Para pioneiro da internet, o futuro está na "nuvem"
Como pensar em futuro se, no mundo digital, o que é novidade hoje torna-se obsoleto em cinco minutos? Para além do exagero da afirmação, a internet tem pouco mais de 30 anos de existência e um número de evoluções que parece não caber em um espaço de tempo tão curto. Para Aleksandar Mandic, um mestre da computação nacional, o futuro online ainda dá pequenos passos, mas já possui uma direção clara: a computação na "nuvem", disse ele em entrevista ao Terra.
Mandic é pioneiro na áerea de telecomunicações no Brasil. Foi o primeiro a explorar comercialmente o provedor de acesso à internet no País, com a Mandic BBS, e é co-fundador do iG - Internet Group. Para ele, a melhor e mais complexa perspectiva que a rede pode oferecer ao mundo é a "nuvem", que é o uso da capacidade de armazenamento de dados na "memória" não física da própria internet, sem a necessidade da utilização da memória física dos PCs, por exemplo. A máquina, aqui, se torna uma espécie de "USB" conectado a essa grande "nuvem" de arquivos e dados compartilhados e integrados pela internet.
Ele aponta, no entanto, que há um longo caminho pela frente. Do desafio da autorregulação, que, de acordo com ele, deveria ser discutida de maneira mais ampla e eficaz, até a questão de que redes sociais, por exemplo, podem acabar sendo vistas muito mais como um sinônimo de conforto, deixando de lado seu incrível potencial de interatividade e se tornando um "barzinho" da esquina.
Segundo a Internet World Stats, são cerca de dois bilhões de usuários conectados em todo o mundo. Apesar do alto número, o que se vê são os Estados Unidos na liderança absoluta de geração de ideias e um mundo, literalmente, de pessoas seguidoras do que já está criado. O grande problema aqui é a falta de apoio, seja governamental, seja de empresas, à iniciativa, ao empreendedorismo, o que acaba por cultivar a visão da internet como ferramenta passiva. Sem fronteiras, mas um "brinquedo", que não gera conteúdo, lucro e, principalmente, reflexão.
Para Mandić, o Brasil é bom em usar a novidade. E muito disso se deve à natureza do brasileiro, que gosta de compartilhar pensamentos, novidades, notícias. Mas ele ainda não sabe criar, o que, para o especialista, possui raízes muito mais profundas do que a simples relação com o universo online.
Para ele, a maneira como usuários brasileiros lidam com a internet reflete o retrato da desigualdade social do País, da falta de oportunidades para grande parte da população e um preocupante problema educacional, que forma reprodutores de pensamento em vez de criadores e pensadores independentes.
"A internet é, sem dúvida, uma grande fonte de informação. Não há uma só escola que ouse proibir o aluno de procurar informações no Google, por exemplo. Mas de que servem as informações se a pessoa não consegue criar ideias próprias a partir disso?", refletiu Mandic.