A concorrência não é exclusiva dos humanos: os robôs também disputam entre si para ver qual é o melhor. As competições de robótica pelo mundo ganham mais torneios e participantes a cada ano, e o Brasil é um dos países que se destaca nesses campeonatos.
"As equipes brasileiras são muito bem vistas e temos muitos bons resultados", afirma o professor Anderson Harayashiki Moreira, do Núcleo de Robótica do Instituto Mauá de Tecnologia (SP). A equipe dele ganhou, em 2010, o prêmio máximo de peso pena da Combotz, competição que faz parte dos Robogames, considerada de primeiro escalão em batalhas de robô. Em 2011, o título ficou para o time da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Aliás, foram três medalhas de ouro, em quatro das categorias disputadas na competição, que equivale à "Copa do Mundo dos robôs".
Os autômatos lutam sumô, arremessam uns aos outros para o ar em uma espécie de UFC, e também jogam futebol, entre outras competições. Mas para que servem os combates de robôs? Segundo o professor Marco Antonio Meggiolaro, coordenador da equipe da PUC-Rio, "quem sabe fazer um robô de competição, consegue fazer outra aplicação com o mesmo conjunto de funções".
Moreira explica que as tecnologias desenvolvidas para robôs de competição podem ser usadas em autômatos comerciais. "Temos campeonatos de resgate, que simulam situações como terremotos, em que objetos são espalhados e o robô precisa encontrá-los em meio a escombros", exemplifica. "Se você consegue sobreviver a uma situação extrema na arena, consegue sobreviver em um ambiente natural", pondera Meggiolaro.
Os robôs de combate testam a resistência de componentes, por exemplo, e podem levar à criação de modelos de guerra que evitem a perda de combatentes humanos. Além disso, continua Meggiolaro, "em um robô de combate, se você tira a arma e coloca uma câmera, você tem um robô de inspeção". No caso de robôs que jogam futebol, conseguir se localizar a partir de imagens de câmera são avanços que podem ser aplicados a equipamentos de monitoramento, entre outros. Também os avanços em termos de movimentos semelhantes aos dos humanos poderiam ser usados, como para criar autômatos para ajudar no cuidado de idosos e doentes.
"Para as competições, estudantes e empresas tentam melhorar questões básicas, principalmente em relação à coordenação motora dos robôs", comenta Marco Henrique Terra, coordenador do Centro de Robótica da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos. A pesquisa básica a que ele se refere é aquela desenvolvida para aperfeiçoamentos gerais, que não visam aplicação em um produto específico.
Além disso, Moreira, do IMT-SP, ressalta que as competições são uma forma interessante de atrair os estudantes para as pesquisas em robótica. "O grande retorno é o aprendizado do aluno", completa Meggiolaro, da PUC-Rio. Além disso, finaliza, a troca de conhecimentos entre os universitários e os engenheiros das equipes é muito rica. "É um ambiente em que todo mundo abre seus robôs, mostra como funcionam, que peças usam, e todo mundo sai ganhando com isso."
Robôs não apenas jogam futebol como o fazem de diferentes formas. Na categoria dos robôs humanoides, como o nome indica, autômatos tem formato semelhante ao de pessoas, o que inclui pernas, braços e pés - na foto, os jogadores do time do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT-SP)
Foto: Divulgação
Cada jogador - como os do time do IMT-SP - tem um uma câmera que filma o jogo e manda as imagens para um computador central, que faz o papel de "técnico" do time, já que a equipe não é controlada por humanos
Foto: Divulgação
Apesar de ter um "técnico", cada membro do time precisa executar uma série de tarefas sozinho, como encontrar a bola e avançar em direção a ela, ou impedir que ela chegue às redes, no caso do goleiro - na foto, equipe do IMT-SP
Foto: Divulgação
O fato de ter pernas e pés com articulações implica em mais dificuldade durante o jogo, pois além de efetivamente jogar, robôs como o da foto, do IMT-SP, ainda precisam se equilibrar e ter funções pré-definidas para, por exemplo, se levantar caso caiam
Foto: Divulgação
A categoria do futebol de robôs humanoides ainda é relativamente nova, então cada equipe ainda está desenvolvendo estratégias específicas, sem que ninguém se desponde de forma especial, segundo o professor Anderson Harayashiki Moreira, do Núcleo de Robótica do IMT -SP
