PUBLICIDADE

Mercadante: Brasil tem déficit de R$ 18,8 bi por ano em TIC

17 jun 2011 - 17h14
(atualizado às 17h29)
Compartilhar
Vagner Magalhães
Direto de São Paulo

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, vai à Coreia do Sul, em julho, na expectativa de trazer novos investimentos em Tecnologia da Informação e Comunicação, setor em que o Brasil tem um déficit de R$ 18,8 bilhões anuais. Mercadante afirma que o projeto da planta da Foxconn - fabricante de produtos da Apple como iPad e iPhone - no País deve estar pronto até final de julho e que é preciso aumentar o número de patentes nos setores de média e alta tecnologia. Ele defende ainda que não deve haver mistificação da tecnologia e que ela pode ajudar muito em um salto de qualidade na educação brasileira. Leia os principais trechos da entrevista concedida ao Terra:

Terra - Quais são as principais demandas do País hoje em termos de tecnologia?

Aloizio Mercadante -Quando a gente olha o número de patentes, que é muito baixo, e quando analisamos os setores de média e alta tecnologia, nós estamos com déficits comerciais muito elevados. No setor de Tecnologia da Informação e Comunicação, o déficit global é de US$ 18,8 bilhões anuais. Se você pegar o setor, por exemplo, de fármacos, remédios, nós temos ali um déficit de US$ 6,5 bilhões. Se você pegar o complexo de equipamentos de saúde, mais US$ 5,5 bilhões. Mais de US$ 12 bilhões só em fármacos e complexo de equipamentos de saúde, que é uma área cada vez de mais esforço científico e tecnológico. A mesma coisa no setor de bens de capital. Nós estamos com déficit da ordem de US$ 12 bilhões. Esses setores são todos de alta e média tecnologia e revelam que o Brasil está perdendo competitividade nessas áreas. Nós estamos consolidando uma liderança em tudo o que se chama economia do conhecimento natural. Temos grande capacidade de inovação, eficiência, redução de custos, produtividade na agricultura...

Terra - E como mudar isso?

Mercadante - Você pega o etanol, desde o lançamento do programa, em que nós aumentamos a produtividade em 135% e reduzimos o custo quase 70% da produção. Então, nós temos a economia mais competitiva do mundo nesse setor. Na mineração e no petróleo, a mesma coisa. Com os fortes investimentos que a Petrobras fez em ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, se tornou a terceira empresa do mundo na área de petróleo e a oitava do mundo em valor de mercado. Temos o exemplo da Embraer. O País acreditou há 60 anos que poderia fazer uma empresa de aviação, formou várias gerações de engenheiros de excelente qualidade e hoje a Embraer é a terceira empresa de aviação do mundo. Tem 4,2 mil engenheiros trabalhando. Nós precisamos olhar esses bons exemplos do País e levar para esses outros setores estratégicos, como por exemplo, de Tecnologia da Informação. Esse é um setor portador de futuro. É um setor que cada vez vai ser mais importante. Nós precisamos olhar esses setores com prioridade, estabelecer uma política de desenvolvimento que permita alavancar o investimento, internalizar a cadeia produtiva e dar um salto estratégico. Estamos fazendo isso, com grande esforço, na área de Tecnologia da Informação.

Terra - Estão previstos novos investimentos de empresas estrangeiras no País?

Mercadante - A Coreia é um grande polo na área de TI. Samsumg, LG, são empresas que faturam US$ 200 bilhões, são líderes em algumas dessas cadeias, estão no Brasil, queremos ver o que é possível ampliar em termos de investimentos, de possibilidade, criar várias parcerias nas áreas de ciência e tecnologia com eles. É um País muito dinâmico e que também tem muito interesse em uma parceria estratégica com o Brasil. Já tem um acúmulo de relacionamento. O embaixador já está trabalhando. O Paulo Bernardo (ministro das Comunicações) esteve lá, já iniciou algumas negociações importantes na área de telecomunicações e eu vou lá para ver se a gente conclui. Estamos indo em julho para trazermos projetos, investimentos. Tivemos de janeiro a abril US$ 23 bilhões de investimento no Brasil. Este ano devemos ter entre US$ 55 bilhões e US$ 60 bilhões em investimento externo. Então nós temos de aproveitar esse momento para negociar transferência de tecnologia, sociedade com empresas brasileiras, que é o que permite ter transferência de tecnologia, formação de recursos humanos e mais esforço em pesquisa e desenvolvimento. Acho que esse é o grande esforço que nós estamos fazendo.

