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O valor do trabalho

25 jun 2016 - 20h08
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Hoje paguei R$ 360,00 a hora de um profissional. Paguei este valor na pessoa física, para um serviço que eu necessitei. Bom, na verdade paguei R$ 30,00. Por 5 minutos de trabalho. Chamei um chaveiro, pois a chave da minha casa quebrou dentro do miolo da fechadura. Cinco minutos foi tudo o que ele levou para retirar o miolo da fechadura, puxar a chave e devolver o miolo no lugar. "Armado" de uma única chave de fenda na mão! Ele poderia ter levado mais tempo, pelo menos para dar um ar de dificuldade, mas não, me olhou com aquele sorriso simples e decretou ao final do serviço quando perguntei quanto custou: "me deixa aí uns 30 pilas"!

Sim, porque quando alguém diz simplesmente "me deixa uns 30 pilas", significa que aquele dinheiro significa quase nada, para quem paga e para quem recebe. Mas enfim… A reflexão aqui é o valor dado ao trabalho. Qual empresa de tecnologia consegue vender seu trabalho a R$ 360,00 a hora? Sim, eu sei que existem multinacionais que cobram em dólar e que hoje se cobrarem U$ 100,00 dólares a hora estarão cobrando este preço. Às vezes cobram até mais. Mas qual empresa nacional consegue cobrar este valor hoje? E convenhamos, poucas empresas tem condições de pagar este preço. Mas eu, como pessoa física acabo de pagar este valor. Por que?

A área de tecnologia é altamente especializada, move o mundo hoje, mas todo dia temos que provar nosso valor, seja dentro da própria empresa, seja vendendo serviços a terceiros. Os questionamentos a respeito da qualidade do nosso trabalho, do alto custo que representa, do "altíssimo" valor/hora de nosso mercado são realidades irrefutáveis. Então, por que o mesmo pensamento não se aplica quando necessitamos de um serviço de um chaveiro, um eletricista, um pintor ou qualquer outro tipo de profissional que chega, executa um trabalho e vai embora? 

Talvez não haja uma resposta tão rápida, mas com certeza uma coisa que me vem à cabeça é o valor que será pago pela entrega de algo concreto e que gera valor imediato assim que recebido. Paguei R$ 30,00 em 5 minutos, mas enfim entrei em casa. Estes dias um eletricista me cobrou outros R$ 200,00 por 3 horas de trabalho (bem mais em conta não?), mas enfim, se fez luz em minha casa. É a famosa parábola do valor da martelada no prego certo! Assim que estes profissionais terminam seu trabalho o valor está ali, irrefutável, pronto para começar a dar o retorno esperado pelo contratante. Certamente se eu tivesse que contratar 1.000 horas deste chaveiro para entrar em casa eu não o faria!

Quando pagamos um profissional de Tecnologia por hora estamos contratando mão-de-obra, mas qual o valor exato que isto agregará ao negócio? Ah, ele participará de vários projetos importantes para a empresa que trarão retornos importantes. OK, quais? Quanto retornou? Se ele não estivesse ali e somente os demais trabalhassem faria uma grande diferença? Levamos 1.352 horas de trabalho porque era realmente necessário? Ou poderia ter sido feito em 1.137 horas?

Esta modalidade de contratação estes dias me foi comparada a mão-de-obra da construção civil, um mais exaltado me disse que éramos exatamente iguais: ele sabia quando um projeto começava, mas nunca sabia quando ia terminar, os insumos para desenvolvimento do "projeto" sempre faltavam e o valor da "obra" sempre estourava. E no final, bem, no final o retorno não se confirmava na mesma proporção do planejamento, assim como a obra de uma casa nunca fica exatamente como se idealizou. Podemos aqui abrir discussão paralela sobre o valor que um bom gerenciamento de projeto traz dentro deste cenário, mas convenhamos, nem sempre isto acontece, aliás, eu ainda acho que de maneira geral a maioria dos projetos não são tão bem coordenados assim. Fosse diferente e o mercado não poderia mais ter pensamentos como este.

Quantas vezes ouvimos falar daquele projeto de ERP, BI, CRM, que depois de anos não se confirmou?! Assim, penso que mesmo que a contratação seja por hora, devemos fixar objetivos concretos de entrega para o negócio, só assim começaremos a definir o real valor do que estamos fazendoNosso desafio é provar que todos aqueles anos na faculdade, toda nossa vivência dentro do negócio, todas as experiências técnicas que trazemos tem um valor inestimável para nossas empresas e clientes. Na mesma proporção que um chaveiro entrega de volta a chave da minha casa!

Eu poderia elencar outros pontos que demandam reflexão como a falta de definições, a dependência de otras áreas, etc, certamente o assunto não se esgota aqui, mas é um início. O debate está aberto!

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