Foto: Divulgação
Na categoria de futebol de robôs "very small size" (tamanho muito pequeno, em tradução literal), robôs cúbicos de 7,5 cm de lado devem encontrar a bola e levá-la até o gol - na foto, o time do IMT-SP
Foto: Divulgação
Os robôs também são autônomos, mas o funcionamento dos sistemas inteligentes é diferente: uma câmera no alto do campo envia imagens para o software central, que faz os cálculos e manda uma função (atacar, defender, correr atrás da bola) para cada um dos três robôs, como estes do IMT-SP
Foto: Divulgação
Na categoria combate de robôs, menos glamorosa mas com sua dose especial de adrenalina, autômatos são radiocontrolados pelos operadores - no caso do IMT-SP, a dupla Biribinha Atômica e Caolho é a principal representante da universidade nas competições
Foto: Divulgação
Armas do Biribinha Atômica são a rampa basculante de aço AR400, que entra sob o robô adversário e o empurra em direção ao tambor rotativo, o outro trunfo do autômato, que completa o trabalho tentando capotar o adversário, de moto a levá-lo a nocaute (o que, entre robôs, acontece caso o oponente seja imobilizado, desligado ou destruído)
Foto: Leandro Bergamo / Divulgação
Peso pena, robô de combate Biribinha tem estrutura em alumínio aeronáutico 7075T6 e foi vice-campeão do Winter Challange deste ano e do ano passado, campeão da competição no versão de 2010 e também ouro no Eneca 2009
Foto: Divulgação
Outro combatente brasileiro premiado é o Touro Feather, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), campeão de 2011 na categoria peso pena da Combotz, que também usa como armas uma rampa que levanta o oponente e um tambor - que gira a 8 mil rpm - para jogá-lo longe
Foto: Divulgação
PUC-Rio também levou para a competição da Robogames, nos Estados Unidos, o Touro Maximus, da categoria de peso 100 kg. Apesar de ter quase o máximo permitido de peso, robô é muito compacto, o que lhe garante robustez e resistência, segundo professor Marco Antonio Meggiolaro, coordenador da equipe brasileira
Foto: Divulgação
No sumô de robôs, máquina é colocada sobre o dojô (ringue) e deve empurrar o rival para fora da arena - na foto, robôs da PUC-Rio para a categoria
Foto: Divulgação
Outros dois atributos garantem vantagem aos competidores como Touro Maximus: quase um terço do peso do robô está concentrado na arma (um cilindro giratório), fração bem maior do que o comum. Além disso, autômatos radiocontrolados são ágeis. "Muitos construtores acham que robôs com armas muito potentes não precisam ser rápidos, mas isso não é verdade: é preciso alcançar o adversário para que sua arma seja eficiente", explica o professor da PUC-Rio
Foto: Bruno Maestrini / Especial para Terra
Caolho, do IMT-SP, tem como diferencial a possibilidade de se reconfigurar de acordo com o oponente: o robô é uma plataforma retangular com duas rodas com diferentes opções de "armas" para serem soldadas na parte anterior
Foto: Leandro Bergamo / Divulgação
A escolha da "arma" do robô peso pena depende do ponto fraco do oponente - a pela estrutura super-resistente do Caolho, feita em aço grosso, também uma vantagem
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Nomes engraçados são comuns a robôs e equipes de competição, segundo o professor Moreira, do IMT-SP - Caolho, por exemplo, é uma brincadeira com um dos alunos que ajudou na construção do robô
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Na categoria Sumô Autômato, diferencial dos robôs está na inteligência: como não são controlados por controle remoto, seu software capaz de identificar o adversário antes que o mesmo o faço (a partir dos dados obtidos pelos sensores) e tomar decisões rapidamente é a principal arma
Foto: Leandro Bergamo / Divulgação
No sumô de robôs, máquina é colocada sobre o dojô (ringue) e deve empurrar o rival para fora da arena. Como competidores podem ter no máximo 1 kg, estrutura compacta mas com quatro motores é outra vantagem do lutador do IMT, que ganha força e potência em relação aos adversários
Foto: Leandro Bergamo / Divulgação
Na categoria robôs de Lego, também é a inteligência quem vence: os competidores devem usar kits educacionais padrão, indicados pela organização, e criar um software para que o robô consiga executar as tarefas pré-definidas - resgate sob escombros, encontrar saída em labirintos, etc