Terra - O Brasil tem algum interesse específico na Coreia?

Mercadante - Tem vários. Na área de comunicações, na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, toda essa cadeia de eletroeletrônicos, em que eles são muito fortes. Também na parte de nanotecnologia. Também estamos analisando o modelo de gestão de inovação deles, como fizemos na Alemanha, na China. Como é que os países administram essas coisas do modelo de inovação dá uma boa discussão.

Terra - O setor de Tecnologia da Informação gerou R$ 39 bilhões em 2009, mas a receita de exportação disso ainda é muito baixa...

Mercadante - Nós faturamos no ano passado, em torno de US$ 50 bilhões, com déficit de US$ 18,8 bilhões, e somos o 27º País exportador na área de Tecnologia da Informação e Comunicação. Nós somos a 7ª economia do mundo. Então isso mostra que nesse setor, que é estratégico, nós temos de rever a nossa política e ter atitudes mais ousadas e mais agressivas. O que nós estamos fazendo? Primeiro fizemos essa Medida Provisória dos tablets, que permite dar um desconto, que só dos impostos federais é 31%, mas pode chegar a 40% se você pegar toda a cadeia de impostos. É um ganho espetacular. Estamos editando o Processo Produtivo Básico (PPB), que é o que tem de ter de produção local. Já na Medida Provisória, para produzir no Brasil, tem de ter o benefício da lei e 20% de conteúdo nacional. Em três anos queremos 80% dos principais componentes sendo produzidos no Brasil. Na média 80%. Há produtos que têm de chegar a 95%. Nós queremos estender essa visão também para outras áreas, para os notebooks, para os celulares, para os televisores. Aumentar o PPB, aumentar a produção local. Nós estamos vendendo hoje 12 milhões de televisores. Nós achamos que este ano nós vamos chegar a 15 milhões de computadores e hoje dos televisores, metade tem tela LCD. Só tem quatro países no mundo que produzem essa tela. Então nós estamos fazendo um grande esforço para trazer para o Brasil essa indústria e também a de semicondutores. Só tem 20 países no mundo que produzem semicondutores e chips. Estamos negociando atrair grandes investimentos para a produção de semicondutores no Brasil porque temos escala, temos um mercado. E nós queremos que parte desses US$ 18,8 bilhões retornem como investimento, como geração de emprego e desenvolvimento do País.

Terra - E em relação à instalação da Foxconn?

Mercadante - A Foxconn chegou no Brasil, começou a negociar. A prioridade deles agora é implantar uma linha para fazer o iPhone e o iPad. Eles querem essa planta pronta já no final de julho, para começar a produção. Vão começar pelo iPhone e estão encaminhando agora 200 engenheiros e técnicos de alto nível em eletrônica para a China, para serem formados. Depois vão encaminhar mais 200. A prioridade absoluta é implantar essa planta. E estamos iniciando a negociação do projeto mais estruturante que é uma planta de verticalização de toda a produção. Desde os componentes elétrico-eletrônicos, chips, até o display, que como eu disse, só quatro países produzem. É uma tecnologia bem sofisticada. É uma planta de produção global. Nós não temos muitos setores com essas condições. Talvez só a mineração e parte da agricultura. Então a escala é muito grande. Nós precisamos de uma área muito grande também. E é uma área da ordem de cerca de 50 km² para implantar essa unidade. A perspectiva é muito forte. Além da planta, você tem de desenvolver, você cria um arranjo produtivo de alta tecnologia. A expectativa é atrair outras empresas associadas. Por exemplo, na área de óptica, automação, telemedicina, LED, energia fotovoltaica. A ideia é você criar esse espaço. Por isso precisa de uma área grande.

Terra - E em relação aos tablets. Já existe alguma empresa liberada para produção?

Mercadante - Três empresas já têm as licenças autorizadas: Samsung, Positivo e MXT. E nós esperamos dar prioridade absoluta para esse licenciamento. Vamos procurar liberar todas as empresas. Algumas têm alguns pequenos ajustes que precisam fazer, mas nós vamos prioridade absoluta para que elas comecem a produzir.

Terra - O governo tem se empenhado em trazer os tablets para o Brasil. Como é que fica a questão dos smartphones, que não tiveram um benefício tão grande, principalmente na questão de impostos?

