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Apple, Samsung e Sony falham e "aceitam" trabalho infantil

19 jan 2016 - 10h15
(atualizado às 11h00)
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Mineiros trabalhando em condições perigosas ganham alguns dólares por dia
Mineiros trabalhando em condições perigosas ganham alguns dólares por dia
Foto: Reprodução

A organização de direitos humanos Anistia Internacional acusou as empresas Apple, Samsung e Sony, entre outras, de falhar em identificar o uso de trabalho infantil na produção dos minerais usados em seus aparelhos.

Em um relatório sobre a mineração de cobalto na República Democrática do Congo, a Anistia afirma ter encontrado crianças de até 7 anos de idade trabalhando em condições perigosas.

O cobalto é componente vital para as baterias de íon-lítio. As empresas afirmaram que seguem política de tolerância zero em relação a trabalho infantil.

"Companhias cujo lucro global é de US$ 125 bilhões não podem realmente alegar incapacidade de verificar de onde vêm suas matérias-primas essenciais", disse Mark Dummett, pesquisador nas áreas de negócios e direitos humanos da Anistia.

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Mortes

A República Democrática do Congo responde por 50% ou mais do cobalto produzido no planeta.

Mineradores trabalhando por longo período neste segmento da extração mineral enfrentam problemas de saúde e risco de acidentes fatais, afirma a Anistia.

A organização diz que ao menos 80 mineiros morreram no subsolo congolês entre setembro de 2014 e dezembro de 2015.

A Anistia também entrevistou crianças que trabalhariam nas minas do país.

Paul, órfão de 14 anos de idade, começou a minerar aos 12 anos. "Eu fiquei até 24 horas nos túneis. Chegava de manhã e só saía na outra manhã. Tinha que ir ao banheiro nos túneis. Minha mãe adotiva planejava me mandar para a escola, mas meu pai adotivo era contra, e ele me fez trabalhar nas minas", contou o menino à Anistia.

A Unicef estima que há cerca de 40 mil crianças trabalhando em minas no sul da República Democrática do Congo.

Muitas crianças trabalham na extração de cobalto
Muitas crianças trabalham na extração de cobalto
Foto: Reprodução

'Tolerância zero'

Em resposta ao relatório, a Apple afirmou que o "trabalho infantil não é tolerado em nossa cadeia de fornecedores e estamos orgulhosos de liderar a indústria em salvaguardas pioneiras (contra o trabalho infantil)".

A empresa afirmou, ainda, conduzir rigorosas auditorias junto a fornecedores e que qualquer um que empregue crianças é forçado a retornar o menor a sua casa, financiar a educação da vítima em escola escolhida pela família, continuar a pagar salários e oferecer um emprego quando o jovem tem idade para trabalhar.

A Samsung também afirmou ter "tolerância zero" em relação a trabalho infantil e que, assim como a Apple, vem conduzindo auditorias regulares junto a seus fornecedores.

"Se houver violação e trabalho infantil for encontrado, os contratos com fornecedores serão imediatamente encerrados", declarou a empresa.

A Sony comentou: "Estamos trabalhando com nossos fornecedores para enfrentar questões ligadas a direitos humanos e condições de trabalho em locais de produção, assim como na aquisição de minerais e outras matérias primas".

'Paradoxo'

O relatório da Anistia rastreou o comércio de cobalto a partir de áreas onde há trabalho infantil. O mineral é comprado por intermediários diretamente das minas e vendido à empresa Congo Dongfang Mining, subsidiária da gigante chinesa Zhejiang Huayou Cobalt Ltd.

A Anistia afirma ter entrado em contato com 16 multinacionais listadas como clientes de fabricantes de baterias que têm como fornecedor de cobalto a Huayou Cobalt.

Uma empresa admitiu a conexão, enquanto outras quatro reconheceram serem incapazes de dizer com certeza qual seria a fonte do cobalto usado por elas.

Outras cinco companhias negaram ligações comerciais com a Huayou Cobalt, embora apareçam como clientes nas listas encontradas em documentos da gigante chinesa.

Seis empresas afirmaram estar investigando o caso.

"É um paradoxo que na era digital algumas das mais ricas e inovativas empresas do mundo, capazes de levar ao mercado aparelhos incrivelmente sofisticados, não consigam mostrar de onde vêm suas matérias-primas", criticou Emmanuel Umpula, diretor da Africa Resources Watch, organização que colaborou com a Anistia no relatório.

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