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Dica: fotógrafo ensina a fazer fotos "3D" em casa

21 out 2010 - 17h28
(atualizado às 18h06)
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Mario Amaya
editor da revista Digital Photographer Brasil

A fotografia 3D é uma nova fronteira que está se abrindo agora na fotografia? Não! Assim como os filmes 3D já tiveram um período de moda há 60 anos, a fotografia 3D - ou melhor dizendo, estereoscópica (baseada em uma imagem separada para cada olho) -, foi também objeto de um modismo, há aproximadamente cem anos. O renascimento dos filmes em 3D, reforçado pelo inédito lançamento de aparelhos de televisão 3D, puxou junto a produção de novas fotos estereoscópicas.

Você já tem tudo o que precisa para fazer fotos com profundidade, em casa
Você já tem tudo o que precisa para fazer fotos com profundidade, em casa
Foto: Mario Amaya / Geek

Você pode experimentar a técnica sem precisar de uma câmera dedicada como as da série Fuji FinePix Real 3D. Essas câmeras contêm duas lentes e dois sensores, capturando duas imagens separadas ao mesmo tempo: uma correspondente ao olho esquerdo e outra ao olho direito. A paralaxe (diferença de ângulo de visualização) entre as duas imagens é o que fornece a sensação de profundidade ao cérebro do espectador.

Uma alternativa lógica é obter um par de câmeras comuns idênticas, montá-las lado a lado e instalar um disparador modificado para acioná-las ao mesmo tempo. É possível, mas complicado de fazer. Todavia, é essa a única maneira de tirar fotos 3D sempre perfeitas de cenas contendo objetos em movimento, como pessoas, carros, animais etc.

A solução que está mais ao alcance de todos nós é simplesmente tirar duas fotos em rápida sucessão, mudando a posição da câmera entre as duas capturas. Assim, produzimos duas imagens, uma para o olho esquerdo e outra para o olho direito. Somente os objetos que não se moverem entre as duas exposições serão corretamente representados por este método; os que se moverem aparecerão como fantasmas, duplicados na imagem aparente. Não deixa de ser um efeito interessante, mas não é isso o que queremos. Assim, a fotografia 3D com imagens sequenciais deve contornar essa limitação, seja tirando a sucessão de fotos muito rapidamente, ou evitando assuntos que se movam muito.

Outro aspecto fundamental é a chamada linha de base, que é distância entre os centros ópticos das duas fotos. O ponto de partida "seguro" é uma distância correspondente à que existe entre nossos olhos, de aproximadamente 7 cm em média. Você pode separar mais as imagens para registrar objetos distantes, reforçando assim a tridimensionalidade. Para objetos muito próximos, a distância pode ser menor que 7 cm, produzindo a ilusão de que os objetos são maiores que no mundo real.

Visualização sem óculos

Você vai encontrar dois tipos de estereogramas para visualização sem óculos: convergente e divergente. Ambos são bastante usados por cientistas para visualizar na tela modelos de moléculas complexas, por exemplo. Por não precisar de nenhum tipo de decodificação externa, é um método bem prático, embora o layout visual formado por pares de imagens possa não parecer muito atraente ao olho destreinado. Além disso, as imagens do estereograma não podem cobrir um ângulo muito amplo de lado a lado, o que limita o tamanho pelo qual podem ser apresentadas.

Para a maioria das pessoas, provavelmente a visualização divergente é a mais fácil de aprender. Nela, a imagem esquerda é apresentada do lado esquerdo e a direita do lado direito. Em vez de fazer os olhos convergirem sobre as imagens como fariam normalmente, eles devem apontar para mais longe, mantendo o foco na distância normal da imagem. Para treinar essa visualização, primeiro você deixa os olhos fitarem o infinito e então encara o estereograma, mas sem permitir que os olhos se "encontrem". Você deixa as duas imagens do estereograma formarem um trio: uma imagem central tridimensional cercada por duas sub-imagens laterais, que você deve ignorar. A sensação é de ela estar mais perto que o normal. Experimente com a imagem de número 2 da galeria (na aba, acima), afastando-se do monitor caso necessário para 'pegar o jeito' da visualização.