Mercadante - É um tema que está na nossa pauta. Eu acho que nós precisamos criar uma política semelhante para notebooks, para celular, para smartphones no sentido de aumentar a produção local, desencadear investimentos em semicondutores, telas, displays, enfim, todos os componentes críticos para que a gente domine essa tecnologia e aproveite essa oportunidade fantástica que o mercado brasileiro representa. Estamos produzindo 80 milhões de celulares por ano. Então tem um mercado muito robusto, que tem escala. O índice de produção local ainda é muito baixo, no meu ponto de vista, nos celulares. Nós temos também de rever o PPB e estabelecer um PPB para o smartphone.

Terra - Há alguma previsão para incentivo na área de software?

Mercadante - Essa vai ser uma das prioridades do nosso programa estratégico de Tecnologia da Informação. O Brasil tem um potencial muito grande de softwares e games. São mercados muito importantes na economia mundial e o nosso desenvolvimento nesses setores é ainda muito deficiente. Nós estamos pensando em realizar uma Olimpíada de Tecnologia da Informação para tentar atrair talentos, como nós estamos fazendo na matemática, para descobrir talentos nessas áreas e ter uma política de incentivo fiscal, para alimentar essa rede. Ter uma atitude mais agressiva, como nós estamos fazendo com os tablets, para estimular a geração e desenvolvimento de softwares no País. Essa é uma área que pode gerar muito emprego de qualidade, é muito estratégica e nós achamos que o brasileiro, pela criatividade, pela cultura, se adapta muito bem a essas áreas.

Terra - O governo Lula se mostrou favorável ao software livre. Já no início do governo Dilma, teve a retirada do selo do Creative Commons do ministério. Como é que o senhor está tratando o software livre?

Mercadante - Nós temos todo o interesse no fomento ao software livre. Ele é um instrumento que permite uma construção coletiva. Ele ajuda a baratear o custo do acesso ao software e é um vetor muito promissor que vem crescendo em toda a economia mundial. Então nós temos todo o incentivo ao software livre. Nós queremos fomentar essa política no País.

Terra - De que maneira?

Mercadante - Tem vários programas, tem redes na área de TI que nós apoiamos e que desenvolvem produtos, processos. Temos redes de pesquisa, institutos nacionais de tecnologia que desenvolvem softwares nessa área. Temos dado apoio a várias iniciativas e temos uma política de fomento e apoio ao software livre.

Terra - Pesquisa da Cisco aponta que 100% dos profissionais da educação no Brasil acreditam que o uso da tecnologia pode melhorar o ensino, acima da média mundial que é de 85%. Como é que o senhor acha que a tecnologia pode contribuir com a educação?

Mercadante - No meu mandato (de senador), eu me dediquei muito a isso. Aprovei um projeto por unamidade no Senado, de pegar R$ 1 bilhão do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e colocar no programa de inclusão digital todo o ano. Formar professores, produzir material pedagógico, expandir essa rede. Na Câmara, a comissão especial já aprovou, falta a votação final. Eu acho que deveria ser a prioridade das prioridades. Nós estamos também, com um grande esforço da presidente Dilma, em dar prioridade ao plano nacional de banda larga, para poder chegar nas escolas. Está atrasado o acordo que foi feito com as empresas. Elas não cumpriram o calendário que foi estabelecido pelo Ministério das Comunicações. Nós precisamos avançar isso. No ministério, nós estamos fazendo vários projetos-piloto para desenvolver tecnologia e fazer avaliação pedagógica de qual o melhor caminho. Que tipo de equipamento, de material digital mais exitoso, qual a estratégia de implantação das novas tecnologias. Estive reunido com o secretário de Educação de São Paulo, que esteve lá no gabinete, propondo uma parceria com o ministério para nós ampliarmos um programa em São Paulo de lousa digital. Iniciar o processo de inclusão digital pela lousa digital, com a qual o professor se sente mais seguro. É um instrumento que motiva muito os alunos, principalmente português e matemática, física e química. E isso tem de ser feito com acompanhamento, com sistema de avaliação de monitoramento. O MEC vem fazendo alguns projetos-piloto com o uso de notebooks. O Acre tinha a pior qualidade de ensino no Brasil e hoje tem alguns indicadores em sétimo e sexto lugar. E eles já colocaram banda larga em todas as escolas do Estado e estão distribuindo notebooks para os alunos. A gente não pode mistificar a tecnologia. Não adianta chegar lá e jogar o computador na sala de aula. Isso tem de ser muito bem construído com orientação pedagógica, com treinamento, com formação. Por isso, essas experiências. Nós queremos desenvolver material conjunto. Em países como Taiwan, você já não tem mais livro didático. É o tablet. A Coréia, em dois anos, também já não produzirá livro didático. Já tem toda produção didática digitalizada. É um investimento que vai trazer uma grande economia, com grande aumento de eficiência. O governo pretende utilizar o seu poder de compra nessa rede de 69 milhões de alunos... Nós já somos o terceiro mercado do mundo em venda de computadores. Com Olimpíada e Copa vai ter uma demanda crescente. E com esse programa de inclusão social, nós somos um dos mercados mais promissores do mundo. É exatamente essa condição que nós estamos usando para internalizar toda a cadeia produtiva.

