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Inclusão digital no Brasil está acima da média mundial

31 jul 2012 - 13h07
(atualizado às 20h43)
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Mônica Garcia
Direto de Rio de Janeiro

O Brasil ainda está no meio do caminho em inclusão digital, afirmou nesta terça-feira o economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, que coordenou o projeto "O Início, o Fim e o Meio Digital ¿ Cobertura, Capacidade e Convergência". A pesquisa estudou a inclusão digital brasileira através das plataformas de celular, internet, telefonia (fixa) e computador (residencial), e desenvolveu o Índice Integrado de Telefonia, Internet e Celular (ITIC) brasileiro.

Dados da inclusão digital no Brasil foram apresentados no Rio de Janeiro por Marcelo Neri (E), da Fundação Getúlio Vargas, e Leila Loria (D), da Fundação Telefônica
Dados da inclusão digital no Brasil foram apresentados no Rio de Janeiro por Marcelo Neri (E), da Fundação Getúlio Vargas, e Leila Loria (D), da Fundação Telefônica
Foto: Mônica Garcia / Especial para Terra

Enquanto em muitos países o celular é um instrumento de felicidade, como na Arábia Saudita, Uruguai, Polônia ou Israel, esse mesmo fenômeno não acontece com os brasileiros. Segundo o economista, "o Brasil é um dos raros países do mundo onde o grau de felicidade não aumenta com o uso dessa plataforma". Segundo a pesquisa patrocinada pela Fundação Telefônica/Vivo, o Brasil ocupa 72ª posição no ranking mundial de inclusão digital, entre os 156 países pesquisados, com 51,25% da população com algum tipo de acesso as plataformas pesquisadas, pouco acima da média global que é de 49,1%.

Mas com índice bem abaixo de países que estão no topo da tabela como Suécia - primeira colocada com 95,75% -, Islândia ¿ segunda colocada, com 95,5% -, ou Cingapura ¿ terceira colocada com também com 95,5%. Mas se compararmos com os últimos colocados, os países africanos, o Brasil está bem acima, de países como a República Centro-Africana, última colocada no ranking com 5,5%; seguida do Burundi, 155ª com 5,75%; e pela Etiópia - 154ª com 8,25%.

Entre os países do BRICs (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul), o Brasil está acima apenas da Índia (123ª com 22%) e da África do Sul (103ª com 34,25%). A Rússia está 49ª posição com 63,5% e a China na 68ª com 53% da população incluída digitalmente. Mesmo comparando com os índices da América Latina, o país não encontra uma situação confortável a sua frente, já que Venezuela, com 63,25%, ocupa a 50ª posição no ranking de acesso às tecnologias, seguida do Chile na 61ª posição, da Costa Rica (65ª), Argentina (66ª), Uruguai (67ª) e Colômbia (70ª).

Segundo Neri, professor do Centro de Políticas Sociais da FGV e coordenador do projeto, o ITIC mostra que o celular é a plataforma que alavanca os índices brasileiros, e que é preciso investir mais nesse dispositivo para que inclusão digital no país cresça.

"O celular é um dispositivo que está, onde os brasileiros mais pobres estão. Como plataforma para gerar inclusão social, ele é uma plataforma privilegiada, e muito mais importante que a internet, que está mais presente na classe A, B e C. Portanto é preciso uma política de inclusão digital, como meio para gerar inclusão social e não o fim em si mesmo. Mas esse dispositivo tem sido relegado a segundo plano como plataforma de inclusão digital", afirmou Neri.

A inclusão no Brasil
Entre as cinco primeiras capitais melhores ranqueadas no ITIC, três fazem parte da região sul do país. Florianópolis em primeiro lugar com 77,06% de abrangência em alguma plataforma digital, seguida de Curitiba em terceiro no ranking com 75,88%, e Porto Alegre em quinto, com 72,02%. Já nas capitais do sudeste Vitória é a segunda colocada com 76,6%, depois vem Belo Horizonte em quarto com 74%, São Paulo em sexto com 71,7% e Rio de Janeiro em sétimo com 71,5%.

Segundo Neri, os índices tem relação direta com as taxas socioeconômicas dos municípios. Foram pesquisadas mais de 5 mil cidades listadas no Censo de 2011, e a inclusão é maior em São Caetano do Sul (SP) a primeira do ranking geral brasileiro com 82,60%, seguida de Santos (SP), a segunda colocada com 78,19%, depois vem a capital Florianópolis (SC) com 77,06, Vitória (ES) em quarto com 76,60% e Niterói (RJ) em quinto com 76,03%.

- O que a pesquisa mostra é que não são nos grandes municípios que encontramos as melhores taxas. E sim naqueles onde o IDH é melhor, onde as classes AB são grandes e onde a quantidade de universitários são maiores. Esses municípios por ficarem próximos aos grandes centros urbanos aproveitam as redes que eles possuem, e passam a implantar políticas públicas mais eficientes. Concluiu o pesquisador.

No ranking geral nacional, as cidades de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília ocupam posições abaixo da décima colocação, ficam em 16ª, 19ª, 20ª e a 21ª posições, respectivamente.

Os Estados e municípios do Norte e Nordeste são os que possuem os piores índices da pesquisa, destacando os estados do Amazonas, Maranhão, Pará, Roraima e Piauí. As cinco cidades com pior ITIC no país são: Fernando Falcão (MA), na última posição com 3,7% da população com algum acesso digital, seguida de Chaves (PA), na 5564ª com 3,78%, Uiramutã (RR), na 5563ª com 4,51%, Marajá do Sena, na 5562ª com 5,40% e Amajari (RR), na 5561ª com 5,47%.

A peculiaridade da inclusão digital nas favelas cariocas
Embora os bairros mais nobres das regiões metropolitanas possuam os maiores índices de acessibilidade digital. As favelas cariocas chamaram a atenção dos pesquisadores, pela alta inclusão digital.

"Sabíamos que bairros nobres do Rio de Janeiro, como Lagoa e Ipanema, ou de São Paulo, como Jardim Paulista e Moema, tinham altos índices de inclusão digital. Mas não imaginávamos que favelas como a Rocinha ou a Maré tenham índices acima da média global e até do Brasil, isso nos surpreendeu", afirmou Marcelo Neri.

Bairros como Moema e Jardim Paulista, em São Paulo, possuem índices de países do topo da tabela mundial, 93% e 92,3%, respectivamente. As favelas cariocas como o Complexo do Alemão, da Maré, a Rocinha e o Jacarezinho, possuem ITIC maior que a do Brasil. A Rocinha é a comunidade que possui o melhor índice, 57,5%, depois vem a Maré (55,90%), Jacarezinho (54,5%) e Complexo do Alemão (50,8%).

No Rio de Janeiro a região administrativa da Lagoa, que abrange os bairros da Gávea, Ipanema, Lagoa, Leblon e São Conrado, é a que registra o maior índice carioca, 88,9%.

A pesquisa completa, está disponível no site da FGV.

Fonte: Especial para Terra
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