Fãs da Apple esperam dias na fila para garantir iPhone 4S
- Roseli Andrion
- Direto de Londres
Sempre que a Apple lança um produto, é a mesma coisa: os fãs da marca fazem fila na porta das lojas ao redor do mundo. Em Londres, para a venda do iPhone 4S, a primeira começou há dez dias em frente à loja de Covent Garden. Rob Shoesmith, o aventureiro da cidade inglesa de Coventry que correu pra a porta da loja logo após o anúncio do lançamento, ainda estava lá na noite de ontem - animadíssimo para o grande momento.
E a espera ficou mais animada na noite de terça-feira, com a chegada do segundo da fila, o autônomo Duncan Roare. "Ele parece uma criança na noite de Natal: sempre muito animado", descreve Shoesmith, "isso me trouxe mais energia".
As motivações dos dois para dormir em frente à maior loja da Apple no mundo são um pouco diferentes. Roare diz que é fã da Apple desde 1978, quando teve seu primeiro computador da marca. "Tem sempre um quê de mágica nos produtos da Apple", acredita, "é isso que faz as pessoas quererem tê-los". Já Shoesmith, ex-lixeiro, queria atrair a atenção para a empresa em que trabalha atualmente, a Medl Mobile, e para a realidade social dos sem-teto. "Eu queria ver se conseguia viver dez noites na rua sem dinheiro", conta.
Como a Apple permite que cada um das pessoas na fila compre dois produtos, Roare já tem planos para seu segundo tíquete: quer vendê-lo. "No lançamento do iPad 2, houve quem conseguiu vender por 500 libras o dobro do preço da loja - ou seja, o aparelho saiu de graça", anima-se. Shoesmith, com outra lógica, conseguiu patrocinadores para sobreviver sem dinheiro, mas pensou muitas vezes em desistir. "Não é fácil", diz, "a falta de horas apropriadas de sono e uma baixa na capacidade psicológica acabam desmotivando", justifica.
Durante oito noites, Shoesmith teve a companhia apenas do guarda-costas Noor Khan, contratado pela Medl Mobile para garantir sua segurança. "Quando ele dorme, eu fico atento", conta Khan. "Muita gente quis saber o motivo de ele estar dormindo na porta da loja e teve quem até tenha tentado dar uns trocados", lembra. Shoesmith relata que alguns passantes disseram que ele parecia um sem-tento rico. "Tenho sacos de dormir especiais pra noites bem frias e as pessoas se espantam de alguém assim estar dormindo na rua", afirma.
Vendendo o lugar
E há quem tenha ido pra fila apenas para vender o lugar depois. Na loja da Regent Street, dois adolescentes de 15 anos, Noah Green e Harry Richer, chegaram às 15h de ontem e se juntaram aos outros 16 que já estavam por lá. "Estamos num lugar bom, somos o 17° e o 18° da fila, acho que dá pra conseguir até 500 libras com a venda de cada lugar", acredita Green. Às 21h de quinta-feira, no horário de Londres, eles tinham já uma oferta de 200 libras e outra de 150 libras.
Quem também ganhou dinheiro apenas por estar na fila foram os amigos Craig Fox e Dan James. Há dois dias, eles ganharam 400 libras cada para usar uma camiseta promocional do aplicativo Zombify Me. O criador, Gary Riches, também estava na fila, mas na 16ª posição. "Eu queria estar lá na frente, mas quando cheguei Craig e Dan já estavam lá há dias", lamenta. "Resolvi, então, pagar para eles usarem minhas camisetas", resume.
Primeiros da fila na loja da Regent Street, eles estão lá desde sexta-feira passada. Na segunda noite enfrentaram uma chuva forte. "Temos barracas e guarda-chuvas e deu pra aguentar bem", lembra James. Eles usam uma academia local para tomar banho e se trocar diariamente - "tem até sauna", comemora Fox - e são alimentados por passantes que compram café da manhã e lanches durante o dia para eles. Na segunda-feira, Mike Roberts se uniu a eles. Os demais começaram a chegar na quinta-feira de manhã.
Fox, James e Riches sabem que o primeiro lugar da fila ganha bastante exposição na imprensa. "Meu aplicativo apareceu em vários jornais por um preço muito menor do que um anúncio", explica Riches. Fox, James e Roberts promoveram também seu próprio produto, a WorldWide Jailbreak Convention. "Estamos aqui para comprar o iPhone, claro, mas também estamos a trabalho", explica Fox. "A loja Apple nos deixa carregar os equipamentos lá dentro e nos deixa usar o Wi-Fi", completa James. "Estamos sendo muito bem tratados aqui", reforça Roberts.
Para aguentar as noites frias, a maioria dos fãs estava equipada com sacos de dormir e barracas de camping. "E cerveja", diverte-se Riches. Shoesmith, que ganhou sacos de dormir, barracas de camping e afins dos patrocinadores, planeja distribuir o equipamento para os sem-teto quando a maratona acabar. Green e Richer chegaram apenas com a roupa do corpo, mas acabaram conseguindo caixas de papelão para aguentar o frio da noite. "Não fizemos preparação nenhuma; apenas viemos", conta Green.
Morte de Steve Jobs
Todos os applemaníacos são unânimes quando o assunto é o futuro da Apple. "O Steve Jobs deixou um planejamento que ainda será usado por muito tempo", acredita Fox. "Eu certamente estarei aqui no próximo lançamento", garante. Riches diz que, apesar de este ser o último iPhone com participação direta de Jobs, os próximos modelos ainda devem ter a marca do executivo. "Ainda vem muita coisa por aí com a marca do Steve Jobs", aposta.
E quando esse planejamento acabar? "Ele preparou as pessoas na Apple para pensar como ele", opina James. "E, se for preciso, basta buscar outros gênios para se unir à equipe. Não existe a menor chance de parar a Apple agora", avalia Jewels Lewis, que foi o primeiro da fila no lançamento do iPad 2 e estava entre os quatro primeiros para comprar o iPhone 4S na quinta-feira à noite na loja de Regent Street. "Não dá pra explicar, a gente simplesmente precisa ter todos os produtos da Apple", conclui.