Terra - A tecnologia é vista como fator de inclusão de pessoas portadoras de deficiência. Há projetos em andamento nessa área?

Mercadante - Nós temos um projeto para ser lançado, estamos já na fase final de ajuste. Devo conversar com a presidente o mais breve possível sobre isso. É um programa de utilizar tecnologia assistível. Nós fizemos um cadastro com dez países que mais tem tecnologia nessa área, de todos os produtos para pessoas com deficiência, todo tipo de produto desde os mais sofisticados, até os mais simples. São cerca de 1,6 mil produtos que nós vamos colocar em um portal na Internet, dedicado. Além disso, estamos lançando uma linha da Finep para o desenvolvimento de empresas para a produção de tecnologia assistível no Brasil. Vamos abrir uma linha de financiamento, estamos negociando com Caixa e Banco do Brasil para ter juros mais acessíveis para a população de mais baixa renda adquirir esses equipamentos. Então é um programa muito bem desenhado, que vai ajudar muito muitas famílias, muitas pessoas, que às vezes não tem mobilidade nenhuma por falta de acesso a esses equipamentos.

Terrra - Houve uma reunião do G8 que sobre a regulamentação da Internet. Qual o posicionamento do Brasil nesse setor?

Mercadante - Tem vários níveis de discussão. Tem o problema do Comitê Gestor da Internet, que o ministério faz parte. A gente coordena um pouco essa política, que tem sempre ajustes e aprimoramentos a serem feitos. Agora, existe uma outra discussão que é o problema da responsabilização dos usuários de Internet pelos crimes que são praticados na rede. Na realidade, todo o crime que tem na sociedade pode ter também na web. Estelionato, furto, roubo, pedofilia. Então você tem de ter instrumentos para fiscalizar, para punir. O que você não pode é matar a essência da Internet que é a liberdade. A liberdade é absolutamente fundamental. A liberdade de pensamento, de expressão, de debate, de reflexão. Nós tivemos esse debate, por exemplo, no Congresso Nacional, sobre a legislação eleitoral. Havia uma tentativa de estabelecer regras rígidas sobre o posicionamento em relação às eleições. E eu defendi uma emenda que era liberdade total na Internet em relação às eleições. O que primeiro é um erro histórico. Segundo é absolutamente inviável você imaginar que vai conseguir censurar, cercear. Então nós precisamos de liberdade e estabelecer os limites dos crimes que podem ser praticados pelas pessoas para elas serem responsabilizadas.

Terra - Quanto à Comissão do Futuro, vocês tiveram algumas reuniões. Já há algum resultado?

Mercadante - Já tivemos uma primeira reunião de planejamento, ela já foi instalada, criando grupos de trabalho para algumas áreas importantes. Vão fazer audiências para ouvir a sociedade, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Academia Brasileira de Ciência, as entidades das áreas específicas. Nós chamamos cientistas renomados de várias áreas com experiência internacional, inclusive cientistas de outros países, cientistas de ponta para que essa comissão tenha toda a liberdade para sugerir políticas e provocar agendas e recomendar ajustes. E vamos também convocar o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que é comandado pela presidente da República, onde tem também cientistas. Ali tem um acento orgânico das entidades. Tem também alguns empresários com foco na área de inovação para que faça o debate sobre o novo plano de ação de Ciência e Tecnologia e Inovação que nós vamos lançar e está pronto.