Na visualização convergente, é o contrário: a imagem direita fica à esquerda e vice-versa. Você faz os olhos convergirem muito mais que o normal, como se estivesse tentando ver um objeto mais próximo que na realidade. Para treinar essa visualização (imagem 3 da galeria, na aba, acima) ponha um dedo a meia distância entre seus olhos e o estereograma e, fitando-o, faça com que o estereograma pareça formado de três imagens desfocadas. Então, tire o dedo da frente aos poucos e deixe os olhos focalizarem na imagem central do estereograma. Você verá a imagem nitidamente, com a sensação de ela estar mais longe que o normal.

Estes métodos, especialmente o convergente, causam desconforto por forçarem bastante a vista, por isso não abuse deles no começo. Felizmente, pessoas habituadas ao seu uso ao longo décadas garantem que eles não oferecem o mínimo perigo aos olhos.

Visualização com óculos coloridos

Este método clássico permite mostrar as duas imagens do estereograma sobrepostas; os filtros coloridos fazem a separação entre as imagens esquerda e direita. É o que vem sendo usado em revistas impressas - a única necessidade técnica é que elas venham acompanhadas dos óculos visualizadores; a impressão em si não muda nada em relação ao habitual.

Por este método as imagens podem ser bem grandes, tendo o inconveniente de perderem, em parte ou completamente, as cores originais. Além disso, a coloração exata da impressão e a qualidade dos filtros do óculos influem na presença de resíduos de uma das imagens no olho oposto - especialmente no filtro azul, que por convenção corresponde ao olho direito. Seja como for, é um método fácil de aplicar e só exige o uso dos óculos, que podem até ser fabricados em casa.

Eis um passo-a-passo para montar imagens estereoscópicas anaglíficas para ver com óculos no monitor do computador, no espaço de cor RGB.

1- Coloque as duas fotos, esquerda e direita, como camadas (layers) sobrepostas num só documento de imagem do Photoshop. Renomeie a imagem esquerda como E e a direita como D.

2- Use a função Edit>Auto-Align Layers, opção Reposition Only. Isso irá corrigir diferenças de alinhamento vertical entre as imagens. Não se preocupe ainda com o alinhamento horizontal.

3- Arraste a camada E, esquerda, para o topo da pilha na paleta Layers. Ponha essa camada em modo Multiply, que é transparente. A fusão das imagens ficará bem mais escura; isso é normal.

4- Ainda na camada de cima (E, olho esquerdo, filtro vermelho), abra a caixa Levels, selecione Green no menu pop-up, clique na seta preta abaixo da palavra Output e desloque-a completamente para o canto direito. A imagem parecerá esverdeada. Repita isso no canal Blue. A imagem ficará azul celeste.

5- Selecione a camada de baixo (D, olho direito, filtro azul), abra novamente a caixa Levels, selecione Red no menu pop-up e desloque a seta preta de Output até o canto direito, deixando a imagem avermelhada.

6- A imagem final parecerá ter as cores originais restauradas, mas apresentando franjas coloridas nas laterais dos objetos, como a imagem número 4 na galeria (veja na aba, acima).

7- Mova qualquer uma das duas camadas no sentido horizontal, a fim de escolher o ponto convergente da imagem - aquele em que as imagens direita e esquerda se encaixam. Esse ponto, que usualmente corresponde ao ponto de foco das fotos, apresenta a característica de ser percebido como estando no mesmo plano da superfície do suporte (monitor ou folha de papel). Os demais objetos na cena serão vistos como atrás ou à frente desse plano.

O passo-a-passo para montar imagens em CMYK (espaço de cor usado para impressão em papel e outros suportes em cores) é um pouco mais complexo:

1- Igual aos passos 1 a 3 para RGB: coloque as duas imagens como camadas sobrepostas de um só documento, com a de cima correspondente ao olho esquerdo e em modo Multiply.

2-

Acesse as preferências de separação de cores:

Edit>Color Settings

(Command-Shift-K). Selecione

Custom CMYK

no menu pop-up CMYK. Mude a opção Ink Colors de SWOP para

Eurostandard

(o padrão mais usado para offset no Brasil), e abaixo, no menu GCR, mude de Medium para

None

. Dê OK. Essa mudança produzirá uma separação de cores na qual o canal K (preto) permanecerá completamente sem tinta, melhorando a separação entre as imagens e minimizando o efeito 'fantasma' nos filtros coloridos (que é quase imperceptível com imagens em RGB, mas bastante visível em CMYK).

3- Na camada de cima (E), abra a caixa Levels e mova a seta preta embaixo de Output para o canto direito do gráfico, nos seguintes canais: Magenta e Yellow.

