos dotados de botões mais acessíveis de acesso a legendas automáticas.

Um subcomitê do Senado realizou uma audiência sobre o projeto de lei no mês passado. Em depoimento escrito, Matlin imagina como seria tentar assistir à caminhada de Neil Armstrong na Lua em um site na web, e descobrir que a frase "um salto gigantesco para a humanidade" foi "apagada".

"É dessa forma que milhões de pessoas como eu se sentem quando a web elimina o conteúdo com legendas", ela afirmou.

A perspectiva de um projeto de lei está motivando alguns operadores importantes de sites a acrescentar legendas mais rápido. Um grupo de organizações setoriais está perto de fechar acordo quanto a um padrão universal para as legendas online, o que tornaria mais fácil adaptar as legendas usadas na TV para outros formatos.

"Acredito que haja uma certa demora causada pela espera de que o padrão final seja definido", disse Goldberg.

Os defensores dos deficientes auditivos vêm se queixando muito do problema. Um exemplo é o Hulu, o maior site para quem deseja assistir online a episódios de séries. O Hulu oferece legendas em diversos idiomas para alguns programas (entre os quais muitos dos mais populares), mas não para todos.

O serviço está pressionando as redes de TV e estúdios que fornecem o seu conteúdo pela oferta de mais episódios legendados. "Os usuários nos solicitam que usemos mais as legendas, e esse tipo de pedido é um dos mais frequentes que recebemos; assim, aquilo que começou como um pequeno projeto acessório se tornou parte importante dos esforços para melhorar a experiência dos usuários", afirmou Eric Feng, vice-presidente técnico do Hulu, em mensagem de e-mail.

Também é uma prioridade para o YouTube, subsidiária do Google na qual legendas estão disponíveis para qualquer vídeo subido para o site desde abril, desde que a trilha sonora seja clara e falada em inglês. A tecnologia de reconhecimento de voz comete erros, mas foi elogiada como grande melhora para os usuários surdos ou com audição prejudicada.

Existem motivos de negócios para que o Google ofereça legendas, além disso, de acordo com Goldberg. "Quando textos são acrescentados a todos os vídeos, isso beneficia muito os esforços de busca".

Organizações setoriais dizem que a legendagem pode ser dispendiosa em certos casos e argumentam que normas mal concebidas podem sufocar a inovação. Mas reconhecem o valor das legendas.

Ken Harrenstien, engenheiro de software surdo que comanda o projeto de legendagem do YouTube e Google, diz que as legendas automáticas podem ser traduzidas para mais de 50 idiomas. Mas até o momento a tecnologia só reconhece áudio em inglês, algo que ele diz ser necessário estender.

Em outros sites, legendas vêm sendo acrescentadas gradualmente ¿mas com lentidão muito maior do que desejariam os defensores da causa.A Netflix sofreu críticas no ano passado por não incluir legendas em seus streams de programas de TV e filmes. A empresa informou que reformatar os arquivos de vídeo para incluir legendas requereria avanços de software e um período muito longo de trabalho.

Em abril, anunciou que já havia quatro temporadas da série "Lost" disponíveis com legendas, e que continuaria "trabalhando a fim de expandir esse acervo ao longo do tempo".

Entre as grandes redes de TV que exibem episódios completos de programas online, a maioria os oferece com legendas; a exceção é a CBS, segundo a qual agora está em desenvolvimento um novo player de vídeo para seu site que permitirá legendas. Anthony Soohoo, vice-presidente sênior da divisão de entretenimento interativo da CBS, anunciou que o site planejava lançar o recurso no quarto trimestre.

Acrescentar legendas aos inúmeros vídeos curtos disponíveis na web é obstáculo ainda maior, e o projeto de lei nem menciona o tema. Mas software como o desenvolvido pelo YouTube pode ajudar. Harrenstien diz que "uma proporção ínfima dos vídeos disponíveis no mundo oferece legendas, e por isso temos um imenso trabalho por fazer".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times Magazine
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