Conteúdo do Geocities poderá ser baixado via Torrent
O conteúdo completo do (para alguns, saudoso) portal Geocities, que foi durante muitos anos sinônimo de páginas pessoais gratuitas na internet antes do advento dos blogs, WordPress e Blogger, pode agora ser baixado via torrent. Quando foi fechado pelo Yahoo! há exatamente um ano, em 26 de outubro de 2009, ele encerrou um dos capítulos mais importantes da história da internet.
O Yahoo! anunciou, de forma bastante discreta, o fim do Geocities em abril de 2009, sem informar uma data concreta. A empresa avisou que apagaria os dados definitivamente apenas alguns dias antes de iniciar a remoção, em 23 de outubro, o que pegou muita gente de surpresa e deixou quem esperava ter mais alguns meses para salvar seus dados com pouco tempo para o backup. Muita coisa se perdeu, portanto, por conta do tráfego.
Mas um grupo de autoproclamados "historiadores da internet" batizado de Archive Team fez o que parecia ser impossível: trouxe o Geocities de volta. Não hospedado em um servidor e oferecendo o serviço, obviamente, mas empacotado em um arquivo de menos de 1 TB ¿ na realidade, cerca de 900 GB.
Isso quer dizer que qualquer um com 1 TB sobrando pode baixar e navegar pela sua própria cópia pessoal do Geocities? Não.
O post do Archive Team que anunciou o arquivo para download é de euforia: "Isso será magnífico, um 'baita' torrent. A compressão está acontecendo neste exato momento, e fará a infelicidade de umas duas ou três máquinas por algumas semanas".
Mais adiante, comenta sobre o conteúdo: "queríamos disponibilizar isso tudo já hoje, mas não contávamos que fosse tanta coisa. Provavelmente serão 900 GB nesse torrent. Não é perfeito e não abriga tudo o que havia no Geocities, mas já é alguma coisa".
Por fim, um pouco de retórica: "Embora saibamos (referindo-se ao desaparecimento de dados na internet) que esse tipo de atitude arrogante e nociva vá continuar até o fim dos tempos, esperamos que este torrent chame a atenção de todos para o valor histórico e cultural de todos esses arquivos, bem como da facilidade com que eles são apagados da história da humanidade ¿ e da facilidade com que podem ser novamente encontrados".
A postagem apaixonada de Jason Scott (um dos membros do Archive Team) em seu blog anunciando o torrent pode ser lida em ascii.textfiles.com/archives/2720. Se você estiver interessado no torrent (que ainda não está pronto), basta mandar um email para geotorrent@textfiles.com para ser avisado quando o arquivo estará no ar (Scott promete que será apenas um email de aviso).
Para saber mais sobre o Archive Team, que se propõe a "recuperar todos os seus dados", basta visitar a página oficial do projeto em www.archiveteam.org.
O Geocities e seu lugar na história
Quando o Yahoo! fechou o já meio que abandonado site em dezembro último, os internautas "das antigas" derramaram uma última lágrima pelo serviço, que foi a casa do primeiro site de muita gente. Muitas das infelizes práticas que acometem os sites até hoje, como as páginas "Em Construção" e a formatação usando tabelas, foram amalgamadas na cultura do HTMListas em grande parte por causa do Geocities.
Mas ninguém tira do serviço o reconhecimento por ter sido um dos primeiros, e talvez o mais importante, elemento de democratização da web nos anos 90. Foi apenas com o surgimento do Geocities que qualquer um poderia ter 10 MB (isso mesmo, dez megabytes) de espaço para mostrar a cara na internet e falar livremente sobre o que bem entendesse. O primeiro site deste que vos escreve foi no Geocities, e pelo menos uns três ou quatro outros também.
O Geocities também foi o precursor do que hoje chamamos de redes sociais, com suas "vizinhanças" (neighborhoods) que tratavam cada uma de um assunto específico. Assim, quem gostava de música poderia manter um sitezinho em Sunset Strip, onde poderia encontrar e ser encontrado por outros que tinham os mesmos gostos. Na época, sem Orkut, MySpace ou Facebook, era onde os adolescentes fãs de Silver Chair (o Restart de então) se encontravam.
O decano portal, fundado em 1996 e passado ao controle do Yahoo! em 1999, seguiu o mesmo caminho do esquecimento já trilhado por seus concorrentes (que nunca chegaram a lhe fazer sombra) como Angelfire, Tripod e Xoom.
Mas não havia muito o que fazer: em verdade, o portal hospedava milhões de páginas em sua maioria abandonadas, com um custo mensal alto e sem retorno financeiro. Mesmo assim, doeu no coração de muitos saber que milhões de páginas seriam deletadas sem cerimônia pelo Yahoo! ¿ algumas muito úteis, para as quais encontramos links (mortos, claro) até hoje pela internet.
Se pensarmos que nesses sites quase não havia conteúdo multimídia ou Flash, apenas imagens e texto em HTML, 900 GB podem abrigar milhões de páginas ¿ não se sabe, hoje, exatamente quantas puderam ser salvas nesse torrent mas, segundo a Wikipedia, o serviço abrigava 38 milhões de páginas de usuários quando foi fechado em 2009.
Talvez, hoje, 900 GB não sejam lá grande coisa (um disco rígido de 1 TB custa menos de R$ 200, no Brasil e com impostos inclusos) mas quando o Geocities era uma instituição de peso na ciberesfera o sistema deveria consumir rios de dinheiro e de energia, além de ocupar um espaço considerável no data center.
O Geocities ainda sobrevive no Japão, onde é bastante popular, mas sem os dados das páginas de fora do país.
