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Vai votar? Conheça a tecnologia da urna eletrônica

1 out 2010 - 08h49
(atualizado em 8/10/2010 às 08h31)
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Ismael Cardoso

Neste domingo, mais de 134 milhões de brasileiros vão às urnas depositar em bytes sua escolha para o futuro do País. Os eleitores foram se acostumando nos últimos 14 anos a trocar a urna de lona pela urna eletrônica, garantindo rapidez no processo de votação e a chance de conhecer, horas depois do fechamento das seções, o resultado da eleição.

Urna eletrônica sofre 400 mil tentativas de ataque por minuto
Urna eletrônica sofre 400 mil tentativas de ataque por minuto
Foto: AP

O sistema eletrônico de votação foi totalmente desenvolvido no País. Uma tecnologia que o Brasil exporta. Alguns países da América Latina já utilizaram nossas urnas nos seus processos eleitorais, como Argentina, Equador, México e Paraguai.

Mas o que acontece com o seu voto depois que você o digita na urna? Entre as discussões sobre a segurança do processo e da evolução da tecnologia nas eleições brasileiras, explicamos como sua escolha sai da urna e chega aos computadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O caminho do seu voto
A partir do momento que você deposita seu voto na urna, ele inicia uma longa viagem. Cada voto é depositado de forma aleatória em uma tabela dentro de um cartão de memória, o que garante o sigilo do seu voto. Assim que a urna é encerrada, é impresso um boletim de urna, tornando o resultado de conhecimento público assim que a seção é finalizada.

Os votos são gravados em um cartão de memória ou um disquete - assinado digitalmente e criptografado - e levado até um ponto de transmissão, normalmente um cartório eleitoral. Já que nenhuma urna é ligada em rede, esse local é que transmite as informações para o Tribunal Regional Eleitoral, que confere a assinatura digital, decifra a mensagem criptografada e totaliza os votos. Os votos para presidente são enviados para o TSE, que soma os votos do Brasil inteiro. A tecnologia é tamanha que são processados cerca de 300 mil votos por minuto.

Depois de contados, os votos são imediatamente publicados na internet. Os tribunais divulgam as prévias até o momento de conhecer, em definitivo, o resultado final da eleição.

Segurança
O que mais preocupa qualquer processo eleitoral - informatizado ou não - é a segurança. Para garantir total transparência, as urnas e os programas passam por uma bateria de testes, auditorias e assinaturas digitais para que não ocorra nenhuma fraude. Mesmo assim, o sistema gera dúvidas em alguns especialistas.

"A urna eletrônica brasileira é totalmente segura contra ataques de fora, mas o que preocupa o mundo inteiro é a fragilidade para ataques de dentro, de pessoas do TSE ou de empresas terceirizadas", afirma o professor do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas Jorge Stolfi. Segundo ele, falta uma forma de se fazer a conferência dos votos sem depender da máquina. Uma das soluções apontadas por ele seria a impressão do voto. "Não existem dispositivos que permitam a recontagem dos votos. Se houver suspeita de fraude, não há como conferir. Se não há como conferir, a urna perde o valor, ela é à prova de provas", diz Stolfi.

O secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, afirma que o sistema é seguro. "Os programas usados na urna são assinados digitalmente, e uma das cópias é guardada em um cofre no TSE. Se houver suspeita de fraude, é feita a conferência com a versão que está no Tribunal. Se o programa for alterado, a assinatura digital não vai conferir", diz o secretário. Mesmo assim, uma lei aprovada determinou que, a partir de 2014, a urna terá que imprimir o voto para uma eventual recontagem.

Além disso, uma votação paralela é realizada no dia da eleição. Até quatro urnas são sorteadas por Estado, de forma aleatória, e os equipamentos são levados para um ambiente totalmente controlado por fiscais, representando a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público e os partidos políticos. Simultaneamente ao processo de votação, é feita uma eleição idêntica nesse ambiente, com o controle por imagem de todos os votos registrados na urna. Assim que termina o processo, os votos paralelos são apurados para ver se o resultado corresponde ao que foi digitado. "Até hoje, nenhuma das votações paralelas apontou discordância", afirma Janino.

O TSE enfrenta 400 mil ataques de hackers por minuto no dia da eleição. Uma medida para se defender desse bombardeio foi tomada no ano passado. Foi dada a oportunidade para que potenciais hackers tentassem burlar a segurança da eleição. Dos 38 especialistas que tentaram, por quatro dias, quebrar algum dispositivo de segurança do Tribunal, nenhum teve sucesso. E as ideias apresentadas por eles ainda deverão contribuir para o aperfeiçoamento tecnológico da votação.

As novidades deste ano
São duas as novidades nas eleições deste ano. A primeira delas é o voto biométrico. Mais de 1 milhão de eleitores só irão votar depois de serem identificados pela impressão digital, que foi coletada por um scanner de alta definição durante este ano. No dia da votação, o leitor biométrico deverá confirmar a identidade do eleitor, comparando o dado fornecido com todo o banco de dados registrado nos programas da urna eletrônica, garantindo mais segurança ao processo. A ideia é que até 2018 todos os municípios utilizem essa tecnologia.

"Essa tecnologia diminui ainda mais a intervenção humana, que pode gerar lentidão, erros e fraudes. Em vez do mesário fazer uma análise subjetiva da documentação e identificação do eleitor. A biometria elimina a possibilidade de uma pessoa se passar por outra", afirma Janino.

A segunda novidade vem resolver um problema do tamanho do Brasil: o tamanho do Brasil. Mais de 1,2 mil seções em 400 municípios transmitirão via satélite os votos para totalização. Isso resolve a distância e a dificuldade de chegar e sair de algumas localidades, que chegam a ficar inacessíveis por dias. Como um dos objetivos do TSE é garantir a agilidade do processo eleitoral, se o percurso até um local de votação levar mais de três horas, um laptop e um aparelho de transmissão vão enviar as informações aos Tribunais Regionais Eleitorais. A partir daí, os dados entrarão em uma rede de comunicação de uso restrito, serão recebidos e totalizados.

Essa tecnologia permite que os votos dos recantos mais afastados do País possam ser conhecidos mais rapidamente. Com isso, poucas horas depois do fechamento das urnas, os brasileiros conhecem o futuro do país. Uma das marcas da democracia digital.

Polêmica
A autoria da urna eletrônica é um ponto polêmico do projeto, e motivo de disputa judicial. O pedido de patente dessa tecnologia também encontra-se em análise no Instituto Nacional de Propriedade Industrial até hoje.

O TSE diz que o projeto da urna eletrônica foi concebido por uma comissão instituída pelo Tribunal, composta por servidores da Justiça Eleitoral e consultores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Instituto Tecnológico de Aeronáutica e Ministério da Ciência e Tecnologia, e que a empresa vencedora da licitação apenas materializa esse projeto.

O engenheiro Carlos Rocha, que trabalhou na Omnitech, empresa subcontratada pela companhia vencedora da licitação para fabricar a primeira urna eletrônica, afirma que a urna foi criada por ele, e questiona na Justiça o reconhecimento à sua participação ¿ o processo ainda está correndo. Segundo o engenheiro, o TSE elaborou um conjunto de requisitos funcionais para que fosse elaborado o projeto da urna eletrônica pela empresa.

Fonte: Redação Terra
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