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Computadores entram na era da inteligência emocional

8 set 2012 - 15h59
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Omar R. Goncebat
Direto de Berlim (Alemanha)

Uma nova tecnologia permite que os computadores reconheçam o estado de ânimo de quem o está utilizando e engenheiros fabricam máquinas capazes de detectar mentiras e identificar pessoas receptíveis ou ameaçadoras. É a era dos computadores com inteligência emocional.

As emoções humanas são um fator importante na hora de se fabricar qualquer tipo de software
As emoções humanas são um fator importante na hora de se fabricar qualquer tipo de software
Foto: EFE

Um jogador de pôquer, atividade que exige uma percepção de detalhes e gestos dos oponentes assim como a ocultação dos próprios sentimentos, teria poucas chances de ganhar de um computador, não apenas por sua grande capacidade de cálculo, mas porque agora eles são capazes de desvendar a psique humana.

Cientistas das universidades espanholas Carlos III (Madri) e de Granada desenvolveram um sistema que permite ao computador reconhecer o estado de ânimo da pessoa que se comunica oralmente com a máquina, o que pode adequar sua resposta aos sentimentos do usuário.

"Graças a esse avanço, a máquina poderá determinar como se sente o usuário e como pretende continuar o diálogo", explica um dos criadores do programa, David Griol, professor da Universidade Carlos III.

Detecção automática de emoções

Para detectar o estado emocional do usuário, os cientistas se concentraram nas emoções negativas, como o enfado, o cansaço e a dúvida, que podem ocorrer quando uma pessoa se frustre ao falar com um sistema automático. "Para detectá-las automaticamente, utiliza-se informação sobre o tom de voz, a velocidade com que se fala, a duração das pausas, a energia do sinal de voz e mais uma série de fatores, que completam 60 parâmetros de análise", diz Griol.

"O fato do sistema não reconhecer bem o que o interlocutor deseja ou que tenha pedido para que ele repita informação são fatores que podem fazer a pessoa se aborrecer ao interagir com a máquina", apontam os pesquisadores das duas universidades.

Além disso, os cientistas afirmam que o importante é a máquina prever como vai se desenrolar o resto da conversa. "Para isso, desenvolvemos um método estatístico, que aprende com diálogos anteriores quais são as reações mais prováveis que os usuários podem ter", destacam.

Quando são detectados tanto a emoção como a intenção, os cientistas dizem que o computador deve adaptar automaticamente o diálogo ao estado do usuário: "por exemplo, se ele tem dúvidas, pode-se fornecer uma ajuda mais detalhada".

Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, desenvolveram ferramentas tecnológicas que analisam a entonação e a maneira de se expressar das pessoas para detectar mentiras.

O objetivo é construir um poderoso detector de mentiras, mais preciso que os equipamentos tradicionais usados para este fim e do que a intuição humana.

Os pesquisadores focaram o trabalho em elementos não-verbais para criar um programa para distinguir o verdadeiro do falso. Para isso, analisaram os detalhes que as pessoas transmitem de forma inconsciente enquanto se fala.

Computadores caçadores de mentirosos

A professora de informática e de linguagem Julia Hirschberg, que lidera a pesquisa, considera que os aspectos não verbais da comunicação são um dos indicadores mais confiáveis para saber se alguém está tentando mentir. Julia solicitou a 32 voluntários que tentassem convencer uma pessoa de que eram grandes empresários, quando na verdade não eram. Enquanto desempenhavam o papel de pessoas de sucesso, deviam pressionar um pedal escondido quando diziam a verdade e outro quanto mentiam.

As entrevistas foram gravadas e checadas com as respostas do pedal e um aplicativo que analisa as características da fala e da linguagem dos participantes armazenava desta forma quando mentiam, por meio de pausas, risos ou mudanças no tom de voz.

Com essa informação, Julia e sua equipe fizeram classificações que permitiram acertar com 70% de precisão a verdade da mentira, uma porcentagem bastante alta.

Uma pesquisa da Universidade Autônoma de Barcelona desenvolveu um programa que ajuda os computadores a determinar se a pessoa que está o utilizando é receptível ou ameaçadora. A equipe dirigida por Mario Rojas, em colaboração com psicólogos da Universidade de Princeton, criou um software capaz de compreender gestos faciais, em alguns casos com uma precisão maior de 90%. Segundo Rojas, "as características do rosto tem um papel fundamental em nossos julgamentos diários sobre as outras pessoas".

Os pesquisadores da Universidade de Barcelona estudaram que parte da informação proveniente do rosto podia ser aprendida pelo computador, como forma de tentar prever nove características baseadas em expressões: atrativo, competente, confiável, dominante, tacanho, medroso, extrovertido, ameaçador e simpático.

Para isso, utilizaram técnicas de aprendizagem de máquinas, um ramo da inteligência artificial que utiliza exemplos para ensinar um programa a como funcionar.

Os pesquisadores utilizaram um grupo de imagens faciais, cada uma associada a traços de personalidade específico, para ensinar o computador a interpretar os rostos.

Desta forma, as máquinas conseguiram apontar, com uma eficácia entre 91% e 96%, três características da personalidade de um indivíduo com base no rosto da pessoa.

EFE   
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