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Para livrarias independentes, Google é aliado em e-books

1 jul 2010 - 10h00
(atualizado às 11h19)
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As livrarias independentes primeiro sofreram com os descontos de redes como Barnes & Nobles, depois, com varejistas supereficientes da internet como Amazon.com. Agora, começa a era do livro eletrônico. Nesse último desafio, essas lojas em breve terão um novo aliado: o gigante das buscas Google.

O aparelho pesa apenas 230 gramas
O aparelho pesa apenas 230 gramas
Foto: Zumo Notícias

Logo mais no verão americano, o Google planeja fazer a sua muito esperada entrada no mercado de livros eletrônicos com o Google Editions. A companhia revelou pouco sobre o empreendimento até agora, descrevendo-o genericamente como um esforço para vender livros digitais que poderão ser lidos num navegador de internet e acessíveis a partir de qualquer dispositivo conectado à internet.

Porém, um elemento do Google Editions está recebendo mais atenção. O Google está prestes a concluir um acordo com a Associação Americana de Livreiros, o grupo setorial das livrarias independentes, para tornar o Google Editions a fonte primária de e-books nos sites de centenas de livrarias independentes ao redor do país, de acordo com representantes da Google e da associação.

A parceria pode ajudar livrarias estimadas como Powell's Books, em Portland (Oregon); Kepler's Books, em Menlo Park (Califórnia); e St. Mark's Bookshop, em Nova York. Na atração de um público crescente de pessoas que preferem ler em telas em vez de papéis, essas pequenas lojas até agora foram forçadas a competir contra nomes como Amazon, Apple e Sony.

O acordo com o Google pode lhes dar um suporte nesse mercado em rápido crescimento e ajudá-las a impedir que clientes dedicados migrem para outro lugar. "O Google mostrou verdadeiro interesse em nosso mercado", disse Len Vlahos, chefe de operações da associação de livreiros, que tem mais de 1,4 mil livrarias associadas. "Por uma série de razões, é muito adequado."

O Google vai provavelmente enfrentar uma batalha penosa em seu esforço para entrar no campo já abarrotado de e-books. A companhia tem pouca experiência como varejista. Ela também tem menos números de cartão de crédito em seu banco de dados do que Amazon ou Apple, e seu sistema de pagamentos online, o Google Checkout, ainda não foi amplamente adotado.

Apesar disso, o Google está promovendo seu plano de e-books como uma alternativa fundamentalmente diferente e mais "aberta" frente às lojas de seus rivais. Embora vá atuar como varejista e vender livros de seu próprio site, a empresa também funcionará como atacadista e permitirá que livrarias independentes e outros parceiros vendam seus e-books em seus sites.

Alguém que compre os e-books do Google não estará preso a nenhum aparelho ou formato particular de leitura, segundo a companhia. Livros comprados na iBookstore da Apple, em contraste, só podem ser lidos em aparelhos da Apple.

"Não acho que ninguém que adquiriu um e-reader nos últimos anos tivesse realmente a intenção de comprar seus livros digiais só de um fornecedor pelo resto da vida", disse Tom Turvey, diretor de parcerias estratégicas da Google e chefe do projeto Google Editions.

Turvey disse que consumidores poderão ter acesso a seus livros, ou comprar novos, de qualquer lugar no mundo inserindo suas credenciais Google. E, segundo ele, o Google lançará o serviço com uma ampla seleção de centenas de milhares de livros, incluindo ficção, não-ficção, livros profissionais, títulos acadêmicos e intelectuais e também manuais.

O Google já tem dois milhões de livros disponibilizados por editoras como parte de seu Programa de Parceiros, que permite que internautas acessem extensas amostras de livros nas páginas do Google ou de outros sites. Um projeto separado de digitalização de milhões de livros de edição esgotada ou raros está congelado por um litígio desde 2005.

Como atacadista, o Google vai desempenhar um papel semelhante ao de distribuidoras offline como Ingram Book e Baker & Taylor, que compram livros de editoras e os revendem às livrarias. Essas companhias geralmente ficam com uma porcentagem de um dígito em cada venda, e Turvey disse que o Google operará de forma semelhante.

Livrarias independentes parecem acreditar que o Google está mais interessado em trabalhar através delas do que ser um varejista direto. Na verdade, elas estão contando com isso.

A onda dos e-books forçou tais livrarias a enfrentar um campo de mudanças rápidas e complexas. Em 1999, a Powell's, em Portland, por exemplo, apostou na venda de e-books para a companhia pioneira de e-books Rocket Book, apenas para vê-la fechar as portas. Mais recentemente, com a ajuda da Ingram Digital, a Powell's tenta vender e-books em seu website num amontoado de formatos fornecidos por empresas com Adobe, Microsoft e Palm.

Esses esforços geraram pouco retorno enquanto aparelhos como Kindle da Amazon, Nook da Barnes & Noble e iPad da Apple capturavam a atenção dos leitores. "O Google vai permitir nossa saída desse jogo centrado no aparelho de leitura", disse Darin Sennet, diretor de desenvolvimento para web da Powell's.

Sennett reconheceu que o Google também seria um concorrente, já que venderia livros de seu site. Mas ele parece acreditar que o Google favoreceria seus parceiros menores. "Não vejo o Google trabalhando diretamente para minar ou superar seus parceiros de vendas", disse. "Duvido que eles venham a recomendar editorialmente livros e a fazer escolhas sobre o que as pessoas deveriam ler, que é o que as livrarias fazem." Acrescentou: "Pergunto-me quão ingênuo seja isso neste momento. Teremos de ver."

A movimentação do Google em direção à venda de livros digitais coincide com sua mudança mais ampla no sentido de vender mídias digitais. Desde sua criação, o Google ganha dinheiro quase exclusivamente colocando anúncios em texto ao lado de resultados de busca e em páginas da internet.

Mas, agora, rivais como Amazon e, cada vez mais, Apple estão tentando se consolidar na vida e carteira das pessoas, armazenando filmes, seriados, músicas e livros de clientes em seus próprios servidores. As companhias esperam que o armazenamento das coleções de mídia gere vendas digitais futuras ao prender os consumidores aos aparelhos que comercializam, como Kindle e iPad.

O Google tem uma vantagem nessa nascente guerra de mídias. Ele pode contar com um grande número de pessoas fazendo pesquisas sobre mídia com sua ferramenta de busca ¿ busque pelo último romance de John Irving, por exemplo ¿ e clicando por reflexo na primeira opção de compra apresentada.

Em entrevista na semana passada, Eric E. Schmidt, chefe-executivo do Google, disse que o Google Editions é uma "ramificação natural de nosso interesse em livros e informação e nosso trabalho com as editoras".

Questionado a respeito da música digital, ele disse que o Google sempre evitou o mercado musical por não querer facilitar a pirataria.Mas, mais recentemente, enquanto a empresa procura oferecer aos consumidores mais daquilo que buscam, com menos cliques, ele disse: "Faz sentido ter algum tipo de facilidade com a música."

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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