Terra - E o programa espacial brasileiro? Depois daquela tragédia de Alcântara, ficou paralisado. Tem previsão de investimentos? Como o senhor está tratando o assunto?

Mercadante - Estamos fazendo fortes investimentos nesse setor. Vamos lançar dois satélites com a China, que vão ajudar no monitoramento. Na Amazônia, temos projetos complementares. Alguns pequenos satélites científicos e estamos discutindo a possibilidade de um satélite dedicado à banda larga na Amazônia. Aí seria um satélite com outros países da Amazônia, porque você não consegue chegar com banda larga a todas as regiões da Amazônia via fibra ótica. Então você precisa de um satélite e baratear o acesso ao satélite aberto. Além disso, temos uma parceria com a Ucrânia para o desenvolvimento do Ciclone 4. A Ucrânia é um país que lançou cerca de 270 foguetes. Eles tem lá um acervo importante e estamos desenvolvendo juntos o quarto estágio do Ciclone 4 que é o satélite que vai carregar mais carga e vai a uma distância mais longa para a gente disputar o nicho do mercado internacional nessa área. E estamos desenvolvendo o VLS, que é o nosso Veículo Lançador de Satélite. Nós esperamos já um novo teste em 2012. Estamos aprimorando bastante o projeto. Estamos desenvolvendo também um foguete de porte médio, o VLM, e temos também já pronto também um satélite meteorológico. O último lançamento que nós fizemos foi na Suécia, agora em março, em uma parceria com a Alemanha. O Brasil precisa avançar mais rápido na área de satélites. É uma área muito estratégica para comunicação, segurança, previsão meteorológica, controle de desmatamento, gestão territorial. É uma área que gera muito emprego qualificado, muito valor agregado. Nós estamos reestruturando, definindo novas prioridades. A gente quer mais parceria com a indústria. Com a política industrial brasileira e estamos muito otimistas em relação ao nosso programa espacial.

Terra - Há recursos para financiamento para inovação?

Mercadante - Nós temos um volume de financiamento para inovação muito pequeno no Brasil diante da demanda. E o que acontece com a inovação? No mundo, nos países da OCDE, nos países desenvolvidos, industrializados, que têm mais capacidade de inovação, dois terços da inovação quem faz são as empresas. No caso do Brasil, se você tirar a Petrobras, empresa que investe 2% do faturamento em inovação, porque é uma regra, uma lei, sobra muito pouco. Mais ou menos um terço só do que investido em inovação vem do setor privado. Precisamos reverter isso, ter política de fomento para a inovação do setor privado. Nós estamos criando uma política de podermos participar do investimento de empresas inovadoras, que hoje não pode, desde que esteja compatível com a política de investimento, prioridade da política industrial de Ciência e Tecnologia. Temos de fazer uma adaptação na lei. Porque assim você participa do risco da inovação, mas do ganho. Se a empresa consolidar a inovação, você realimenta os fundos setoriais. De outro lado, nós estamos querendo também combinar créditos, subvenção e investimentos para ter uma política mais agressiva de fomento à inovação. Criamos aquele movimento empresarial pela inovação, que é uma rede de instituições de apoio à inovação, e que está praticamente em quase todos os Estados do Brasil. Estamos debatendo agora a ideia de criar a Embrapa da indústria e estar atento atender às demandas para a inovação.

Terra - Em relação ao monitoramento dos desastres naturais. Para o ano que vem já vai haver algum resultado prático, de pelo menos minimizar o número de vítimas, com o sistema já funcionando?

Mercadante - A nossa parte do sistema é basicamente o monitoramento de satélite, radares, pluviômetros... Nós vamos fazer isso em Cachoeira Paulista, com uma equipe 24h por dia, com vários especialistas de plantão todos os dias do ano, fazendo análise e o alerta das regiões críticas. A informação mais deficiente que nós estamos coletando é o levantamento geofísico dos municípios para identificar áreas de risco. Nós temos mapeados, com padrão de excelência, 25 municípios apenas. Então nós estamos fazendo um levantamento do que tem de área de risco mapeada. Não basta ter a informação do volume de chuva. Você tem de saber o tipo do terreno que está enfrentando para poder cruzar as informações e disparar o alerta. As cidades que já tem um bom mapeamento, acreditamos que teremos já para o próximo verão, um sistema funcionando com eficiência. Por exemplo, essa última chuva que nós tivemos no Rio de Janeiro foi muito forte, fora dos padrões... Em 13 comunidades foi disparado o alerta, as comunidades foram mobilizadas. Houve 80 microdeslizamentos, inclusive de residências e as famílias saíram a tempo. O último capítulo dessa história é o Ministério da Integração, que está trabalhando muito nessa área para que a haja um plano de contingência, tenha as áreas de recuo para onde a população vai ser mobilizada e que a gente possa disparar o alarme e ter uma Defesa Civil atuante. Vai precisar um tempo para a gente implantar no Brasil todo. Nós estamos com capacidade de resposta para o próximo verão nas 25 cidades que estão bem mapeadas.

