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Exibir relacionamento no Facebook pode ser problemático

5 abr 2011 - 16h55
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Jacqueline Lafloufa

Tudo começou como uma simples brincadeira nos dormitórios de Harvard, mas cerca de sete anos depois, a rede social criada por Mark Zuckerberg já acumula mais de 500 milhões de usuários. Além de ter aumentado a sua base de usuários, nos últimos anos o Facebook também foi elevando o número de campos disponíveis a serem preenchidos. O site, que antes solicitava apenas alguns dados básicos, como nome, universidade e formas de contato, agora já permite preencher opções de preferência sexual, atividades, livros, esportes e estilos musicais favoritos e até mesmo o seu atual "status" de relacionamento. As opções para preenchimento variam bastante - só no quesito vida amorosa, é possível escolher entre solteiro, namorando, noivo, casado, separado, divorciado, viúvo, em um relacionamento aberto ou até mesmo a curiosa descrição "é meio complicado".

Mesmo que preocupação com a privacidade tenha crescido, nem sempre os usuários do Facebook refletem sobre o que costumam compartilhar na rede
Mesmo que preocupação com a privacidade tenha crescido, nem sempre os usuários do Facebook refletem sobre o que costumam compartilhar na rede
Foto: Sami Makino / Divulgação

A questão é entender por que as pessoas se sentem compelidas a divulgar tais dados, já que nem mesmo o próprio fundador e CEO da rede social tinha se dado ao trabalho de informá-las em seu perfil. Apesar de namorar Priscila Chan desde Harvard, Mark Zuckerberg atualizou seus status para "em um relacionamento" há apenas duas semanas.

Ainda que a preocupação com a privacidade dos dados disponibilizados na internet tenha crescido nos últimos anos, nem sempre os usuários do Facebook param para refletir sobre o que costumam compartilhar na rede. O estudante Fábio Caffarello, 18 anos, não sabe explicar direito o porquê de ter disponibilizado na rede o status do seu relacionamento, mas acaba revelando o que é uma verdade para quase todos que tem perfis na rede. "Para mim serve mais para deixar os outros cientes", afirma.

Segundo a psicóloga Ékica Saab, isso pode ser explicado pela própria condição do ser humano, que é um "animal social", sentindo naturalmente a necessidade de se agrupar e estabelecer relações políticas, econômicas ou afetivas com seus semelhantes. "As redes sociais são uma extensão da nossa vida em sociedade", explica, lembrando que serviços como o Facebook surgiram em uma época em que tem se tornado cada vez mais complicado estar próximo de amigos e familiares de forma presencial. "Hoje a opção de utilizar o contato virtual para compensar a impossibilidade de presença física tem sido muito bem aceita", diz Saab.

Existe, é claro, quem acredite que disponibilizar a informação da sua "solteirice" ou do seu mais recente relacionamento estável esteja também atrelado a certos tipos de vantagens sociais. Ao saber que você está novamente sem companhia, um antigo caso pode ter na divulgação do status de relacionamento o incentivo que precisava para entrar em contato - como se fosse uma sutil mensagem "agora estou livre para alguém novo e pode ser você" -, ou o inverso, ao manter a sua rede de contatos avisada de que você está em um relacionamento e não está em busca de um novo amor.

Outro comportamento bastante comum nas redes sociais é a famosa "vingancinha civilizada", na qual quem sofreu com o término do relacionamento quer mostrar que já deu a volta por cima, informando a todos, sem muitos pudores, que está livre para curtir a solteirice. Seria como uma "oficialização¿ de um término. "Essa é uma vingança bem aceita socialmente. Funciona também com pessoas recém-saídas de um relacionamento, que passam a divulgar álbuns de fotos mostrando a sua empolgante nova vida de solteiro", conta a psicóloga.

Aplicativos
Com foco nesse público que não segura os dedinhos próximo dos teclados, acabam surgindo aplicativos oportunistas, que querem facilitar a vida de possíveis admiradores secretos e de stalkers, os conhecidos fuçadores de perfil. Um exemplo disso é o Waiting Room, aplicativo para Facebook que permite monitorar as alterações de status de determinados amigos na rede social, avisando aos interessados quando houver algum tipo de modificação. Os monitorados também são avisados através da rede que existe alguém em sua "sala de espera", assim, caso o relacionamento não esteja indo lá muito bem, se ganha um incentivo para deixá-lo para trás.

No entanto, é bom lembrar que toda informação dentro das redes sociais pode ser controlada para quem será mostrada e, em última instância, pode ser omitida. Muitos reclamam da dificuldade em entender as regras para a publicação de conteúdo privado, mas nos últimos meses o Facebook tem se esforçado em deixar cada vez mais claras as opções de privacidade da rede. Assim, muita gente que compartilha o conteúdo, na verdade, quer mesmo se expor.

O único porém é que toda super exposição tem sua consequência, que costuma ser bastante nítida quando novos relacionamentos afetivos - ou o fim deles - são anunciados dentro do Facebook. "Alguns dos seus conhecidos ficam cientes e passam a enviar perguntas inconvenientes", relata Caffarelo. Outra situação muito comum é que pessoas da sua rede de relacionamentos passem a entrar em contato para saber detalhes sobre os assuntos divulgados no Facebook. No caso de Fábio, anunciar publicamente o fim do seu relacionamento afetivo gerou alguns comentários dentro da própria rede social e desdobramentos em sua vida real. "Minha prima me ligou, perguntando como eu estava e se precisava dela para desabafar ou conversar", conta, lembrando que ninguém diz que viu o ocorrido no seu status do Facebook, mas que "é bastante perceptível de onde eles obtiveram tal informação".

Para evitar situações constrangedoras ou incômodas nas redes sociais ¿ como, por exemplo, ter amigo "curtindo" sua solteirice quando, na verdade, você está de fossa em casa - é preciso pensar antes de compartilhar. É preciso ter prudência e bom senso, pois as redes passam essa falsa impressão de privacidade ¿ parece que ninguém está prestando atenção no que você diz, mas isso não é verdade. Daí você se pergunta "mas então o que eu devo publicar nas minhas redes?" Para ajudar, a psicóloga Erika Saab dá um conselho: "Quando em dúvida, devemos nos perguntar: 'eu diria isso em um auditório com mais de 100 pessoas, entre elas colegas, parentes e amigos? Se você achar que pode ficar constrangido, não publique'".

E o que fazer quando o seu amigo divulgar que está solteiro ou que está namorando? A prudência recomenda nem comentar sobre o assunto ¿ nada de "curtir" o fim do namoro - ou conversar de maneira privada, ao vivo ou por meio de mensagens não públicas, já que muitas vezes palpitar sobre o relacionamento alheio com as palavras erradas ¿ ou pior, públicas ¿ pode vir a abalar a amizade.

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