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De robôs a mísseis, Irã desenvolve tecnologia própria

10 jul 2010 - 09h27
(atualizado em 12/7/2010 às 11h42)
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Alexandre Rodrigues

O presidente do irã, Mahmoud Ahmadinejad, observa o robô na apresentação
O presidente do irã, Mahmoud Ahmadinejad, observa o robô na apresentação
Foto: AP

No ano 53, sete legiões romanas, no total de 50 mil homens, marcharam pela Mesopotâmia para conquistar a Pérsia. No comando, Marco Licínio Crasso, general que, entre outras façanhas militares, esmagara a revolta dos escravos liderada por Espártaco. Mas, apesar da superioridade militar, os romanos abandonaram a tática e tentaram simplesmente vencer. Foram esmagados e quase todos, inclusive Crasso, mortos. É a origem da expressão "erro crasso".

A memória desta batalha é a inspiração para Surena-2, o segundo robô humanoide iraniano apresentado pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad no último final de semana. Surena foi o nome do guerreiro que ajudou a derrotar os romanos. Também é um exemplo do que a crise nuclear e o bloqueio internacional costumam esconder: a tecnologia iraniana.

Sob sanções da ONU e com restrições de acesso à tecnologia ocidental, o país desenvolveu a sua própria - não apenas em robótica como em células-tronco, clonagem e satélites, além de seu polêmico programa nuclear.

Lançamentos de mísseis militares costumam ser noticiados no exterior, mas o país também desenvolve modelos civis. Na última semana de agosto deverá ser lançado o satélite Rasad 1, saudado pelo governo como a "mais nova" realização em tecnologia espacial.

Não que o bloqueio não tenha efeitos. Em praticamente todo o setor tecnológico é possível encontrar queixas. Limitação de importação de equipamentos, restrição à venda de produtos e falta de investidores são os mais comuns. A repressão política é outro impedimento. Twitter e Facebook são bloqueados. O Google também enfrenta restrições no país.

Mas limitações internacionais existem desde a chegada dos aiatolás ao poder, em 1979. E o governo investiu em educação não apenas para enfrentá-las como para usar a tecnologia como propaganda política.

Havia apenas 100 mil universitários no país antes da revolução islâmica, em 1979. Hoje em dia são 2 milhões. Cientistas iranianos pesquisam, por exemplo, a produção de energia nuclear com o uso de laser em vez de material radioativo. Em 2006, o Irã anunciou que pela primeira vez havia clonado uma ovelha, Royana, que morreu em fevereiro deste ano.

Também este ano médicos iranianos realizaram o primeiro transplante humano de traquéia. Se não esteve na Copa do Mundo, numa Olimpíada Internacional de Astrofísica e Astronomia, em 2009, a equipe iraniana teve destaque: ficou em primeiro lugar, com quatro medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze.

Robôs em evidência

Surena-2 pode andar e recebe comandos por controle remoto, mas, apesar das características humanoides, não tem visão ou fala. Mede 1,6 m e pesa cerca de 45 kg, sendo capaz de realizar 12 movimentos com as pernas e oito com os braços. Parece uma versão menos evoluída - e bem acabada - de Asimo, o robô da Honda.

Desenvolvimento de robôs é um dos projetos perseguidos pelo governo iraniano nos últimos anos. Surena-2 é o primeiro robô iraniano capaz de andar e criado com tecnologia do país. Surema-1, apresentado em 2008, apesar de humanoide, movia-se sobre rodas. Segundo a TV estatal, os engenheiros ainda trabalham na capacidade de visão para a próxima geração de robôs.

Vinte engenheiros e estudantes da Universidade de Teerã participaram do projeto. No total, foram mais de dez mil horas de trabalho da equipe. "Tais robôs são desenvolvidos para serem usados em trabalhos sensíveis ou difíceis para uma pessoa", explicou a agência Gulf News.

Nos jogos, inimigo é o Ocidente

Para quem pensa que por se tratar de um país muçulmano são proibidos videogames, uma surpresa: ainda que o Irã esteja longe de ser um grande mercado, há dezenas de milhares de pessoas envolvidas na produção de jogos locais.

Nos anos 80 e 90, enquanto a Turquia e Israel eram os dois únicos países do Oriente Médio com uma indústria de videogames, no Irã empresas criavam jogos caseiros que quase só eram usados pelos fãs locais.

As restrições internacionais e a forte repressão política mantida pelo governo são um desafio aos programadores, mas nos últimos anos a indústria de games iraniana começou a se destacar.

"A parte mais fascinante? Alguns jogos são muito bons", elogiou o site True/Slant.

É criação de programadores iranianos o popular - no Oriente Médio - "Special Operation 85: Hostage Rescue", jogo de combate em que tropas do país precisam resgatar dois cientistas nucleares sequestrados e combatem israelenses e americanos durante a missão.

Outro destaque é "Quest of Persia", série de videogames baseada na mitologia persa e na história do Irã e considerada o maior sucesso da indústria iraniana. A primeira versão foi lançada em 2005. A atual tem gráficos 3D. Como em muitos jogos do Ocidente, não poupa violência e sangue.

A Fundação Nacional de Jogos para Computador do Irã participou, em 2009, da Gamescon, feira de videogames em Colônia, na Alemanha. Espera-se que, apesar do boicote, os primeiros games iranianos estejam à venda na Europa ainda este ano.

Fonte: Redação Terra
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