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Facebook vigia usuários como países gostariam de fazer com cidadãos

4 out 2012 - 15h27
(atualizado às 17h04)
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Guilherme Neves

Uma nação de liberdades onde um bilhão de 'pessoas' aprendem novas habilidades, se encontram, casam, ganham dinheiro, podem se expressar sem medo e se divertem. Estamos falando do Facebook, que anunciou nesta quinta-feira ter chegado à marca de 1 bilhão de perfis de usuários. Se fosse um país, a rede social seria a terceira maior nação do planeta. E, segundo Lori Andrews, professora de Direito da Chicago Kent-College of Law, entrevistada pelo Terra, a rede faz, na prática, o que muitos governos sonham mas não têm coragem de tentar: monitora de perto as preferências e as atitudes de seus 'cidadãos'.

Professora Lori Andrews vê no Facebook as promessas de liberdade dos tempos da colonização
Professora Lori Andrews vê no Facebook as promessas de liberdade dos tempos da colonização
Foto: Divulgação

Andrews é a autora de I Know Who You Are and I Saw What You Did: Social Networks and the Death of Privacy (Eu sei quem você é e eu vi o que você fez: redes sociais e a morte da privacidade, numa tradução livre), publicado no início do ano. Para ela, "as pessoas são atraídas ao Facebook como os colonizadores eram atraídos a outros países, em busca da liberdade. Mas elas talvez concedam, sem querer, informações que podem ser usadas para prejudicá-las", opina Andrews, que defende a criação de uma constituição para proteger os usuários.

Confira a entrevista com a especialista:

Terra - Desde que passou a população dos Estados Unidos em número de usuários se compara o Facebook a um país. Mas, além do número de cadastrados, de que outra forma a rede social pode ser comparada a uma nação?

Andrews -

O Facebook tem o poder e o alcance de uma nação. Tem cidadãos, uma economia, sua moeda própria, sistemas para resolver disputas e relacionamento com outras nações e instituições. O Facebook lida diretamente com países como a China sobre o uso do site de relacionamento, e Zuckerberg participou de reuniões diplomáticas do G8. Ele tem mais de um bilhão de cidadãos, o que faria dele a terceira maior nação no mundo. As pessoas são atraídas ao Facebook como colonizadores eram atraídos a outros países, em busca da liberdade.

Terra - E encontram essa liberdade?

Andrews -

Em parte, sim. As redes sociais expandem as oportunidades para as pessoas. Um indivíduo comum pode ser um repórter, alertando o mundo para notícias de um desastre natural ou para crises políticas. As pessoas, usando o Facebook, podem até remover um presidente. Por isso está na hora desse 'país' ter uma constituição própria.

Terra - Qual seria o foco dessa constituição?

Andrews -

Cada vez mais você é o que posta. Está virando rotina em escolas e empresas pesquisar o perfil no Facebook para determinar se vão ou não contratar uma pessoa. Uma pesquisa mostra que 75% dos empregadores nos Estados Unidos vão atrás de informações nas redes sociais dos candidatos e um terço deles deixam de contratar pessoas que aparecem em fotos com uma bebida na mão. Alguns empregadores chegaram a pedir a senha das pessoas para terem acesso aos conteúdos privados. Recentemente, o estado de Illinois (Estados Unidos) aprovou uma lei banindo a prática. Uma 'constituição' própria ajudaria a assegurar que os direitos que protegemos fora da rede (privacidade, liberdade de expressão) seriam também protegidos online.

Terra - Por que essa proteção à privacidade é importante?

Andrews -

As pessoas talvez concedam, sem querer, informações que podem ser usadas para prejudicá-las. Como escreveu Richard Power em um recente artigo no jornal

CSO: Security and Risk

, isso são dados sobre o pensamento político, preferências sexuais, relacionamentos, gostos, fobias, estado emocional, atitudes no local de trabalho. Qualquer governo ou empresa que quisesse obter esses dados da população seria combatida. Seria difícil, se não impossível. Ia demandar advogados, dinheiro e talvez até armas. Mas o Facebook, sozinho, tem esses dados... de um bilhão de pessoas.

Terra - No geral, como é a qualidade de vida dos cidadãos do Facebook?

Andrews -

Superficialmente, parece que a vida no Facebook é muito boa. As pessoas estão namorando, casando, encontrando trabalho, se divertindo e aprendendo novas habilidades. Mas abaixo da superfície, estes benefícios online podem estar aumentando os riscos fora da rede. O Facebook faz 86% da sua renda, US$ 3,2 bilhões ao ano, coletando informações privadas dos usuários e direcionando anúncios para seus 'cidadãos'. Eventualmente, as informações são usadas de um jeito que beneficie os usuários, como descontos nas lojas favoritas, por exemplo, mas em outras ocasiões podem ser uma desvantagem para os internautas.

Terra - Em que tipo de ocasiões?

Andrews -

Se você publicar no Facebook que está pensando em se divorciar ou se curtir um site que vende guitarras antigas, quando for a um site de cartões de crédito, pode ser que a oferta de crédito seja inferior a de outras pessoas porque as pessoas que se divorciam e os guitarristas têm menos chances de pagar as contas do cartão de crédito do que outras pessoas. Isso acontece porque o Facebook nos leva a ser tratados menos como indivíduos e mais como pedaços de informação agregada. E essa informação pode ser usada contra nós. Veja mais um exemplo do universo financeiro. Quando um homem de Atlanta voltou da lua de mel, ele descobriu que o seu limite de crédito tinha sido baixado de US$ 10,8 mil para US$ 3,8 mil. A mudança não se baseou em nada do que ele tivesse feito, mas nos dados agregados. Uma carta da empresa de crédito disse, "outros consumidores que usaram seu cartão de crédito em estabelecimentos em que você comprou recentemente têm um histórico de pagamento pobre com a companhia".

Fonte: Terra
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