4- Na camada de baixo (D), abra a caixa Levels e mova a seta preta embaixo de Output para o canto direito do gráfico, no canal Cyan.

5- Volte a Color Settings e mude de volta a separação para GCR Medium para o Photoshop voltar a fazer separações de cores normalmente.

6- Repita o passo 6 de RGB, movendo lateralmente as camadas até fazer coincidir o objeto na cena que está no plano focal.

O resultado em CMYK apresenta alguma perda em relação ao RGB, inerente às tintas de impressão, e fica menos contrastado que uma foto normal, o que tem o efeito colateral positivo de não 'embolar' muito as sombras. (veja a foto número 5 na galeria, na aba, acima)

Para garantir o sucesso do seu anaglifo

Já mencionamos que os estereogramas feitos com fotos consecutivas não devem registrar movimento significativo de um objeto entre os dois olhos. Por exemplo, nas fotos número 5 e 6 da galeria, acessível pela aba, acima), feitas com tripé no meio da rua, foi preciso esperar o sinal fechar e os carros pararem. Mesmo assim, quase sempre alguma coisa está em posição diferente entre as imagens esquerda e direita.

Aplicam-se também as seguintes observações:

1- Optamos nos tutoriais acima por não transformar as imagens dos anaglifos em preto e branco antes de processá-las, pois a cor residual as torna mais atraentes para quem as visualizar sem óculos. Mas a conversão P/B será necessária se a cena contiver objetos de cores muito saturadas na faixa do vermelho ou do azul, pois eles perderão a sensação tridimensional ao serem vistos através dos óculos, por parecerem muito mais iluminados para um olho do que para o outro. O problema é mais forte para o olho esquerdo (vermelho), para o qual tudo o que for azul, celeste ou verde parecerá preto ou muito escuro, e o que for vermelho ou amarelo parecerá quase branco. O filtro azul no olho direito reage menos, pois para ele vermelho parece preto, mas as demais cores do espectro são menos afetadas.

2- Ao planejar a foto, você deve escolher o objeto que será o centro da composição, e apontar o centro do quadro da câmera para ele em ambas as fotos. Portanto, entre as duas imagens a câmera não se move em paralelo com a cena, e sim convergindo um pouco. Se esse cuidado não for tomado, vai sobrar bastante área lateral sem sobreposição quando você montar o 3D.

3- O objeto no qual as duas imagens componentes do anaglifo coincidirem (isto é, estiverem em perfeito registro uma com a outra) será percebido como estando no mesmo plano do suporte (a tela ou folha de papel na qual a imagem é apresentada). Esse é o chamado ponto convergente da imagem. Os demais objetos da cena estarão mais ou menos fora de registro e serão percebidos como estando mais próximos ou afastados do suporte.

4- A dica acima tem exceções: nem sempre o objeto focal será o mais indicado para deixar em registro alinhado, Dependendo da distância de visualização, você irá perceber que os olhos simplesmente não conseguirão contemplar um objeto próximo cujas imagens estiverem muito separadas (por exemplo, o semáforo em primeiro plano na foto acima). Ajuste a posição lateral relativa entre duas imagens até obter o efeito 3D mais fácil de visualizar sem precisar forçar a vista.

Brinde especial: Actions de Photoshop

No atalho tinyurl.com/36a99me, você tem para baixar um pacote de Actions de Adobe Photoshop (para qualquer versão CS), que irá ajudar você a processar imagens em 3D no seu computador. Ele contém as seguintes Actions:

3D Anaglifo RGB - Passos 2 a 6 do tutorial RGB (os passos 1 e 7 exigem operação manual).

3D Anaglifo CMYK - Passos 2 a 5 do tutorial CMYK (os passos 1 e 6 exigem operação manual).

3D Anaglifo - Crop - Contém um procedimento simples para descartar as partes que restam sem sobreposição na imagem já combinada. (Use-a depois de alinhar as camadas.)

3D Divergente - Muda a largura da imagem e acomoda a imagem esquerda à esquerda da direita. (A altura usada de 1200 pixels é arbitrária: mude-a conforme necessário.)

3D Convergente - Muda a largura da imagem e acomoda a imagem direita à esquerda da esquerda. (A altura usada de 1200 pixels é arbitrária: mude-a conforme necessário.)

Geek
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