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Conheça brasileiro que tentou fabricar Apple II no País em 1983

13 abr 2011 - 14h10
(atualizado às 14h58)
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Ismael Cardoso

Há 28 anos, um jovem engenheiro eletricista sentiu que uma empresa de Cupertino com menos de 10 anos de existência poderia fazer a diferença no mercado de informática brasileiro. Essa empresa era a Apple. Esse jovem era o hoje empresário e administrador de uma rede de nove lavanderias Martin Jorge Jimenez Gossler. Hoje, em um momento em que algumas certezas, inúmeros rumores e muita torcida apontam para a produção de produtos da Apple no Brasil, pouca gente sabe que já na década de 80 alguém tinha tentado fazer isso.

Martin Gossler tentou, em 1983, produzir o Apple II, primeiro produto de sucesso da Apple, no Brasil
Martin Gossler tentou, em 1983, produzir o Apple II, primeiro produto de sucesso da Apple, no Brasil
Foto: Divulgação

Gossler se diverte ao saber da confusão que a empresa registrada por ele na Junta Comercial de São Paulo em março de 1983 causou na cobertura jornalística do mercado de tecnologia no Brasil. A palavra "indústria" na razão social da Apple Computer Sistemas de Computação, Indústria, Comércio, Representação, Exportação e Importação LTDA, empresa aberta por ele na época, motivou uma série de especulações nessa semana sobre a vinda de uma fábrica da Apple ao Brasil. Todos achavam que a Apple em questão era a verdadeira empresa de Cupertino.

Fundada ao lado do irmão administrador de empresas, Luis Max, a Apple tupiniquim da década de 80 fracassou antes mesmo de fabricar o primeiro equipamento, segundo Gossler por falta de interesse da Apple no mercado nacional. A Apple de Steve Jobs chegou ao País oficialmente somente em 1995, mas poderia ter chegado 12 anos antes se a Apple americana acreditasse na Apple brasileira da mesma forma que a Apple brasileira acreditava na Apple americana. Em entrevista ao Terra, Gossler conta como foram as negociações com a Apple e por que ele queria tanto fabricar seus produtos, numa época em que ninguém tinha muita certeza de que a Apple iria revolucionar a computação pessoal.

Terra - Que produto da Apple você e seu irmão tentaram produzir no Brasil?
Martin Gossler - Nós tentamos montar o Apple II no Brasil. Era uma máquina bem simples, com um drive externo, um monitor simples e que se ligava quase diretamente na tomada. Eu costumava fazer programas simples para ele, e era divertido programar softwares nesse Apple II. Como meu pai tinha lavanderia, eu fazia alguns programas de gestão para melhorar o funcionamento da empresa.

Terra - Como surgiu a ideia de abrir uma montadora de computadores da Apple no Brasil?
Gossler - Na época, o início daqueles computadores era uma febre. Eles eram bem simples, e eu achava que aquilo seria o futuro, que aquilo seria uma simplificação da computação. Eu fui para os Estados Unidos, visitei a Apple em Cupertino e conversei com eles sobre a possibilidade de montar os computadores aqui no Brasil. Como naquela época a importação das máquinas era um problema, houve pouco interesse da parte deles de dar continuidade nesse assunto, e eles nunca mais me procuraram. Mas a minha intenção era dar continuidade a isso. Quando eu voltei, decidi que iria importar as placas-mãe da Apple e fazer as máquinas aqui no Brasil, do meu jeito. Seria a placa da Apple em um produto totalmente novo. A placa era uma placa grande em um computador de plástico. Eu trouxe um Apple II para cá e estava montando um protótipo para produzir em fibra de vidro, um protótipo para ver se conseguiria montar em série. O projeto parou por aí por causa dos problemas de importação das placas, e porque eu não queria fazer um produto pirateado, sem autorização da Apple.

Terra - Nessa conversa com a Apple, vocês já tinham alguma estrutura preparada, local, funcionários?
Gossler - Não, a fábrica estava no fundo da minha casa, montei um galpão, destrui o Apple II que eu tinha e estava usando para montar o meu protótipo. Não estava perfeito, mas era aquilo que eu iria fazer em série. Eu tinha vontade de produzir junto com a Apple, mas o Brasil naquela época não despertava o interesse que hoje desperta. Não houve uma viagem deles para cá, para conhecer o que eu pretendia fazer, e o mercado da informática não era muito propício para eles aqui no Brasil.

Terra - Mesmo com a desistência de montar a fábrica, por que a empresa nunca foi fechada?
Gossler - Como eu sou engenheiro eletricista, eu sempre tive a esperança de retomar esse ramo, e talvez montar alguma coisa relacionada à informática. Houve depois um interesse meu em abrir uma fábrica de pequenas impressoras. Era mais fácil, mais simples, não causaria maior complicação na importação de peças, mas também não vingou. Nessa época eu não dei muita importância porque acabei me envolvendo demais no ramo de lavanderia.

Terra - Vocês imaginavam naquela época que a Apple iria virar a empresa que é hoje?
Gossler - Eu tenho iPad, iPhone e um daquels Macs antigos. Eu gosto da maneira simples como eles tratam a informática. Eu tinha uma certa expectativa com a Apple, eu vi a simplicidade do computador, eu me dei conta que a simplicidade que o Steve Jobs tratava a experiência da informática seria o futuro. Mas não da maneira como a empresa é hoje, tão violenta. Eu tinha perspectivas de que a Apple iria crescer muito, tanto é que eu tentei trazer os produtos para cá. Meu irmão, administrador de empresas, virou meu sócio nessa história porque via o entusiasmo que eu tinha, quando parecia que ninguém acreditava na Apple.

Fonte: Terra
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