Terra - Como o ministério pode contribuir no controle do desmatamento?

Mercadante - Nós temos condições, com imagens de satélite, de fazer um desenho muito mais substantivo e a partir da realidade de cada bioma, de cada região, desenhar uma política mais consistente. É possível fazer em um prazo de dois anos. Você pode identificar áreas de encosta, de mangue, onde estão os recursos hídricos, como está a ocupação de cada região, o que teria de ser corrigido, o que teria de ser preservado. Portanto, não foi possível reverter a discussão. O que o ministério faz hoje é o levantamento do Inpe, por satélite, que é o levantamento para cada 250 metros. Então não adianta o indíviduo achar que está lá no meio da floresta e que ele pode desmatar, que ninguém está vendo, porque o satélite vê. Nós temos o histórico de cada um dos desmatamentos. Portanto, podemos sustentar na Justiça quando aconteceu e de que forma aconteceu. E dá muita segurança às decisões judiciais em relação aos crimes ambientais. Das propriedades que estão embargadas, nós podemos apresentar todo o histórico do que foi feito. Neste momento, está tendo um processo muito intenso, concentrado especialmente no Mato Grosso. Nós estamos centrados nessa atividade de acompanhamento diário. Estamos com um gabinete de crise, fornecendo todas as informações de campo e eu acredito que o resultado vai ser muito eficiente. No ano que vem nós estamos lançando o Cibers 3 , que estamos lançando com a China. Estamos lançando o 3 e o 4. Mas o três já vai permitir que a gente faça o leventamento com áreas de até 50m2. A imagem é 250 vezes mais eficiente, a imagem e a informação. Então a gente vai conseguir também identificar os micro-desmatamentos, aquela coisa de formiguinha que vai corroendo e você só vê depois que o estrago já é grande.

Terra - Mas o desmatamento vem crescendo...

Mercadante - O ministério do Meio Ambiente não tem todas as informações para chegar a uma conclusão, porque é que houve esse processo, que é atípico na história recente. O desmatamento vem caindo ano a ano. Em abril teve um pico. É muito preocupante. Houve uma mobilização forte de todas as principais equipes do Ibama e da Polícia Federal. Nós estamos dando informação online todo dia para a equipe que está em campo. Até o mês passado, 34 tratores de esteira já tinham sido apreendidos, correntões - que é uma prática absolutamente ilegal - e o que mais preocupou é que inclusive propriedades que tinham licença para o desmatamento controlado, deamataram além da conta. Então foi desencadeada uma operação sufocar. Nós estamos centrados nessa atividade de acompanhamento diário. Estamos com um gabinete de crise, fornecendo todas as informações de campo e eu acredito que o resultado vai ser muito eficiente, pois estamos utilizando com muita competência as informações. No ano que vem nós estamos lançando o Cibers 3, que estamos lançando com a China. Estamos lançando o 3 e o 4. Mas o três já vai permitir que a gente faça o leventamento com áreas de até 50m². A imagem é 250 vezes mais eficiente, a imagem e a informação. Então a gente vai conseguir também identificar os micro-desmatamentos, aquela coisa de formiguinha que vai corroendo e você só vê depois que o estrago já é grande. E você só vê depois que o estrago já é grande. Vamos ter mais eficiência ainda na identificação do problema do desmatamento. Nós queremos ampliar essa política de desmatamento para outros biomas, como por exemplo o cerrado. Então nós vamos melhorar bastante a eficiência do processo de fiscalização. O ministério do Meio-Ambiente não cortou nenhum recurso da política de fiscalização. Isso foi totalmente preservado.

Ministro conversou com o Terra sobre tecnologia, investimentos e projetos
Ministro conversou com o Terra sobre tecnologia, investimentos e projetos
Foto: Léo Pinheiro / Terra
Fonte: Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade