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Europa tem lei específica para o lixo eletrônico desde 2004

21 out 2011 - 10h31
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Roseli Andrion
Direto de Londres

Eletroeletrônicos têm, em sua composição, uma série de metais pesados que podem contaminar a natureza se os equipamentos são jogados fora sem determinados cuidados. Para minimizar esses efeitos - e, no futuro, acabar com eles -, o mundo todo tem pensado em formas de garantir que o lixo eletrônico seja tratado com a responsabilidade necessária. Na Europa, existe, desde 2004, uma lei que rege especificamente esse aspecto da tecnologia: a Waste Electrical and Electronic Equipment (WEEE - ou Lixo Eletroeletrônico, em tradução livre).

Itautec teve que se adaptar às regras para atuar na União Europeia
Itautec teve que se adaptar às regras para atuar na União Europeia
Foto: Divulgação

Clique aqui e veja como é feita a reciclagem de eletrônicos em uma empresa brasileira

A WEEE prevê que sejam criados, pelas fabricantes de eletroeletrônicos, esquemas de coleta e logística reversa para que o consumidor devolva seu lixo eletrônico gratuitamente. A ideia é que a reciclagem ou o reúso de equipamentos aumente cada vez mais. Na Europa, no momento, cresce o número de lojas de eletroeletrônicos que recebem usados como parte de pagamento. E os equipamentos arrecadados são enviados para as fabricantes, que pagam pelo serviço.

Mesmo assim, dados de 2008 da Comissão Europeia para o Meio Ambiente indicam que apenas um terço do lixo eletroeletrônico foi tratado de acordo com as orientações da WEEE na Europa. Na Inglaterra, por exemplo, mais de 250 mil toneladas de equipamentos entraram no mercado para venda naquele ano, mas apenas pouco mais de 132 mil toneladas foram coletadas - e só 100 mil delas chegaram a ser recicladas ou reusadas. O restante foi provavelmente parar no lixo comum ou, pior, foi abandonado em locais impróprios (dentro ou fora do território europeu). Para equilibrar os números, no momento a lei passa por uma atualização, e deve passar prever metas de coleta de acordo com a produção de cada país.

Mas além dos processos relacionados à sucata eletrônica, a WEEE também determina critérios de sustentabilidade anteriores, nas etapas de criação e produção de eletros. Entre eles está a substituição de metais pesados e outros componentes tóxicos por alternativas mais seguras. Essa é, também, a orientação da Restriction of Hazardous Substances (RoHS - ou Restrição de Substâncias Perigosas, em tradução livre), que funciona paralelamente à WEEE.

Adaptação e ecodesign

A Itautec é uma das fabricantes que, em 2007, se viu pressionada a se ajustar à RoHS para continuar vendendo seus produtos na Europa. "Fomos uma das primeiras empresas no Brasil a investir em ecodesign", lembra João Carlos Redondo, gerente-executivo de Sustentabilidade da companhia. "Fizemos isso para não perder negócios", continua. Segundo ele, clientes corporativos fazem exigências em relação às características ecológicas dos equipamentos que compram. "O consumidor final é menos sensível a isso: uma pesquisa do Instituto Akatu mostrou que os usuários dariam preferência a produtos ecologicamente corretos, mas que a decisão de compra ainda leva em consideração o preço", aponta.

Dentro dos computadores da companhia, o chumbo foi eliminado das soldas, que agora levam estanho, prata e cobre. O cromo, usado para evitar corrosão, era o hexavalente e foi substituído pela forma trivalente (autorizada pela RoHS). O antichamas derivado do bromo e criticado por sua toxidade (a bromobifenila) foi substituído pelo decabromodifenil éter, que é aceito pela regulação da União Europeia.

Redondo conta que o ecodesign acabou virando uma característica natural dos produtos da Itautec e que o custo de produção aumentou em 2%. "Mesmo assim, fizemos questão de manter o preço final ao consumidor", explica. A empresa investiu R$ 3 milhões para mudar a linha de produção. "Foi um investimento feito ao longo de dois anos e que provou que, quando um produto é projetado para ser mais facilmente reciclado no fim do seu ciclo de vida, seu valor agregado é maior", pondera.

Para Redondo, o conceito vai além dos computadores pessoais: a próxima geração de caixas eletrônicos produzidos pela empresa virá sem teclado, com menos eletrônica embarcada e produzirá menos sucata no fim do seu ciclo de uso. "Os equipamentos vêm com uma tecnologia 3D e o cliente não tem contato físico com a máquina para fazer as operações bancárias. É como jogar Wii ou Kinect", brinca.

A Itautec hoje é referência no assunto no Brasil e Redondo tem sido um dos maiores propagadores do conceito. "O tema é particularmente bem aceito por estudantes de engenharia, que já questionam aspectos bem específicos. Outro dia, me perguntaram por quê enviamos um novo cabo de força com cada computador se a maioria das pessoas já tem um, de sua máquina anterior. É um retorno bastante positivo", conclui.

A iniciativa da empresa de Redondo não é única no País. Atualmente, boa parte da produção nacional, que está nas mãos de empresas contratadas, já é bem menos agressiva ao meio ambiente, segundo Vanda Scartezini, que foi secretária de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. "Essas fábricas fazem produtos para exportação e precisam atender às demandas das leis locais", explica. Ela conta que sugeriu ao governo que crie incentivos para garantir que as empresas priorizem o ecodesign em eletroeletrônicos em geral.

Para Vanda, o melhor exemplo de como se tratar o lixo eletrônico vem da Europa. "Lá, o processo já está melhor estruturado", avalia, ponderando que nos Estados Unidos, a lei federal ainda não foi votada. No Japão, o processo tem sido dificultado pela forma como foi concebido. "Quando se compra um eletrônico no Japão, recebe-se um voucher para, ao fim da vida útil do equipamento, ir ao correio, pegar uma caixa, embalar o produto e retorná-lo ao fabricante. Algumas pessoas não podem fazer isso por limitações pessoais e outras simplesmente não querem fazê-lo", explica.

O Brasil estaria adiantado na adoção de uma política que cuide do lixo eletrônico, acredita Vanda, que foi consultora na elaboração da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - lei de 2010 que determina como indústrias e consumidores devem proceder quanto ao lixo eletrônico (entre outros). Aprovada no ano passado, a legislação tem até 2014 para ter ações implementadas, e no momento está sendo negociada com os segmentos envolvidos. "Espera-se que, até o fim de 2011, haja propostas formais para serem apresentadas para o Ministério do Meio Ambiente", prevê.

Fonte: Especial para Terra
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