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De Imbé ao Vale do Silício: a saga de uma startup brasileira

17 set 2012 - 07h33
(atualizado em 31/3/2013 às 16h52)
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Guilherme Neves

Num dia de verão em fevereiro de 2011, observando as pessoas na praia de Imbé (RS), o programador Rafael Jannone teve um insight que mais tarde o levaria ao Vale do Silício: a "nuvem de faces tridimensional". Nascia a base do aplicativo Spotwish Go, descrito por Jannone e seu sócio na startup, João Otero, como uma ferramenta de matching de pessoas.

Em fevereiro de 2011, em temporada na praia nasceu o projeto de  Rafael Jannone (esq.) e João Otero
Em fevereiro de 2011, em temporada na praia nasceu o projeto de Rafael Jannone (esq.) e João Otero
Foto: Divulgação

Lançado no início do mês, durante a final da Evernote DevCup, na Califórnia, o app roda em Android e oferece um sistema para que os usuários encontrem parcerias para atividades.

"Digamos que alguém queira jogar basquete, mas não tenha com quem. Bastaria acessar o celular e ver se tem mais alguém com a mesma vontade", resume Otero em entrevista ao Terra.

E como Imbé entrou na história?

Em fevereiro de 2011, a dupla partiu para o tudo ou nada em sua empresa. Eles alugaram uma casa em Imbé, cidade com 17 mil habitantes no litoral do Rio Grande do Sul, contrataram dois estagiários e começaram a programar. Depois de uma semana de programação ininterrupta em um projeto, foram dar um tempo na praia. E foi aí que surgiu o conceito do app.

"A gente pensava assim: 'eu estou aqui, no meu tempo livre, sem nada para fazer, meus amigos ou outras pessoas também devem estar assim...' só que não tinha um jeito de a gente se juntar", relembra Otero. "Seria bom unir esses interesses de alguma forma. Se alguém me convidasse para ir para o bar, eu iria".

Em vez de ir para o bar, no mesmo dia Janone pôs as mãos no teclado e começou a "materializar" a ideia. Nascia o Spotwish Go!.

Na prática, é um aplicativo para celular que mistura geolocalização e interação social. Ele ajuda os usuários a obterem recomendações personalizadas e geolocalizadas de promoções, produtos e avisos de amigos nas redes sociais, de acordo com um perfil pré-definido. O Evernote é usado para armazenar dados.

Rumo ao Vale do Silício

Com o primeiro protótipo funcional, a empresa foi selecionada para o I Fórum Sul-Brasileiro de Investimentos e, logo em seguida, foi finalista do Desafio Buscapé. No final do ano passado, a Spotwish entrou como uma das startups selecionadas para aceleração na Wayra - aceleradora de empresas do grupo Telefonica/Vivo.

No meio do caminho, encontraram representantes do Evernote. "Eles nos convidaram para participar da DevCup e nós entramos", relembra Otero.

Na DevCup, realizada neste ano, a dupla competiu com 174 programadores e tirou a primeira colocação, com 9.026 votos, quase o triplo do segundo colocado na votação popular feita pela internet. "Pra nós foi surpreendente", diz.

A lavada na web garantiu a Otero e Jannone as passagens para apresentar o projeto na Califórnia. Desde a chegada, eles se enfurnaram no quarto para finalizar o aplicativo para Android, mas: "a maioria das pessoas lá (na DevCup) usava iPhone". No final da rodada de apresentações de cinco minutos, uma startup de Hong Kong levou o prêmio de US$ 20 mil, e outras duas empresas faturaram o segundo e o terceiro lugar. Mas não foi de todo ruim, na avaliação de Otero: "muita gente viu o potencial do projeto. O comentário geral era: 'vocês conseguiram fazer funcionar algo o que muita gente já tentou'. Foi um bom retorno".

Memória social geolocalizada

São três funções básicas envolvidas no projeto que caiu nas graças do Evernote. Na primeira, as indicações são para atividades em comum entre usuários. Cadastrados que são amigos entre si, por exemplo, recebem notificações de interesse em atividades. A geolocalização entra em ação quando um usuário ativa o app em determinado local, e vê as sugestões de outras pessoas da sua rede. Tudo isso com uma memória social localizada, a "grande sacada", na opinião de Otero.

"Você vai poder chegar num parque, numa praça ou restaurante e rever outras atividades que realizou com amigos, através de fotos ou mensagens, de até um ano atrás. Essas memórias são salvas no Evernote, e são um diferencial importante do produto", avalia o empreendedor.

Na segunda fase, o software aprende com as preferências do usuário e faz recomendações geolocalizadas. "A gente consegue adivinhar até os interesses não mencionados. É uma informação hiperpersonalizada", descreve. Num exemplo simples, se alguém gosta de macarrão e vinho talvez receba indicações não só de restaurantes típicos mas até de sapatos italianos, a partir da correlação estabelecida. "Isso vai servir para rankear as possibilidades em áreas com muitas ofertas de restaurantes, ajudando o usuários a decidir", diz Otero.

Finalmente, surge o conceito em que o app foca nas interações desvinculadas de atividades. O primeiro recurso já está disponível no app. As outras fases chegam até o final do ano. Uma versão para iPhone está planejada para até o final do mês.

Não tá fácil pra ninguém

Depois da competição no Vale do Silício, Otero e Jannone tiraram um tempo para conversar com alguns investidores presentes. A impressão não é bem a de que "lá tudo acontece". "No geral, falta dinheiro para etapas mais avançadas tanto lá (EUA) como aqui (Brasil), o que acontece lá é que as quantias são maiores. Geralmente dá pra se virar com a ajuda da família e amigos para começar, mas logo após o protótipo, fica difícil alavancar, tanto lá quanto aqui", resume.

Fonte: Terra
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